Capítulo 1

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Existe coisas que ainda que eu tente, jamais entenderei. Assim como a falta de compreensão sobre o vitiligo que carrego. E diferente do que pensei quando passei as adquiri, eu não me envergonhava de as ter.

Ainda que o processo dentro de mim tenha sido difícil, perdi coisas pelo caminho que hoje posso afirmar que a perda não tinha sido significativa, ainda que o sentimento dentro de mim era evidente.

Eu sou Enzo Dale, trinta e três anos, empresário renomado. Filho mais velho de um casal homossexual. Natural da Itália, mais moro sozinho já a muitos anos em Londres. Tenho mais dois irmãos, Davi e Antonella. Davi conheceu o amor, e diferente de mim, meu irmão jamais precisou oferecer algo material para o manter.

Entender que eu era um fardo, indesejado, mais a permanecia se dava pelas coisas que eu poderia proporcionar, me foi dolorido.

Ouvir meu ex marido dizer que tinha nojo das cores que eu carrego no corpo. Me foi um tiro estrondeante. E ainda que eu o amasse, eu o mandei ir. E ele ainda foi feliz, carregando boa parte de um dinheiro pre nupcial como se fosse de mais validade.

E ele carregou muitas outras coisas em todo processo até o fim. Mais o único que ainda permaneceu foi a vontade de conhecer o verdadeiro amor. Mais essa vontade passava em todas as vezes, que eu conseguia ouvir sua voz ecoando minha cabeça.

Passei bons meses sentindo horror de mim mesmo, onde os sentimentos se apodrecia dentro de mim. Passei a me sentir desconfortável com os olhares que eu recebia. Me sentia como uma fera grotesca por minha pele vagar entre o preto e o branco. E eu sabia que se eu me escondesse, esse sentimento não iria ir embora. E por esse motivo passei a lidar comigo mais uma vez.

Eu sabia que as pessoas eram ruins, sentia na pele desde que era criança quando o anunciar de ser filho de dois homens, era bem mais exposto. E eu e minha família somos expostos todos os dias. Onde pessoas aparecem na esperança de nos sugar, seja como em uma amizade, ou como uma mentira sobre sentimentos inexistente.

Aprender a lidar que eu não posso simplesmente ser um homem, onde o caminhar com tranquilidade me seja corriqueiro, ou ser aquele homem, que vai até a casa de um desconhecido passar a noite sem me preocupar. Eu não poderia ser esse tipo de homem, não poderia caminhar sem ter sempre alguém cuidando minhas costas, não poderia dormir em lugares desconhecidos, e não poderia simplesmente abrir meus sentimentos sem sempre questionar se a pessoa estava ali realmente por mim.

E na maioria das vezes eles nunca estavam.

E por isso parei mais uma vez de tentar, de insistir em algo que talvez não era para mim. Algumas pessoas dão sorte em encontrar o amor, em encontrar aquela pessoa capaz de permanecer ao seu lado por longos anos.

Entendi que eu não era essa pessoa.

E o sentimento se tornando frio dentro de mim foi chegando, dando passo por passo silencioso até se instalar. E eu cheguei no ponto de sentir horror de sentimentos, de relacionamentos, e tomei horror principalmente das pessoas.

Saia pra foder sem criar qualquer expectativa. Conhecia pessoas que por si só, poderia ter sido incrível. Mais eu já não estava mais nesse momento, não estava mais nessa busca.

E mediante a tudo isso, eu entendi que as pessoas podem te machucar, cortar nossos sentimentos como lamina afiada deixando cicatrizes profundas, ainda que não seja visível.

E eu carregava todas elas invisíveis em mim.

E talvez no fundo, estava tudo bem ser assim.

**************

Era sempre incrível poder notar em como as paredes brancas da galeria de arte, fazia junção com cada obra ali em exposição.

Passei a trocar horas de sexo, por horas entre o vagar de uma obra a outra. Achava lindo cada traço, cada desenho, e achava ainda mais lindo aquela obra de quase um autorretrato. Queria muito compreender sobre como o retratista, descrevia seu aspecto para revelar em uma obra o que havia captado nas expressões mais profunda de si. E as mãos no ouvido seria sempre seu maior mistério.

Passava horas admirando aquele lindo cabelo ruivo, aquela pele branca, aquele rosto com diferentes traços, onde o feminino e o masculino era visível, olhos verdes muito bem expressivos, e que boca incrivelmente beijável, onde um batom extremamente vermelho se sobrepunha.

Ninguém sabia quem era o retratista que tinha as mãos no ouvido. E já fazia muitos anos que eu admirava a mesma obra.

Sai do meu devaneio, com um perfume doce que chegou em minha narina. Olhei pro lado onde uma pessoa vestida com um sobretudo preto e capuz, admirava a mesma obra que eu. E era sempre um mistério ver alguém tentar se esconder em lugares assim.

Fiz sinal com a mão para meus seguranças, mostrando que estava tudo bem. A pessoa ao meu lado não se mexia, e eu admirei o sapato de salto alto vermelho em seus pés, e isso era a única coisa visível.

- Belíssima obra não é? – Perguntei pois era costume conversar sobre a obra em exposição quando alguém parasse ao seu lado, era como se ela quisesse debater sobre o ponto de vista do outro. Entretanto, a pessoa ao meu lado só concordou com a cabeça.

De sua boca nenhum som saiu, e seus olhos não vieram para os meus. Fiquei em silencio confuso, talvez a pessoa quisesse permanecer no silencio. Voltei meus olhos para a obra e me perdi mais uma vez nos traços bem feito. O sorriso quase imperdível na obra, eu levei anos para o notar. E era de uma beleza genuína.

Suspirei saindo do meu estupor mais uma vez, quando senti por poucos segundos a pessoa me olhar. Virei meu rosto mais uma vez, e eu estava a achar estranho a atitude dela. Mais ainda assim, não questionei, olhei minuciosamente e além do sapato nos pés, a boca tinha ficado visível, assim como pouco do nariz afinado.

- Notou o sorriso quase impercebível na obra? – Perguntei mais uma vez puxando assunto. A pessoa mais uma vez, somente balançou a cabeça concordando. – Não deve ter mais bonito. – Falei mais para mim mesmo.

Meu mundo parou no momento que eu vi o mesmo sorriso da obra, nos lábios da pessoa ao meu lado. Fiquei parado com os olhos arregalados, e a pessoa me deu as costas indo embora. O bater de seu salto vermelho no chão era o único som que a galeria recebia, corri apressado saindo porta fora da galeria. Passei meus olhos pela rua, e do outro lado eu vi a mesma pessoa.

Ela abaixou o capuz, revelando seu longo cabelo ruivo ao me olhar. Me sorriu bonito, ainda que mesmo distante eu poderia ver a malicia em seus olhos. E ela seguiu seu caminho, sem se importar com o assombro deixado em mim. 

[ DEGUSTAÇÃO] Suas cores & Eu Onde histórias criam vida. Descubra agora