Foi na torre da Grifinória que Hermione passou o resto do dia, encarando a nevasca horrível se bater contra a janela lá fora. Ela pensou em ir à biblioteca terminar seu trabalho, mas não quis correr o risco de encontrar Malfoy antes da hora.
Ela ainda não sabia como se sentia em relação àquela trégua. Quanto mais pensava no assunto, mais em dúvida ficava. Era de Malfoy que estava falando, por Godric! O garoto a despreza, achava que era superior aos nascidos outras, e ostentava sua riqueza pra fazer os outros se sentirem um lixo.
Sempre havia enxergado Malfoy como uma fortaleza impenetrável, mas hoje cedo Hermione conseguiu olhar pelas rachaduras e descobriu um garoto assustado. Ele estava sendo chantageado a fazer alguma coisa que não queria. Mas o quão ruim podia ser? Talvez por ser mimado demais pelos pais, Draco tivesse uma tendência exagerada para o drama. Quer dizer, era uma guerra de supremacia, uma luta pelo poder. Que valor um garoto de 16 anos podia ter para você-sabe-quem?
Fosse a situação grave ou não, Hermione não tinha dúvida sobre o que viu nos olhos dele: desespero e dor. Ele estava perdido. Tão perdido que de todas as pessoas do mundo ele veio pedir ajuda a ela.
E ela foi louca o suficiente para aceitar. Como poderia não aceitar com aquele comentário sobre torre da ala leste? Será que ele falou sério? Ele ia mesmo se...? Um arrepio percorreu sua espinha só de pensar. Esses pensamentos ainda a assombravam conforme seguia para o jantar, onde encarou Malfoy do lado oposto da mesa, a uma distância segura dela.
— Atenção, alunos – disse professora Minerva chamando os presentes e se posicionando em frente à mesa dos professores com sua postura rígida de sempre. – Quero informá-los que devido a nevasca, ninguém tem permissão para sair do castelo até segunda ordem, nem mesmo para ir a pátios e jardins.
Talvez eu não devesse ir, Hermione pensou consigo mesma, nem um pouco preocupada com o discurso da professora.
É claro que não abandonaria Draco no estado em que estava, mas ela podia avisar um dos adultos, e deixar que eles cuidassem do assunto. Ela podia simplesmente não comparecer ao encontro, e voltar ao seu plano original de aproveitar o feriado como um tipo de retiro espiritual: relaxar e colocar a cabeça de volta no lugar.
Mas assim que viu Malfoy se levantando e indo em direção à sala, ela fez o mesmo, um minuto depois, para não dar muito na cara. Pelo visto, ela era mais curiosa do que imaginava. Malfoy esperava por ela sentado em cima da mesa do professor e foi só agora que Hermione reparou no lugar. Foi ali que eles tiveram a aula de Defesa Contra Artes das Trevas do segundo ano com Gilderoy Lockhart. Um pedaço da veste rasgada de Neville ainda estava pendurada no lustre.
— Você veio – ele falou encarando o lustre junto com ela.
— Pensei em não vir – ela respondeu sincera e esperou que ele a repreendesse, mas ele ficou calado. - Então, acho melhor estabelecermos algumas regras antes disso começar.
— Claro que você sugeriria isso – Draco riu, desdenhando de seu comentário.
— Regras vão nos ajudar a manter as coisas na linha – Hermione explicou. – É bom que estejamos em acordo.
— Que seja. O que tem em mente? – ele perguntou.
— Bem, primeiro manter isso em segredo como você já comentou – ela disse já se posicionando com um giz em frente a lousa, onde escreveu a regra número 1.
— Ótimo – ele concordou, se abstendo de comentários engraçadinhos conforme ela escrevia. – Regra 2: as coisas devem voltar ao normal quando as aulas recomeçarem.
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A Trégua: Um conto Dramione
Short StoryHermione vai passar o Natal em Hogwarts, por circunstâncias que fogem de seu controle. O castelo está depressivo, com a sombra do retorno de você-sabe-quem pairando sobre a cabeça de todos. O que ela não esperava, porém é que Malfoy também tivesse d...