Capítulo 3

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- Você sabe que isso é uma acusação séria né? - o ruivo perguntou sarcástico
- Você realmente é um jovem insolente - a mulher disse entre dentes - e além de tudo é burro, eu não te acusei de nada.
- Não diretamente, mas indiretamente você quis dizer que acha que sou culpado - ele explicou sem fazer muito caso.
- Você está errado, para começo de conversa isso é apenas para coletarmos informações.
- Não, você acha que sou idiota ou o quê? Vocês coletaram informações no começo, várias pessoas foram interrogadas a fim de se ter uma base com o que vocês estavam lidando, agora com tudo isso em mente vocês estão interrogando os principais suspeitos que obviamente são as pessoas que estavam naquele horário no local do crime - Pedro fez uma pausa - vocês estão nos fazendo falar para saber se confirmaremos o que as outras pessoas disseram a respeito, então na verdade você já sabe exatamente as respostas para suas perguntas.
Margot franziu o cenho mostrando-se levemente irritada com o menino.
- Não fale bobagens imaginárias.
- Não são bobagens! - exclamou elevando a voz.

" Eu o beijava eufórico, finalmente tivemos a oportunidade perfeita depois de tanto tempo.
- Para! - ele disse e me empurrou para trás.
Eu olhei confuso para ele, sua mão estava sobre a boca enquanto respirava com dificuldade, seus olhos temerosos, algo com certeza aconteceu.
- Eu fiz algo de errado? - perguntei preocupado.
Ele não me respondeu, apenas continuou no mesmo estado de antes, me aproximei dele com cautela, afinal não queria assustá-lo, e toquei seu ombro com cuidado.
- Ei... O que aconteceu? - fui o mais suave possível com minhas palavras.
- E... E... Eu... - ele começou a gaguejar.
- Se acalma, leve o tempo que precisar.
- Eu... não posso... mais fazer isso - disse pausadamente para permanecer calmo, mas de nada adiantou pois lágrimas insistiram em sair de seus olhos.
- Você não pode mais fazer o quê? - perguntei confuso.
- Continuar com você - ele disse soluçando.
- Porque? - perguntei me exaltando.
- Eu não sou quem você pensa que eu sou.
- Do que você está falando Philip, eu sei quem você é.
- Não você não sabe - ele disse com a voz embargada pelo choro - você não faz nem idéia.
Eu franzi o cenho.
- Então me conte o que eu não sei - eu disse limpando suas lágrimas que caíam pela sua bochecha.
- Eu não posso.
- Ué, por que?
- Você vai me odiar - ele disse olhando diretamente nos meus olhos.
- Não diga isso, é impossível eu te odiar, impossível.
- Você promete? - ele perguntou levantando seu dedo mindinho para mim.
- Prometo meu príncipe - eu entrelacei meu dedo no dele.
- Ok - ele respirou fundo e olhou para mim - esteja ciente de que essa história não é nada bonita, tem mesmo certeza de que quer ouvir?
Assenti com a cabeça.
- Está bem - ele deu um longo suspiro novamente - eu já te contei do meu primeiro amor certo? Que foi a pessoa antes de amar você, o nome dela era Lucy, nós tínhamos 14 anos na época, eu me apaixonei perdidamente por ela, que sempre foi tão doce comigo, ela sempre me falava que queria viajar até as estrelas algum dia.
Ele fez uma pausa, secou as lágrimas e respirou um pouco para continuar.
- Bom eu gostava muito dela, e um dia eu tomei coragem e me confessei para ela, mas ela me deu um sorriso triste e disse       " Sinto muito ", sabe Pedro quando eu era mais novo eu era muito sozinho porque meus pais trabalhavam muito, com o tempo eu arranjei uma companhia seu nome era Harry, brincávamos juntos, mas digamos que ele era um pouco assustador as vezes, até que um dia Flocos o meu pastor alemão apareceu morto no quintal, eu fiquei aterrorizado, mas eu sabia que tinha sido Harry quem tinha feito aquilo, daí chamei uma das empregadas da casa para contar o que aconteceu.
- Por favor me diz que esse muleque ficou longe de você depois disso.
Philip me deu um sorriso triste, aquela história estava me dando um mau pressentimento.
- Ela ficou maluca me perguntando quem era Harry, porque nunca havia visto o garoto, no final daquela tarde meus pais ficaram sabendo da história, e dois dias depois eu comecei a frequentar um psicólogo por causa do incidente, quando eu fiquei mais velho eu pude entender, fui diagnosticado com uma doença mental, Harry na verdade era eu o tempo todo.
Eu fiquei paralizado por um segundo, meu Philip nunca faria nada assim, porque ele nunca me contou sobre isso.
- Mesmo com os remédios, Harry ainda continuava a aparecer de vez em quando, mas sempre consegui reprimi-lo, bom até aquele dia, quando Lucy me rejeitou eu fiquei irado e de repente eu não tinha mais controle do meu corpo, era Harry quem estava no comando, papai tinha uma arma no armário, eu sempre soube disso... Harry também sabia... Quando eu vi estava com uma arma apontada para a cabeça da garota que eu amava e por mais incrível que pareça ela sorria para mim, acho que o sorriso dela fez Harry ficar mais nervoso ainda, ouvi o som dele engatinhando a arma e de repente POW, e foi aí Pedro que eu matei a garota que eu amava, meus pais pagaram para silenciar os pais de Lucy e também a polícia, mas sabe nunca irei me esquecer do sorriso que ela me deu antes de morrer, algum tempo depois descobri que ela tinha depressão e tinha tentado se matar várias vezes sem sucesso.
