O quarto era escuro e frio. Parecia tão frio quanto o tempo lá fora. Asterin esfregava as mãos torcendo para que o atrito e sua própria respiração sejam o suficiente para mantê-la aquecida até o dia seguinte, quando, por sorte ou azar, ela solicitasse sua presença.A calça gasta de malha fina, que fazia par com uma blusa que se comparava do mesmo estado, ou até pior, não faziam o mínimo trabalho de aquecê-la naquele que julgou ser o pior inverno já passado em todos os seus dezenove anos. Encolhida no chão, perto da porta que emanava um calor mínimo pela lareira acesa no lado oposto ao quarto trancado, a garota tremia ao ponto de ter espasmos.
Naquele cômodo não havia muito que pudesse ajudar em seu estado, seu colchão, se é que algo naquele estado poderia ser comparado com um, era tão duro que havia dias que ela preferia dormir no chão. Travesseiros e cobertas? O que eram? Já se passavam como objetos desconhecidos para Asterin desde que sua existência fora descoberta, há alguns anos.
Ela era impiedosa, mas Asterin era preciosa demais para que a deixassem morrer. Seu dom era precioso demais.
O queixo de Asterin chacoalhava tanto que ela até tentava trincar a mandíbula temendo que o atrito contínuo pudesse quebrar seus dentes. Queria chorar, queria mesmo, mas de que adiantaria? Nada.
Ouviu o trinco da porta, mas até pensou em estar alucinando quando uma manta fina fora jogada em si, nada gentilmente, mas que no momento pareceu o paraíso. O sorriso trêmulo se abriu quando se embrulhou o máximo possível naquele pedaço de tecido, com os joelhos contra o peito, totalmente embalada contra a parade, ela conseguiu dormir.
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O sol de inverno era o pior, pois era ilusório. Logo pela manhã, pela pequena janela que ficava quase grudada ao teto, sendo impossível de alcançar, entrava uma luz que se assemelhava com algo caloroso. Asterin se remexeu, mas o mínimo movimento já fez sua nuca repuxar, o que contribuir para uma careta.
Preguiçosamente ela se levantou, ainda agarrada a mesma manta que a aqueceu minimamente durante a noite, indo direto para o banheiro, que apenas era limpo pois ela se dava o trabalho de limpar, assim como seu quarto, que mais se parecia com uma cela.
Com uma tira de tecido ela amarrou o cabelo no topo da cabeça. Deixando de lado as roupas, e mesmo sofrendo, começou a se lavar. A água gelada em contato com sua pele a fazia se arrepiar, já encarando a ponta dos dedos arroxeando.
Mais rápido do que poderia contar, ela terminou e se vestiu, ao mesmo tempo que a porta abria e revelava um sentinela qualquer, que para ela sempre eram iguais. Com o mesmo olhar malicioso e o mesmo sorriso nojento.
Manteve a coluna estirada enquanto se aproximava da porta aberta, encontrando um corredor que contrastava de diversos modos com o quarto que ela ocupa. Era quente, mas não acolhedor, ao mesmo tempo sem vida.
Seu braço foi puxado bruscamente e ela acompanhou o soldado trôpega enquanto ele a levava por diversos corredores, todos com pelo menos dois ou três homens em cada, até chegar de encontro à uma porta preta maciça.
O rangido esganiçado que fez quando fora aberta foi o suficiente para Asterin se encolher, mas o pior foi o que se encontrava do outro lado do salão, ocupado por mais pessoas do que poderia contar, homens e mulheres, todos com sorrisos arrogantes e olhares odiosos.
Em suas costas, as portas se fecharam, retirando por mais uma vez, a chance de uma fuga inútil.
Estava sendo arrastada até o outro lado pelo mesmo sentinela que a retirou do quarto até o trono de ferro enegrecido. A mulher que o ocupava sorria largamente, os lábios tão vermelhos quanto sangue, seu vestido aparentava uma falta no estoque de tecido, o decote era profundo, chegava a ser vulgar, além das fendas que deixava suas pernas de fora. O tecido do vestido brilhava, mas nada brilhava mais do que a coroa que esbanjava no topo de seus cabelos.
- Olá de novo, meu bichinho. - sua voz ecoou pelo salão, e, ao mesmo tempo que Asterin estremecia, Amarantha sorria.

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𝐂𝐨𝐫𝐭𝐞 𝐝𝐞 𝐋𝐚𝐜̧𝐨𝐬 𝐞 𝐌𝐞𝐦𝐨́𝐫𝐢𝐚𝐬
FanficHaviam se passado cerca de cinquenta anos após a batalha contra Hybern e a queda da Muralha que dividia o mundo mortal do imortal. Os Humanos dos feéricos. Desde então, a vida do círculo íntimo estava pacata, assim como de todo o continente, graças...