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A ideia de começar a faculdade amanhã é descomunalmente assustadora.

Antes de deitar, deixei tudo devidamente arrumado para o primeiro dia de aula. A questão é que o fato de que passei na faculdade que almejei durante todo o ensino médio parece irreal. Parte de mim se imagina acordando no quarto de paredes roxas e cheios de ursos de pelúcia, cenário saudoso pela qual passei toda minha infância e adolescência.

A ansiedade ronda as células do meu corpo de maneira brusca nesta madrugada, fazendo meu coração palpitar um pouco mais rápido que o comum. Acabei perdendo a conta de quantas vezes virei na cama a procura de uma posição agradável para dormir, mas todas elas eram desconfortáveis, como se alguém tivesse colocado várias pedras no colchão.

Frustrada, puxo a coberta quente e aconchegante de cima do meu corpo. Caminho silenciosamente e em passos curtos até a cozinha, na esperança de que um pouco d'água faça o sono voltar ou ajude a controlar a ansiedade.

Abro a geladeira e pego a jarra de água e o copo de vidro em cima do balcão. Despejo a água no copo e coloco a jarra de volta na geladeira, antes de fechar a porta.

Sento-me no mármore da bancada da cozinha e deixo o copo ainda cheio de água ao meu lado. Fecho meus olhos fortemente e suspiro alto tentando acalmar os nervos. Minha ansiedade torna tudo tão complexo. Felizmente, Paige sempre esteve comigo para me ajudar a controlá-la. Hoje, no entanto, tenho apenas o aperto incessável no peito.

Paige sempre sabia sempre quando eu não estava bem ainda que ninguém mais imaginava o buraco negro que sugava tudo dentro de mim. Então sentávamos no jardim em silêncio e observavámos o céu até eu me sentir bem para contar a ela tudo o que estava acontecendo. Sinto falta da nossa sintonia. Paige era tão sábia quanto minha avó e tinha os melhores conselhos que alguém poderia dar.

"Brid?" escuto a voz de Harry soar na porta da cozinha, fazendo-me dar um sobressalto na bancada. Não estava esperando companhia a essa hora "Está tudo bem?" abro os olhos rapidamente e levo a mão próxima ao peito.

A luz da cozinha continua desligada e Harry parece não se importar em continuar dessa forma. A iluminação precária que provém do lado de fora do apartamento deixa a desejar, porque só consigo ver sua silhueta como uma sombra.

"Sim" afirmo e abro um meio sorriso para espantar o desconforto, embora não tenho certeza se ele consegue ver "Mal entrei na faculdade e ela já consome minhas noites" Harry sorri, soltando uma lufada de ar pelo nariz e abre a geladeira, dando-me o vislumbre rápido do seu corpo quase nu e algumas tatuagens em suas costas definidas. A cueca box colada molda absurdamente bem seu traseiro. A imagem é como colírio para meus olhos e eu não consigo desviar o olhar.

"Você tem que relaxar" responde antes de levar o copo aos lábios.

Começo a observar, em câmera lenta, seus lábios entreabrirem ao levar o copo de vidro aos lábios e aproveito que ele não está olhando para observar seu corpo quase sem roupas para dificultar a visão.

Quando Harry coloca o copo na pia, ele se vira para mim de repente, pegando-me desprevenida mais uma vez. Seus lábios curvam-se mais para o lado esquerdo, ainda mais sexy que das últimas vezes, e eu sinto minhas bochechas miseráveis queimarem, sucumbindo ao desejo que estou tentando reprimir desde que Louis me apresentou a ele como seu melhor amigo.

Se ele soubesse um terço do efeito que causa em mim quando sorri e me olha dessa forma, talvez fizesse com moderação. Minha pele inteira formiga e meu coração está em um ritmo frenético.

Balanço minha cabeça, tentando espantar todos os pensamentos sórdidos que estão me rondando e me forço a concentrar em nossa conversa como se nada tivesse acontecido, mas seu corpo escultural é uma terrível distração e eu estou me sentindo como uma adolescente no auge da puberdade.

"Tenta conversar com minha ansiedade. Talvez ela te compreenda."

Harry fecha a porta da geladeira e logo em seguida caminha até uma das cadeiras vazias, sentando-se nela.

