4. Rebeldia

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Henrique Bertholdi

Nascer em uma família mafiosa não era algo tão comum, conhecer o seu próprio pai depois de anos e ter uma mãe que biologicamente era sua tia era uma total loucura. Mas não trocaria nenhum detalhe, principalmente porque tive todo o amor e carinho possível. Ganhei uma irmã no processo e amigos realmente valiosos, não poderia reclamar absolutamente de nada. Eu sou apaixonado pela vida, pela arte e principalmente por cantar.

Não podia negar o quanto minha vida estava uma verdadeira confusão, eu era o sucessor de Lorenzo Bertholdi na Nostra Onore. Mas ninguém havia me perguntado se isso era realmente o que eu queria, porque no fim das contas não era nada disso que gostaria de fazer pelo resto da minha vida. Eu não tinha talento pra liderar, coagir ou amedrontar ninguém em nome de leis mafiosas que eu nem se quer acreditava. Gostava mesmo era de cantar, dedilhar canções em meu violão e usar a minha voz para encantar as pessoas. Era sensível demais pra qualquer tipo de violência, essa era a minha essência.

Além do mais estava noivo, de alguém que não possuía o mínimo de cumplicidade ou se quer sentimento. Bianca Ricci era linda, mas que possuía atitudes fúteis e que em nada combinava com quem sou. Eu não sentia nada por ela, apenas respeito e carinho por ter crescido ao seu lado. Nossos pais eram amigos de vida e até mesmo de "profissão", se é que posso chamar a vida mafiosa e seus cargos hierárquicos dessa forma. Até porque o meu coração já possuía dona, que tinha um sorriso e uma alma tão bonita quanto.

Katherine Ricci era a minha alma gêmea e disso eu tinha certeza, mas tudo era tão complicado. Eu não poderia ficar com ela segundo as leis mafiosas, pois eu não poderia simplesmente a pedir em casamento. Não quando tinham firmado compromisso por mim com sua irmã, era loucura demais para qualquer pessoa. Me sentia usado para fins ilógicos, eu não poderia ver a minha felicidade e a mulher que fazia o meu coração disparar escapar dos meus dedos tão facilmente.

Eu não permitiria, mesmo que não pudesse demonstrar para todos quem eu queria do meu lado.

– Precisamos conversar, Henrique.- Lorenzo me chamava mais uma vez para o seu escritório.

Aquele era o chefe da máfia e não meu pai, ele adorava uma postura fria e até distante em muitos momentos quando se tratava da máfia e esse era um deles. Quando chegamos ao seu escritório, vulgo sala de tortura, me sentei em sua frente esperando o sermão ou o pior. Sempre que estava ali não era para falar sobre amenidades, eram sempre negócios e máfia.

– O que eu fiz dessa vez?- Era tão rotineiro, que poderia começar a adivinhar.

Lorenzo bebericou um pouco de uísque enquanto fez questão de olhar diretamente em meus olhos que possuíam a mesma tonalidade dos seus.

– Apenas o conselho querendo apressar o casamento.- Ele finalmente se dignou a falar.

Eu simplesmente ri, nem o mais sério dos homens poderia se manter são tendo como cenário essas leis tão ovacionadas pelos mafiosos.

– Não é como se tivesse animado para isso.- Relembrei. – Infelizmente a liberdade para escolher com quem me caso foi tirada de mim.- Quase arrancada.

– Por favor Henrique não torne isso mais difícil do que já é!- Ele pediu com calma, mesmo que seus olhos entregassem o quanto a minha desobediência o irritava.

Lorenzo Bertholdi nunca era questionado, todos acatavam suas ordens e faziam as suas vontades. Não que meu pai fosse o vilão dessa trama, pelo contrário, ele sempre foi um bom pai e sempre esteve para mim quando mais precisei. Mas ele era muito mais que um pai, ele era o líder de uma facção criminosa, vivíamos em constante perigo quase que cem por cento do dia e eu até poderia entender que tudo que ele fazia era para nos proteger.

Duas Metades - Leis da Máfia ( Livro ĪV) Onde histórias criam vida. Descubra agora