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No final das aulas, os corredores da universidade ficam lotados.

Estou passando por algumas pessoas com muita dificuldade e minha mochila deve ter esbarrado em algumas delas, enquanto tento chegar à saída. Os corredores estreitos e a quantidade de pessoas dificultam minha caminhada.

"Você deveria estudar mais, Brid" Harry adverte em tom zombeteiro, me surpreendendo com sua chegada repentina. Quando viro minha cabeça para olhá-lo, percebo que ele está contendo o sorriso com os lábios recém presos entre os dentes, enquanto seus olhos brilham.

Seus olhos têm algum tipo de força vigorosa que me puxam sempre para perto e não me fazem querer desviar a atenção deles. Estranhamente, não me sinto tímida ou receosa de encará-los tão de perto ou intensamente, só consigo me sentir reconfortada com um sentimento de aquecimento crescente no peito acompanhado de um suspiro baixo. Sensações iminentes que eu não consigo frear.

"Considerando que foi você que deu a ideia de fazer o trabalho mais tarde, deveria sentir uma parcela de culpa" zombo com um sorriso brincando em meus lábios, enquanto coloco as mãos nos bolsos do meu sobretudo.

O lado ruim de tudo isso é não ter contato físico quando há pessoas por perto. Sinto vontade de tirar os fios rebeldes dos seus cabelos dos olhos ou segurar firme nossas mãos, arranjando uma desculpa para sentir sua pele febril em contato com a minha. Pensar sobre isso faz um suspiro sôfrego provir dos meus lábios.

"Isso não pesa sua consciência?" continuo.

"Humm..." Harry fala com a voz arrastada, dando um sorrisinho malicioso como se não sentisse culpa ou se arrependesse do que tínhamos feito. Que bom! Eu também não me arrependo nem um pouco.

Falar com Harry todos os dias faz com que o aperto em meu peito se folge cada vez mais e eu me pergunto como é possível. Desde que Paige morreu, é a primeira vez que isso acontece e eu me sinto leve e livre da dor que parecia incessavel no peito por algum tempo. O problema é que, quando estou sozinha, ela volta. Ela sempre volta e eu nunca sei como controlá-la.

Estar com Harry me faz sentir uma pessoa que nunca se encontrou com um passado doloroso. Eu sinto que estou começando a superá-lo e isso é tão bom.

Estamos em uma distância razoável, mas meu eu interno almeja por uma distância mais imprudente. Cada vez que eu penso mais sobre isso, mais eu desejo, e quanto mais eu desejo, mais eu me recrimino por estar atravessando as barreiras que criamos em um ciclo interminável. Eu não posso atravessá-las.

"Brid" escuto a voz de Liam soar atrás de nós e ecoar por todo o corredor. Afasto-me um pouco de Harry em um lapso de cinco segundos.

"Liam!" exclamo surpresa.

"Você vai à biblioteca hoje?" pergunta e eu franzo as sobrancelhas em confusão "Terminar o trabalho com as garotas" completa.

"Não" respondo "Adiamos para amanhã."

"Certo" Liam fala e olha para Harry por alguns segundos, examinando da cabeça aos pés "Estou indo."

"Até amanhã" Liam acena para mim, ignorando a presença de Harry.

"Então..." Harry começa, deixando a frase vaga por alguns segundos "Liam é..." continua e eu franzo o cenho, antes de interrompê-lo.

"Liam é um amigo que fiz na faculdade" respondo.

"Louis sabe desse detalhe peculiar?" pergunta em um tom claro de desconfiança, enquanto coloca a mão no queixo.

"Por que deveria?" continuo com o cenho franzido e não consigo entender onde ele quer chegar "Louis não precisa saber de tudo o que acontece comigo e, mesmo se soubesse, ele não tem nada a ver com minhas escolhas de amizade."

Bedroom on fire | H.SOnde histórias criam vida. Descubra agora