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As nuvens negras carregadas cobrem todo o céu azulado, fazendo alguns estrondos assombrosos de trovões soarem por toda cidade. A rua pouco arborizada está escura, com aparência noturna, embora não passa das quatro da tarde.

Carros correm nas ruas asfaltadas irrefreavelmente, jorrando água por todo lado, enquanto o cheiro familiar de terra molhada paira no ar quase congelante da mediana cidade universitária de Cambridge.

As primeiras gotas finas da chuva começam a cair, fazendo algumas pessoas andarem mais rápido e me ultrapassarem, mas eu continuo no meu ritmo. O clima chuvoso é o meu favorito, então eu sinto como se estivesse sendo bem recebida em meu primeiro dia em Cambridge.

As ondas de ansiedade rondam por cada célula do meu corpo, fazendo-me ficar mais nervosa que já estava. Está sendo martirizante o sentimento de saudade habitado em meu peito. As lágrimas insistem em querer rolar pelo meu rosto, mas eu me contenho. Embora minha aparência física demonstra felicidade, dentro de mim está um completo caos; uma mistura dolorosa de sentimentos indescritíveis.

O prédio enorme à frente me deixa desconfortável, porque não é nada parecido com a casa pequena e aconchegante que morei até agora. Confiro o papel com o endereço em minha mão novamente, para garantir que é o prédio certo e perder mais um pouco do tempo que ainda me resta. É incogitável a ideia de voltar para casa e continuar minha vida pacata de antes.

A mala de rodas está extremamente pesada, mas Louis, meu irmão mais velho, não pôde sair da faculdade tão cedo para me ajudar e seu melhor amigo não atende o celular. Então, no momento, tenho que me virar para puxá-la desajeitadamente até a entrada.

"Boa tarde!" digo ao porteiro. O bigode farto e pouco branco, a aparência cansada, corpo corpulento e a falta dos cabelos são as coisas mais marcantes em sua aparência "Sou Bridget, a irmã do Louis" sua expressão suaviza ao ouvir o nome do meu irmão e um meio sorriso singelo surge em seus lábios franzidos.

"Seja bem-vinda, Bridget!" responde de forma sutil "Seu irmão me avisou mais cedo que viria e deixou as chaves" ouço as chaves tilintarem quando ele as pega e se levanta da cadeira para me entregá-las "Sou Ian, um dos porteiros e síndico do prédio" me entrega as chaves do apartamento pela brecha do portão.

"Obrigada, Ian!" respondo e ele abre o portão da entrada para que eu possa entrar, fazendo um barulho alto de metal enferrujado "É um prazer te conhecer."

"Parabéns pela admissão em Cambridge. Ouvi dizer que é a melhor universidade do Reino Unido" ele passa as mãos nos bolsos frontais da calça preta, depois de fechar o portão "Minha filha mais velha passou em advocacia semestre passado. Estou tão orgulhoso dela" consigo ver seus olhos brilharem na menção da filha "Tenho dado tão duro no trabalho nos últimos anos para ajudar em tudo o que ela precisar."

"Você é um pai de sorte!" afirmo sorrindo docemente.

"Obrigada" seu sorriso se alarga, antes dele voltar a se sentar

Desvio minha atenção dele para o apartamento à minha frente. A aparência da fachada é surpreendente. A cor alaranjada misturada a um marrom caramelado dos tijolos de fora é marcante e viva de forma antiquada e maravilhosa. As janelas têm as bordas de madeira pintadas em branco e o meio é coberto por vidro, combinando com a cor da parede. Há, no máximo, quinze andares. Louis disse por mensagem que o nosso é o último.

Caminho com dificuldade pelo caminho estreito de cimento entre o gramado esverdeado e molhado da entrada até o saguão vazio. O som dos meus sapatos ecoa por todo saguão à medida que caminho até o elevador de metal. Aperto o botão para chamá-lo e aguardo ansiosamente.

Quando o elevador abre as portas, eu entro e coloco minha mala no canto. Levanto minha mão vaga para apertar o botão do décimo quinto andar.

"Espere" alguém fala alto do lado de fora do elevador e eu aperto o botão antes das portas se fecharem.

Bedroom on fire | H.SOnde histórias criam vida. Descubra agora