𝟎.𝟒

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Me atende...

Azriel se levantou em um supetão, o peitoral descoberto e suado, consequência pelo sonho de vozes estranhas que havia o acordado. Suas sombras estavam agitadas, repetindo as mesmas palavras.
Havia algo errado, ele só não sabia dizer o quê.
Olhando para as janelas, as estrelas já começavam a sumir com a chegada do Sol. Suspirando ele saiu da cama e foi direto para o banheiro e, se apoiando na pia, encarou o espelho. O cabelo molhado quase escorria pela testa, e o resto de seu corpo não era muito diferente.
Sem nem pensar duas vezes, despiu-se da única peça de roupa que vestia, uma calça que pendia nos seus quadris, e então se direcionou para a banheira, que já se encontrava cheia.

O banho durou menos do que gostaria e mais do que pretendia. Estava atrasado, o sol já despontava no horizonte e haviam muitas coisas a serem feitas.

A visão de Elain... Quem está de volta? Quem gostaria de vingança?
Eram muitas hipóteses. Mais de 500 anos de memórias rondavam sua mente em suposições. A Corte Noturna colecionava um leque de inimigos, isso é fato. Mas com a cabeça conturbada pelos pensamentos, era impossível pensar.

Logo que saiu do banho, vestiu-se com uma simples camiseta e calça preta. Desceu as escadas em direção à sala de jantar, encontrando-a vazia, ainda estava cedo. Com a gravidez de Feyre avançando, todos estavam preocupados, o que resultava em muitas noites mal dormidas.
Rhysand era mestiço, metade illyriano, metade grão-feérico. Feyre era Feita, uma grã-feérica nunca antes vista. A preocupação era natural de se ocorrer, ninguém sabe realmente o que pode acontecer no decorrer da gravidez e até mesmo no parto. Segunda Madja, ela completaria 4 meses em breve, saindo do primeiro trimestre, e graças à Mãe, estava tudo correndo bem tanto para ela, como para o bebê.

Azriel suspirou, e sentou-se em seu lugar de costume, logo aparecendo em sua frente um prato generoso contendo carboidratos e proteínas. Um bom café da manhã para um bom guerreiro.
Enquanto comia, passos soaram no corredor, e levantando seu olhar viu Nestha, que sentou-se à sua frente para também fazer o desjejum.

Nestha. Certamente a irmã Archeron mais difícil de lidar. Mas Azriel a entendia, ou pelo menos tentava entender, diferente dos demais. Era complicado, antes que Feyre anunciasse a gravidez, Nestha quase nunca era encontrada em casa, mas sim, nos bordéis. Não importava o dia ou a hora, ela marcava presença aonde quer que houvesse algum vinho e machos dispostos a levá-la para cama.
Não era difícil, com os olhos azuis tempestuosos, cabelos de um tom de dourado escuro sempre enrolados num coque, ela chamava atenção. Agora, ela era mais vista em casa, mesmo não saindo muito do quarto, a maioria das vezes indo para a biblioteca ou para o quarto de Elain.

— Bom dia. — ele cumprimentou, seus olhos analisando os bolsões escuros debaixo dos olhos opacos da fêmea. Ela retribuiu o cumprimento com um murmúrio quase inaudível.
Na frente dela, um prato parecido com o de Azriel apareceu, porém em menos quantidade. Entretanto, ela sequer tocou na comida, só mexia de um lado para o outro com o talher.

Ele então, pigarreou para chamar a atenção da fêmea.

— Precisa comer. — foi direto ao assunto, sem titubear. — Daqui a pouco não terá nem forças o suficiente para levantar da cama.

— Não preciso que diga o óbvio e nem que mande o que eu deva fazer. — ela retrucou, a voz baixa e rouca.

Ele continuou com o olhar firme.

— Porquê? — ele perguntou.

— Porquê, o quê?

— Porque está agindo assim? — ela largou os talheres, que tilintaram no prato.

𝐂𝐨𝐫𝐭𝐞 𝐝𝐞 𝐋𝐚𝐜̧𝐨𝐬 𝐞 𝐌𝐞𝐦𝐨́𝐫𝐢𝐚𝐬 Onde histórias criam vida. Descubra agora