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Meu quarto está uma completa bagunça.

Há livros e papéis espalhados pela cama e escrivaninha, além de roupas e sapatos jogados pelo chão. A situação está tão crítica que eu, que conheço cada milímetro, me perderia no meu próprio quarto. Durante o dia, eu tentei colocar algumas coisas no lugar, mas parece que quanto mais coisa eu coloco no lugar, mais coisa parece brotar do chão, tornando uma tarefa simples, muito exaustiva.

Algumas batidas na porta do meu quarto me fazem dar um pequeno sobressalto na cama e me obrigam a sentar no mesmo instante. Espreguiço-me lentamente, antes de responder:

"Pode entrar" falo alto, quase gritando.

"Espero não estar te incomodando" Harry fala, colocando a cabeça na brecha da porta semi aberta.

"Você nunca foi e nem será um incômodo" respondo-o, endireitando-me na cama.

"Huh... bem... eu gostaria que você... hm... viesse ao hospital comigo hoje" suspira alto e me encara por longos segundos, antes de continuar "Se você puder, eu ficaria imensamente agradecido. Ainda não consigo ir sozinho e nem digerir muita coisa que está acontecendo."

"Eu ficaria mais que feliz em poder te acompanhar, se é isso que deseja" levanto-me rapidamente da cama e calço o primeiro par de sapatos que aparece à minha frente.

"Eu andei pensando muito sobre o que você me falou da última vez" suspira exaustivamente, como se a confusão de pensamentos em sua cabeça estivesse o esgotando lenta e dolorosamente "Eu não posso deixar de lado as outras crianças. Kim me odiaria se estivesse vendo o que eu fiz nas últimas semanas."

"Você não pode se culpar por isso, Hazz. Cada um se recupera de formas diferentes e Kim sabia muito bem disso. Não tem como tornar a dor mais suportável de um dia para o outro" caminho até ele e passo a mão em seu queixo. A barba por fazer arranha as pontas dos meus dedos.

"Mas eu sei que passou da hora e eu quero voltar à minha rotina como era antes, mesmo que Kim não esteja aqui para me acompanhar ou que eu não esteja totalmente preparado."

Pensando bem, não sei se é uma boa ideia levá-lo onde as lembranças são mais frescas e persistentes. Sem a alegria de Kim, o hospital pode não ser a mesma coisa que antes para Harry, mesmo haja muitas crianças trazendo luz e esperança como ela sempre fez.

Não há como negar que as crianças sentem sua falta. Nas duas vezes que eu fui ao hospital sozinha, a maioria delas estavam entristecidas e muitas delas queriam a presença de Harry novamente junto a elas, me perguntando várias vezes quando ele iria voltar e cantar, infelizmente eu não tinha resposta para nenhuma das perguntas infinitas.

Harry caminha silenciosamente à minha frente e eu sei que ele está em um estado de limbo iminente entre enfrentar um fantasma ou voltar para seu quarto como um garotinho perdido, no entanto, ele quer transparecer que está tudo bem e eu bem sei como isso é, porque eu passei por momentos extremamente parecidos. Eu sei muito bem como é essa sensação devastadora no peito, te consumindo todos os dias, fazendo todas as coisas que você amava perderem totalmente o sentido e a cor.

"Você tem certeza?" pergunto a Harry quando entramos no carro.

"Tenho" afirma sem nenhuma convicção, segurando firmemente o volante nas suas mãos.

Harry demora alguns minutos para ligar seu carro e respira fundo diversas vezes, como se o oxigênio, de alguma forma, trouxesse coragem para enfrentar o furacão devastador em seu peito.

Eu ligo o som do seu carro, deixando Nirvana soar em um volume baixo e Harry liga o carro, começando a dirigir pelas ruas de Cambridge até o hospital. Harry está ao meu lado o caminho inteiro, mas eu sinto como se a mente dele estivesse em outra dimensão.

A viagem de poucos minutos parece durar horas. Mesmo criando coragem, ele ainda está receoso quando estaciona o carro e espera alguns minutos para finalmente sair dele. Esperando a coragem que ficou em casa voltar para seu corpo novamente.

Harry encara a fachada do hospital como se fosse a coisa mais dolorosa do mundo e caminha decididamente até o saguão, sustentando uma segurança que ele mesmo e todos ao redor sabem que é uma fachada.

Amélia sai de trás do balcão e sua feição fica surpresa ao ver Harry parado com um violão em mãos. Em poucos segundos, ela caminha em nossa direção e o abraça fortemente como se não tivesse visto ele há mais de cinco anos.

"Oh, meu Deus, Harry!" exclama "Onde você esteve todo esse tempo?"

Harry abre um sorriso torto, antes de retribuir, surpreso, o abraço saudoso dela. Ele não imaginava a imensidão da falta que estava fazendo esse tempo distante.

"Eu... precisei de uns dias para me recuperar antes de voltar."

"O hospital inteiro sentiu a sua falta" fala, soltando Harry do ser aperto "Por favor, querido, não nos deixe outra vez. Você é a luz do nosso hospital!" implora com os olhos marejados em lágrimas contidas.

"Eu não vou deixar" afirma e pega dois dos crachás de visitantes que estão posicionados em cima do balcão.

Harry e eu caminhamos por alguns corredores imensos até a sala em que as crianças estão hoje. Quando a presença dele se torna presente na sala, Dean, a primeira criança a vê-lo grita:

"Harry!" levanta da cadeira em que estava sentado e corre em direção a ele, o sufocando em um abraço aconchegadamente apertado.

As outras crianças imitam o movimento dele e abraçam Harry fortemente, derrubando-o no chão, como se ele fosse fugir a qualquer instante ou uma miragem em um deserto.

Harry não consegue segurar por muito tempo e seus olhos começam a transbordar lágrimas como duas cachoeiras. As crianças não se soltam e ele as abraça de volta o tanto que consegue.

"Por que você não voltou, Harry?" Dean pergunta com os olhinhos tristes "Foi por causa do que aconteceu com a Kim?"

Harry respira fundo antes de responder:

"Ei, garotão, não precisa se preocupar!" exclama, abrindo um sorriso "Eu não vou mais embora."

Olá, meus lindos raios de sol! Como vocês estão?

(Ps: Oi, Clarisse! Você ainda está lendo aqui?)

Espero imensamente que tenham gostado do capítulo.

I love u all, L szszszzszszs

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⏰ Última atualização: Dec 01, 2021 ⏰

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