"E então, o que você cursa?" arqueio as sobrancelhas, tentando ignorar o fato de que ele está com poucas roupas e agradecendo ao fato de agora estar escuro, impedindo-me de ter o vislumbre do seu corpo a poucos metros de distância.

"Medicina" responde e eu sinto um leve tom de excitação em sua voz, como se medicina fosse tudo o que ele sempre quis "Estou cursando o penúltimo semestre, e você?"

"Nada tão primordial quanto medicina. Literatura inglesa."

"Não precisa exaltar meu curso e diminuir o seu. Cada curso tem sua importância" consigo ver, pela má iluminação do cômodo, os músculos de Harry se moverem, enquanto ele move seu braço na mesa para alcançar seu celular "Antes fazer o que você ama a ter que viver fadado a um curso que não te interessa."

"Como tem tanta certeza que eu gosto do meu curso?" arqueio as sobrancelhas.

"Não acho que escolheu Literatura inglesa por acaso. Seus inúmeros livros na imensa prateleira do seu quarto dizem muito mais sobre você do que imagina."

"Boa perspectiva" hesito, mordendo meu lábio inferior antes de continuar "Eu amo o curso e nunca me veria em outro, mas às vezes me pego em um um estado de limbo cruél."

"Você não sabe se é o curso certo?"

"Eu sabia que era o curso certo desde o ensino médio" afirmo, desta vez sem hesitar "Mas a saudade de casa e da minha família. Talvez se eu ajudasse meu pai no comércio ou..." Harry me interrompe.

"Todos nós estamos longe de casa, Brid. Cada estudante precisou sair das asas dos pais para poder voar livremente. É uma consequência da vida cheia de responsabilidade que temos que arcar."

"Você tem razão" suspiro, dando-me por vencida. A ideia de voltar pra casa é incogitável "E você, por que está acordado tão tarde?" troco de assunto, evitando falar sobre minha família.

"Não consigo dormir" desbloqueia o celular, iluminando precariamente seu rosto e começo do seu peitoral.

"Tem medo do escuro?" pergunto com a voz carregada de escárneo e arqueio as sobrancelhas. Harry levanta levemente os lábios em um meio sorriso.

"Não por escolha."

"É muita ousadia minha perguntar o motivo?" tenho encorajá-lo a continuar, mas ele bloqueia a tela do celular e se levanta, fazendo a cadeira arrastar no chão com um barulho mediano e ignorando minha pergunta.

"Acho melhor voltar para cama" pigarreia, antes de mudar de assunto. Desço da bancada e caminho em passos curtos até a pia.

Não quero pressioná-lo a falar algo que ele não queira ou não se sinta confortável em compartilhar, por isso não insisto no assunto. Ele também não sabe o motivo da minha insônia e eu não estou aberta para compartilhar tão cedo. Prefiro manter o assunto recluso dentro de mim a ter que compartilhá-lo com alguém, talvez assim a ferida se cicatrize mais rápido.

"Vou tentar dormir também" coloco o copo na pia "Caso contrário, não sei se conseguirei ficar acordada no primeiro dia de aula."

"Você deveria dormir um pouco. Primeiros dias são um pouco exaustivos e longos" caminha até a porta da cozinha "Durma bem, Brid!"

"Você também, Harry" escuto seus passos soarem no corredor dos quartos e a porta se fechar, antes do silêncio tomar conta do apartamento.

Fico mais alguns minutos na cozinha, antes de ir para o meu quarto.

O relógio em cima do criado mudo mostra que ainda são três horas quando me deito novamente na cama. Grunho alto e completamente irritada e cubro meu rosto com o cobertor, porque não há nenhum indício de sono em meu corpo.

Perdi as contas de quantas vezes eu acabei passando a noite inteira em claro com a ansiedade me corroendo e agora as cenas, não só do elevador, mas da cozinha também se repetem em minha mente como se quisessem me torturar, prolongando ainda mais minha insônia.

Algo me diz que os dias serão longos e eu não sei se estou pronta para tal.

Oiiiiii! Como foi o São João de vocês?

Não deixem de ler Famous, minha outra fic (completa) com o Harry, tá?

Espero que gostem!

I love you all, L <3

Bedroom on fire | H.SOnde histórias criam vida. Descubra agora