Fiquei em silêncio, eu nunca achei que ouviria algo assim, queria que ele de repente sorrise e dissesse "Brincadeira, não acredito que você realmente acreditou, mas enfim mudando de assunto vamos passar na lanchonete na volta para minha casa"  mas aquelas palavras nunca vieram, eu não sabia nem o que pensar daquilo.
- Por favor... só diz alguma coisa - ele implorou com a voz voltando a ficar embargada outra vez.
- Porque nunca me contou.
- Eu pensei que você se afastaria, achei que você não iria querer amar um assassino com problemas mentais - uma lágrima escorreu pela sua bochecha - por isso eu não quero mais ficar perto de você, eu tenho medo, muito medo.
Eu simplesmente o envolvi em um abraço apertado e acariciei seus cabelos castanhos ondulados.
- Ei, eu não te acho isso, e não permitirei que você se afaste de mim.
Ele se afastou e me olhou frente a frente.
- Você vai me perdoar pelo que eu fiz? Pedro não é como se eu tivesse roubado uma maçã do mercado, eu matei uma pessoa,  e para piorar a situação eu amava ela, o que significa que posso acabar matando você também  - ele disse de cabeça baixa.
- Bom primeiro que não é a mim que você tem que pedir perdão, segundo que pelo que você me contou é como se você tivesse uma dupla personalidade ou algo assim que agisse de forma diferente, no caso do Harry - tomei fôlego e o olhei diretamente nos olhos - não vou te dizer que "tudo bem, não foi nada" porque realmente foi algo muito grave, mas temos que analisar o fato de que você não quis fazer isso, e Harry provavelmente nem sabia lidar com suas próprias emoções, e eu confio que nenhum de vocês dois me mataria.
Ele ia dizer algo mas ouvimos um grito, nos olhamos rapidamente, "que porra é essa" pensamos e corremos na para dentro da escola juntos.
Era no primeiro andar, logo depois veio o som de uma cadeira caindo, seguimos o som e nos encontramos perto da sala de estudos, fiz um gesto para que Philip ficasse quieto, havia vozes vindo de dentro da sala.
- ... Eu não vou deixar uma pouca vergonha dessa acontecer bem debaixo do meu nariz, eu sabia que tinha coisa nessa história toda - uma voz grossa dizia, eu reconhecia essa voz, o diretor.
- Como você descobriu? - a outra voz perguntou, eu também reconhecia aquela, era Frey.
- Há algum tempo venho desconfiando, então tive a idéia de tirar todas as câmeras do colégio, mas deixar uma escondida nessa sala, eu sabia que vocês duas viriam aqui fazer um trabalho, então apenas informei minha filha de que estávamos passando por reformas e tiramos as câmeras, assim ela não se seguraria... Eu assisti tudo da minha sala - ele disse cada vez mais irritado.
- Então você viu a gente...? - ela perguntou num fio de voz.
- Não, é lógico que eu não assistiria uma coisa nojenta assim, eu parei assim que vocês começaram a se beijar, e retornei um tempo depois - ele disse com nojo perceptível na voz - aquela filha da puta, traiu minha confiança, as ameaças que fiz para ela pelo jeito não tiveram resultado,eu deveria matar vocês duas para variar, mas acho que essa não seria a melhor solução afinal ela não sofreria, mas doeria bem mais se ela perdesse a querida namoradinha dela.
- O quê? - ela perguntou surpresa e se ouviu o som de uma arma sendo engatilhada.
Fiquei paralisado outra vez, mas quando olhei para o lado meu namorado já estava de pé adentrando a sala.
- Que palhaçada é essa? - Philip disse com uma voz diferente do normal, daí eu percebi por um segundo aquele não era o Philip, aquele cheio de postura e confiança era o louco, era Harry"
- Eu não irei dizer nada, só na presença do meu advogado - Pedro disse olhando para a ruiva em sua frente.
- Garoto você não acha que assistiu séries de investigações criminais demais na tv - ela disse fazendo pouco caso.
- Eu não ligo para o que você acha, não direi nenhuma palavra.
Ela deu um longo suspiro.
- Ok, se não quer ser interrogado o que eu posso fazer não é mesmo - ela disse dando de ombros.
- Margot... - seu parceiro tentou intervir.
- Ei eu sei o que estou fazendo, estamos apenas perdendo tempo interrogando ele - ela explicou calmamente
O ruivo levantou da cadeira e ia sair do local mas a investigadora o parou.
- Pedro, se quiser colaborar com a investigação estaremos aqui, tenha uma ótima tarde - ela disse estendendo a mão em sua direção.
O garoto apertou a mão dela e olhou-a confuso antes de sair. Pedro assim que se distanciou da delegacia abriu o pequeno papel dobrado que a investigadora tinha passado para ele através daquele aperto de mão.
" Me encontre no Bar Long Nigth as oito horas.
P.S: Eu sei o que seu namorado fez, se não quiser ver ele preso me encontre no local e hora combinado, não conte para ninguém e venha sozinho"

Eu confessoOnde histórias criam vida. Descubra agora