3. Doar-se

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Katherine Ricci


O fim de semana estava próximo e com ele viria a prova dos vestidos para o futuro casamento de Bianca, que já estava sendo planejado à meses. E eu não conseguia parar de pensar em tudo isso com uma tristeza sem igual, não poderia ser tão hipócrita e dizer que estava radiante. Mas era algo que fugia dos meus domínios, o que me restava era fingir que nada me incomodava.

– Esse olhar corta o meu coração.- Mamãe havia sentado ao meu lado de maneira sorrateira.

Ela sempre foi uma boa mãe, sempre teve em todos os meus momentos e sabia que poderia contar com ela para tudo. Mesmo quando fosse algo que também ferisse sua outra filha, mamãe era imparcial, mas apenas queria ver a felicidade das suas únicas filhas de maneira igual. E eu a amava ainda mais por isso, ela jamais escolhia partido.

– Não é nada que eu não possa superar.- Devolvi com um sorriso murcho.

Superaria, mas tarde do que deveria, mas superaria.

– Só quero ter a minha Kate novamente e sei que nesse momento é impossível, você ama aquele garoto desde dos cinco anos.- Paola relembrou.

E sim, eu sentia uma queda astronômica por Henrique desde muita nova.

– Mas ele não me escolheu...- Era doloroso falar em voz alta, mas era necessário.

– Que pena, pois perdeu uma garota incrível.- Ela me consolou em um abraço maternal. – E teve sorte por ter Bianca.- Ela complementou.

Paola Johnson era uma boa mãe e isso ninguém poderia negar, nem mesmo Elisea que sempre havia a detestado desde o primeiro momento que a viu.

– Agora vamos tomar um gelato, o seu pai vai adorar fazer companhia pra nós duas.- Ela me chamou e eu fui sem pestanejar.

Chegamos na cozinha e papai já estava apoiado no balcão a nossa espera, em principal com um gelato delicioso e do meu sabor favorito. Eles sabiam mesmo como me agradar e eu amava esses momentos, estar em família sempre era muito bom.

– O melhor gelato para a principessa do papai.- A forma que era tratada por Vicenzo Ricci era mágica.

Ele era um pai completo, daqueles que sentiam ciúmes se um garoto se aproximasse demais, daqueles que até se vestiam de princesa e deixava que nós o maquiasse da forma que queríamos. Ninguém poderia imaginar que o cara durão, o capo tão temido por toda a Sicília era um verdadeiro coração de manteiga com as filhas e a esposa.

– Desse jeito eu nunca vou querer sair de casa.- Brinquei provando o gelato.

– Essa é a intenção.- Ele falou mais sério.

Por papai realmente não sairíamos de casa, ele estava surtando com o casamento de Bianca e isso era bem nítido.

– Não seja ridículo, Vicenzo.- Mamãe chamou a atenção dele. – Ela não é mais uma bebê.- Sorri.

– Pra mim sempre será o meu bebezinho.- Ele beijou minha testa em um gesto carinhoso.

– Eu amo vocês.- Eles eram toda a minha base.

Enquanto comíamos o gelato a cozinha foi invadida por Bianca que estava com Henrique em seu encalço. Nenhuma novidade, mas ainda sim desconfortável para mim. Ainda mais depois dos últimos acontecimentos, tudo havia ficado bem mais estranho e isso não era nada fácil de lidar.

– Quem faltava acabou de chegar.- Bianca chegou roubando um pouco de gelato.

E se sentando ao lado de papai, que a recebeu com um abraço e um "eu te amo" típico de Vicenzo.

Duas Metades - Leis da Máfia ( Livro ĪV) Onde histórias criam vida. Descubra agora