TW: Menção à uso de substâncias ilícitas.
Imagine uma festa.
Imagine uma festa que tenha saído absolutamente de controle.
Imagine mais de cem pessoas entrando e saindo de um apartamento de solteiro, imagine pintar os móveis de branco com restos de cocaína, e imagine em cada cômodo, uma orgia. A TV da sala quebrada no chão, um grafite na parede escrito "FODA-SE O CAPITALISMO" com tinta vermelha e um papel com o código de uma playlist colaborativa que foi crescendo e crescendo durante todo o fim de semana e tocando o tempo todo em caixas de som do tamanho de um carro.
Agora imagine acordar na segunda-feira depois dessa festa.
A primeira sensação é o frio. Em uma segunda-feira em particular, a primeira coisa que Park Jimin sentiu ao abrir os olhos, foi o colchão grudando em suas costas, ensopado de cerveja (na melhor das possibilidades). Estava usando shorts que não eram seus e um chapéu de plástico cheio de glitter dourado que caía aos montes toda vez que se mexia. Alguém havia pendurado sua camisa em um poste do outro lado da rua e um de seus tênis simplesmente desapareceu. Que noite.
Ainda um tanto embriagado, Jimin teve que levantar e tentar andar entre as pilhas de bêbados jogados no chão. Roubou uma jaqueta jeans de um gancho na parede, cheia de patches de bandas de rock, e encheu os bolsos com cápsulas que achou na estante.
O caminho até o elevador era um verdadeiro campo minado de boêmios e viciados, completamente impossível de atravessar. A única alternativa era a janela que pulou com cuidado e silêncio, descendo as escadas da saída de incêndio até o beco ao lado do prédio.
Com um curto salto do último degrau ao chão, correu para a calçada, sinalizando desesperadamente para todo e qualquer táxi que passava. Estava atrasado demais para ter o luxo de uma caminhada da vergonha.
Entrou no primeiro carro que parou, deu o endereço de sua casa e tirou o celular do bolso. Diversas ligações perdidas e um arquivo com o briefing dos primeiros clientes do dia. Ele tinha quarenta e cinco minutos.
O tempo é implacável. Nunca há tempo, estamos sempre atrasados. Nos ferimos milhares de vezes ao longo do tempo, e ainda assim, é o tempo que sempre cura toda ferida. No fim das contas, Jimin achava o conceito de tempo simplesmente estúpido.
Do momento em que abriu a porta do apartamento, foi uma verdadeira maratona. Um banho corrido, respondendo mensagens debaixo do chuveiro e uma maçã meio mordida na boca, enquanto se vestia e ajeitava as listas e formulários em uma pasta de couro.
Por fim, chegou ao trabalho com cinco minutos de sobra. Seu terno estava torto? Sim. Tinha o cabelo completamente despenteado? Também, sim. Mas ousaria alguém dizer alguma coisa?
Nunca.
Ele era precioso demais, bom demais em seu trabalho para que alguém pensasse em se preocupar com o que fazia nos dias de folga. Sua imagem trazia mais clientes para a empresa que qualquer outro funcionário. No altar da Love Connection, Jimin era um deus.
Avançava pelos corredores sem se importar em cumprimentar ninguém. Falsos, todos eles, esperando pelo dia em que falharia para tentar roubar seu lugar.
Os clientes já esperavam no escritório. O rapaz secou o rosto com um lenço, consertou os botões trocados do paletó e virou de uma vez o copo d'água e a aspirina que a secretária trouxe.
Ao abrir a porta, pôde ouvir o fim de uma conversa entre o par, sentados de costas para ele.
- Lilás, talvez? Ainda é cedo, você tem tempo para escolher. - Ela disse, antes de olhar para trás. - Oh, bom dia!
- Bom dia, casal! Eu soube que temos um casamento para planejar. - Jimin circulou a mesa, sentou em frente aos dois e ofereceu um aperto de mãos. - Meu nome é Park Jimin, mas vocês podem me chamar de fada dos casamentos!
Essa era a fórmula. Era o que fazia Jimin ser o preferido. Ser doce e gentil, fingir ter um interesse enorme em tudo que a noiva dissesse. O segredo para receber um belíssimo cheque com o seu nome era nada mais nada menos que ser um bom ator. E isso, ele era.
