8. Laços

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Katherine Ricci

Haviam se passado algum tempo desde a conversa que tive com Henrique, a promessa que ele me fez me guiava a cada momento e me fazia refletir se aquela era uma boa escolha. A cada vez que olhava Bianca sorrindo ao escolher um novo enfeite, vaso ou qualquer que fosse o objeto para o seu casamento deixava o meu coração pesado. Não importava se nós não éramos as melhores amigas dessa vida, ainda sim éramos irmãs e me sentia como uma traidora por desejar estar em seu lugar.

Tentava me distrair ensinando as pequenas garotinhas da escola de balé a dançar, eu sempre havia sido uma boa bailarina e só não possuía êxito devido a minha "forma" nada convencional para o balé. A discriminação era gritante, bailarinas são magras e estonteantes. Eu sempre havia sido gorda, com quilos generosos que me faziam pesar bem mais do que deveria para dançar. Era óbvio que não me importava tanto com os quilos a mais que possuía atualmente, afinal eu era saudável e me sentia bem comigo mesma. Porém na adolescência era uma pesadelo ser a garota gorda e desajeitada.

As piadas sem graça, o modo que as garotas me olhavam e ainda a falta dos olhares dos garotos faziam com que cada pedacinho meu adoecesse. Se não fossem meus pais, Stella e até mesmo Henrique eu teria simplesmente me entregado a tudo que falavam sobre mim. Eu não teria acreditado e reconhecido que era uma garota incrível, e que o meu manequim não poderia definir quem eu era.

Madame Kate, estou cansada...- a pequena garotinha implorava com os seus olhos infantis.

Era uma das minhas alunas que parecia ter se esforçado ao máximo e que saiba que teria grande futuro.

– Estamos, querida.- Sorri para ela enquanto desliguei o som clássico que tocava no ambiente. – Estão dispensadas, mademoiselles.- Imitei um sotaque francês terrível, mas que fez toda a sala se encher de risadinhas.

Elas com certeza eram o meu ponto de paz juntamente com os meus croquis, ser estudante de moda e trabalhar em uma escola de balé era o tipo de coisa que me fazia feliz. Gostava de cada momento, eu era muito apegada em momentos e vivências. Sempre havia sido desde muito nova, era importante relembrar para que nunca se esquecesse que determinado momento trouxe ensinamentos e evolução para as nossas vidas. Ao menos era dessa forma que eu gostava de pensar, seja bom ou ruim, sempre havia um ensinamento.

– Eu adoro vê-la dançar.

Virei-me quase que instantaneamente ao ouvir aquela voz que parecia ser uma eternidade que não ouvia, Henrique estava a poucos centímetros de mim observando cada movimento meu. Eu nem se quer havia visto que o mesmo parecia estar ali por um bom tempo, eu gostava tanto das aulas de balé que o tempo simplesmente voava.

– Está aí a muito tempo?- Perguntei curiosa.

– O suficiente para te admirar, bella.- Ele sorriu em minha direção me fazendo derreter.

– Quando ficou tão meloso?- Impliquei sem tirar o maldito sorriso do rosto.

Odiava parecer tão boba perto dele, mas era dessa forma que agia todas às vezes, era difícil controlar.

– Por você, sempre serei.- Ele se aproximou finalmente acabando com a nossa distância.

Porém fomos interrompidos por risadinhas infantis que eu conhecia bem de mais, todas as meninas estavam ali novamente para se despedir, era quase que um ritual sagrado na escola. Uma por uma me deu um grande abraço e um beijinho na bochecha, eu amava a forma carinhosa e respeitosa que tratávamos umas as outras. Lidar com crianças era fantástico, a pureza e a lealdade que uma criança poderia ter com você era algo rico demais para desperdiçar.

– Esse príncipe é o seu namorado, senhorita Kate?- Eu quase derreti de amores quando a pergunta veio da minha aluna mais nova.

Cecília tinha exatos quatro anos de idade e era uma graça de menina, tão doce e meiga que chegava a derreter até o coração mais gelado de todos.

– Somos amigos, querida- Sussurrei como se fosse um segredo.

Entretanto nossa pequena conversa foi interrompida pelo "príncipe" que parecia zangado demais com a minha resposta.

– Na verdade, somos namorados sim, docinho.- Henrique se abaixou na altura de Cecília e tocou seu nariz com carinho.

A pequena garota riu com a resposta e saiu saltitando até sua mãe que já a aguardava na porta.

– Não me lembro de ter recebido um pedido oficial ou um anel, sabe?- Cruzei meus braços em sua direção quase que de imediato.

– Sempre fomos namorados, só havia esquecido de te comunicar.- Ele piscou de forma irritante pra mim.

Henrique sempre sabia como me irritar, era impressionante o quanto eu gostava dele e o quanto ele conseguia me tirar do sério na mesma proporção.

– Sem pedido, sem namorada.- Já ia me virando e saindo de fininho.

Mas Henrique não permitiu e me agarrou prontamente, me aproximando do seu corpo alto e forte. Seus olhos azuis olhavam para mim com devoção, como se procurasse saber os mistérios da minha alma. E eu retribua o olhar com um misto de sentimentos impossíveis de esconder, era tudo tão louco. Amar e finalmente ser correspondida, após anos achando que era apenas algo platônico e sem sentido.

– Quando eu resolver toda essa loucura além de minha namorada, você será a minha esposa.- Quase congelei no lugar.

– Isso é um pedido de casamento?- Perguntei receosa.

– Ainda não.- Henrique sussurrou. – Você merece um pedido digno de uma verdadeira princesa.- Era impossível não sorrir.

Sem sombras de dúvidas eu competia com o Coringa pra ver quem tinha o sorriso mais largo no momento, e eu não duvidava estar ganhando a competição. Eu me sentia leve, amada e principalmente segura nos braços de Henrique. Ele sabia o que falar e como chegar no meu coração, isso era fato. E eu tinha uma grande sorte de tê-lo comigo, ao menos os seus sentimentos eram meus, não importava se no momento ele fosse o noivo da minha irmã.

Era como se um peso ou um balde de água fria me atingisse mais uma vez com a constatação, eu não conseguia esquecer por muito tempo e isso era uma porcaria. Não tinha certeza de nada, temia que mais cedo ou tarde ele amanheceria na cama de Bianca com um anel de compromisso reluzente e colocando o seu sobrenome para implementar o dela. Era um verdadeiro pesadelo e eu só queria aproveitar esse pequeno momento de paz como se não houvesse casamento nenhum.

– Quero te levar em um lugar...- Henrique convidou.

– Pra onde?

– Não vou te contar, venha comigo e descubra.

E eu fui, despreocupadamente.

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+ um capítulo saindo, não prometo frequência nas postagens. Mas conforme for me inspirando e tendo novas ideias irei escrevendo, meus livros nunca possuem um roteiro pré disposto antes do lançamento. Existe uma ideia principal, o decorrer da história vai surgindo em minha mente bombasticamente, então eu posso afirmar pra vocês que tudo é possível por aqui.

Beijos

Duas Metades - Leis da Máfia ( Livro ĪV) Onde histórias criam vida. Descubra agora