Oie, vamos de mais um capítulo? Espero que gostem. Não esqueça de votar e comentar.
A casa estava totalmente escura e silenciosa. Já era final de tarde e eu nem sequer havia notado as horas passarem. Estava concentrada em escrever o primeiro capítulo da minha nova história. E não era uma metáfora, era real. Eu estava colocando na tela todas as coisas as quais eu passei nesses últimos dias. Era doloroso, mas necessário.
Eu havia começado a escrever há pouco mais de um ano. Tudo começou despretensiosamente quando estava no hospital com a Raquel. Tinha acabado de ler um livro que odiei o final, pensei que faria tudo diferente, eu comentei isso com algumas amigas do grupo de leitura que participava. Então uma delas me disse: "Por que não escreve um livro?". E foi aí que uma vontade há muito tempo escondida despertou. Eu já tinha algumas histórias escritas e guardadas a sete chaves, mas nada como o primeiro livro que resolvi mostrar para o mundo. Esse era quente, tinha cenas eróticas as quais eu sempre sonhei viver com um certo homem. Eu adorava escrever sobre o toque, o cheiro, as sensações que o ato sexual causava nos personagens, sensações que experimentei uma única vez na vida, embora não tenha sido algo tão intenso, pois não passou de amassos bobos, mas através das minhas personagens eu podia sentir, viver, viajar. Foi maravilhoso descobrir que tinha realmente dom para a escrita, fiz um pseudônimo e com a ajuda de algumas amigas virtuais eu lancei o meu primeiro livro.
Fiquei imensamente feliz com o primeiro comentário que recebi e com os outros que foram surgindo depois. Era incrível como as leitoras amavam o que eu escrevia. Quando lancei o segundo livro foi ainda mais satisfatório, ganhei uma quantia considerável de dinheiro o qual guardei no banco, em uma conta que o Juarez não fazia ideia que existia, era com esse dinheiro que eu ajudava a Raquel. Não era pelo dinheiro que eu escrevia, era para fugir da minha vida chata, vazia e sem sentido. Era para colocar para fora o amor reprimido que eu guardava no peito. Eu me sentia um pouco estranha de esconder isso da minha irmã, uma coisa tão boba, mas meu rosto queimava só de pensar em alguém que eu conhecia lendo o que tinha escrito.
Eu sempre criava o que gostaria de viver, essa era a primeira vez que colocava algo particular nos meus textos. A minha personagem estava vivendo o mesmo que vivi no isolamento e isso estava me causando uma dor terrível, pois ao recordar tudo que passei eu sentia e vivia novamente. Quando comecei a relatar os abusos que sofri, percebi que eles não eram recentes, não sofri a violência apenas no primeiro tapa, mas muito antes das agressões físicas começarem.
Era sutil, quase imperceptível, elas vinham em forma de acusações, críticas, palavras que machucavam, que me colocavam para baixo, que me fazia sentir culpada. Como da vez que Juarez comprou uma calça jeans para mim com um número menor do que eu vestia, eu disse que não usava 36, e sim 38, ele olhou com desdém e falou que só assim eu ia resolver emagrecer, pois estava ficando gorda feito uma porca capada, era bem capaz de nem a 42 servir com o tamanho gigante que a minha bunda estava. Foi aí que passei a fazer dieta para me encaixar nos padrões que meu marido exigia, mesmo Raquel e Juliana dizendo que eu não precisava de nada daquilo, eu não disse a elas o motivo. Quando consegui entrar no maldito jeans 36, ele disse que eu estava parecendo um cadáver humano, odiava tocar em mim quando eu estava pura pele e osso.
Ele criticava os cachos do meu cabelo, preferia quando eu os alisava e os deixava escorridos, e que os mantivesse compridos. Ele reclamava das minhas roupas, dizia que eu parecia uma velha, mas quando eu tentava mudar, reclamava que eu estava parecendo uma puta fácil de esquina. Eu não sabia mais o que fazer para agradar. E eu ainda tentava porque me sentia culpada pelo que havia feito no passado.
Fechei os olhos com força e respirei fundo. Finalizei o capítulo e desliguei o notebook. Fiquei no escuro olhando para o teto me lembrando dos últimos acontecimentos com tristeza.
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Surpresas da Vida - Degustação
ChickLitSinopse: "Pode ter passado cinco anos, mas ainda sinto. Lembro-me de cada toque, de cada palavra dita, de cada promessa proferida. Mesmo que eu prefira esquecer." Renata é inteligente, determinada, apaixonada e cheia de segredos. Ela é mestre em esc...