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O elevador está interditado.

Leio mentalmente a frase escrita em vermelho com letras grandes na placa branca, no meio da porta do elevador. A corrente grande e pesada que colocaram impedem qualquer pessoa de encostar, pelo menos um metro, da porta do elevador.

Reviro os olhos bruscamente, sentindo-me exausta apenas por imaginar subindo e descendo os degraus até o meu andar. A ideia de desistir e voltar para o apartamento nunca foi tão tentadora. Não sou o tipo de pessoa que reclama recorrentemente quando algumas coisas não dão certo. Ultimamente, no entanto, tenho reclamado de tudo. Parece que quando estou triste e frustrada, o universo começa a conspirar contra mim. A única explicação lógica que consegui formular até agora, embora ainda pareça irreal.

Fecho a porta do apartamento, enquanto termino de vestir a manga direita do sobretudo e começo a caminhar na direção das escadas.

Harry disse, logo quando nos conhecemos, que o elevador não costuma parar com frequência, mas desde que cheguei, é a segunda vez que ele para. Estou frustrada, enquanto caminho até o final do corredor e coloco as chaves dentro da minha bolsa. Nada tem ocorrido como planejei.

Louis, com muita relutância, me emprestou as chaves do carro para que eu pudesse encontrar com Lillian e Rachel. Lillian está ensaiando diariamente há meses para o festival que vai acontecer na universidade semana que vem. Agora que acha que está indo bem, ela quer ter uma pequena plateia para prestigiar e opinar sobre seu talento.

Ao me virar para descer os degraus, esbarro com um corpo sentado nos degraus da escada. Os cabelos encaracolados não conseguem esconder que é Harry. Seus braços estão escorados nos joelhos, enquanto sustenta um olhar vago para um ponto fixo no final da escada.

"Harry?" chamo-o confusa e ele vira o rosto para mim.

Seus olhos estão avermelhados e inchados como se tivesse chorado por muito tempo e sua boca está seca. A tristeza praticamente escorrendo dele e inundando toda a escada longa.

"Oi, Bridget" ele fala, ostentando o tom lamurioso em sua voz carregada.

"Está tudo bem?" pergunto, atrevendo-me a sentar ao seu lado "Sei que nos distanciamos muito nos últimos dias, mas ainda somos amigos e moramos no teto. Não precisamos manter tanta distância."

Encolho-me, colocando as mãos sobre meus joelhos. Estamos mais próximos fisicamente que a semana inteira. Constatar nosso afastamento em voz alta faz com que meu coração se aperte um pouco mais. Era para ser apenas uma diversão em Londres, mas olha onde chegamos.

"Os dias têm sido longos e exaustivos desde que Kimberly ficou internada" suspira alto e eu o escuto atentamente. Harry não é um cara que fala sobre seus sentimentos abertamente e eu sou privilegiada por ele confiar em mim e me contar "Ainda não tive notícias dela desde a última vez que a visitamos."

"Por que você ainda não foi vê-la?" questiono e coloco uma mão em seu ombro, tentando confortá-lo.

"Tenho medo de encontrá-la pior do que encontramos na última vez" admite "Eu senti que ela estava morrendo lentamente... Ela estava sofrendo tanto. Eu... Eu..."

Deixa a frase vaga, provavelmente porque ele não quer admitir em voz alta e prolongar seu sofrimento. Quando ele me encara com um olhar mórbido, transbordando confusão e melancolia, meu coração se quebra no meio e eu faria qualquer coisa para trazê-lo à vida novamente, para dá-lo um pouco de paz.

"Harry..." falo, seguido por um suspiro "Eu sei que é difícil encarar a realidade de frente quando se trata de algo ruim, mas eu sei que Kimberly, independente do estado em que se encontra, queria você do lado dela."

Bedroom on fire | H.SOnde histórias criam vida. Descubra agora