- Obrigada por nos receber, Senhor Park. - A mulher disse com um melódico sotaque britânico e um sorriso meigo. - Eu sei que seus horários são disputados, mas nós realmente precisamos da sua ajuda. Aparentemente, a única coisa que sabemos sobre como organizar casamentos é que temos que estar lá no dia da festa.
Ambos haviam preenchido o formulário que havia lido no caminho. Lucy Brown, 25. Parecia ser tão graciosa quanto humanamente possível, do tipo que gosta de roupas de verão o ano todo, de flores silvestres e a cor amarela, com um sorriso capaz de derreter qualquer um. Era óbvio para quem quer que a conhecesse que em algum momento, quando era criança, ela havia pendurado a fronha de um travesseiro no cabelo, brincando de ser a noiva com um vestido longo e uma coroa de margaridas, que se casaria com um príncipe encantado. Era como a maioria das clientes de Jimin. Sua especialidade.
Mas o tal príncipe, não poderia estar mais distante. Se vestia como o papel mandava: Um terno preto bem cortado e um clipe dourado na gravata. A cera escura que fazia seus sapatos brilharem, provavelmente mais cara que o guarda-roupa de Jimin inteiro, e ainda assim, existia algo além da pose, algo escondido por trás da postura e do penteado alinhado com spray.
Os dois quase pareciam ser de eras diferentes.
1980 e 1700. Uma comédia e um clássico francês. Um shot de tequila barata e uma taça de vinho fino. Ela era pop. Ele, jazz.
- Não precisam se preocupar com absolutamente nada. Eu vou estar com vocês em todos os passos e tudo que vão precisar saber são seus votos, local e data. Quando pretendem se casar?
- Não há pressa.
A voz de Kim, grave e suave, pegou o planejador de surpresa. Com quatro palavras, o embalou em uma breve viagem aos paraísos nos confins de sua mente, e Jimin até pensou que pudesse ser efeito tardio do álcool, mas aquele jeito dele de respirar com leveza, os músculos de seu pescoço se movendo como no rítmo de uma balada romântica... Era impossível não encarar.
Foco, Jimin. Foco!
- Os melhores locais geralmente exigem alguns meses de antecedência. Nós podemos marcar algumas visitas essa semana. Eu adoraria guiá-los.
- Infelizmente não vou poder participar dessa primeira fase. - Lucy disse com certa tristeza no olhar, mas nem tanta assim. - Eu tenho um voo amanhã de manhã para um seminário em Tóquio e acredito que só estarei de volta em uns dez dias.
- Nós podemos esperar seu retorno, meu bem. - Namjoon disse segurando a mão de sua parceira entre as suas. Tão atencioso.
- Bobagem, Joonie. Você e Jimin-ssi são perfeitamente capazes de escolher um bom local e tenho certeza que vou amar, onde quer que seja. E eu devo voltar bem a tempo de ajudar com o resto. - Ela o assegurou com um beijo na bochecha, e ele, ainda meio receoso, assentiu.
- Perfeito. Eu só preciso que vocês assinem alguns papéis. - Jimin disse, retirando-os da gaveta com uma caneta para cada um.
A mão de Namjoon, com uma pesada aliança de prata no dedo anelar, tocou levemente a de Park quando entregou os documentos. Nas veias de Jimin, eletricidade.
- Tudo perfeito. Eu conheço um local lindo em Gwangjin-gu. Amanhã às oito seria um bom momento para o senhor, Namjoon-ssi? - Olhou Namjoon pela primeira vez nos olhos, frios, provocantes. O homem era um pecado em forma humana.
- Mandarei um motorista até você às sete e quarenta. - Disse, já se levantando e oferecendo a mão para que Jimin apertasse novamente. - Foi um prazer fazer negócios com você.
Pouco antes de fecharem a porta, ouviu-se uma última frase, dita bem baixinho à sua noiva.
- Amarelo. O dia hoje é amarelo.
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True Colors | knj + pjm (REPOSTANDO)
RomanceO jovem empresário Kim Namjoon está prestes a ser casar com a mulher de seus sonhos, mas ao contratar um planejador de casamentos chamado Park Jimin, ele começa a duvidar de seus motivos para ir em frente com a união e descobre um novo universo de c...