Capítulo Um

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TRAVIS

— Samantha! — Jogo a mala esportiva no ombro enquanto apanho uma maça no cesto de frutas sobre o balcão da cozinha. Não demora muito até a figura magricela de minha sobrinha aparecer na porta usando pijama e o cabelo escuro e liso preso para trás — Fique de olho na vó e não saia de casa! Tenho cliente marcada para hoje — Olho no relógio e ela revira os olhos verdes com os braços cruzados diante do peito — Qualquer coisa estou com meu celular!

— Você não disse que ia parar de transar por dinheiro, tio? — Me volto para ela novamente antes de sair, surpreso pelo comentário — Não disse que ia largar a vida na noite?

Baixo os braços e recuo a postura de durão perante minha sobrinha, hoje uma adolescente de quinze anos, mas que crio desde quando tinha cinco. Minha irmã — a mãe dela — faleceu em um acidente de carro e o cara que era o pai simplesmente não quis ficar com a garota. Coube a minha mãe ficar com a guarda dela, mas não demorou até que mamãe adoecesse e ficasse acamada. Eu era o único parente que Samantha tinha... A única pessoa que podia cuidar dela.

Tive de assumir responsabilidade de pai com uma filha de cinco anos que sequer era minha aos vinte anos e também cuidar de uma mãe acamada.

Não era fácil cuidar das duas, mas eu não podia jogar a única filha de minha falecida irmã em um orfanato e minha mãe em um asilo! Não pude fazer uma boa faculdade por ter que trabalhar para elas e acabei me conformando com um curso a distância de educação física. Com o curso consegui um emprego fixo em uma academia, algumas aulas de educação física em escolas e para complementar a renda trabalhava de noite na boate.

As coisas ficaram difíceis quando Samantha cresceu e passou a fazer cursos para a faculdade. A oportunidade que não tive de ter bons estudos eu queria dar a ela. Mamãe também precisou de fraldas e remédios mais caros para o câncer que apareceu repentinamente e ameaçava constantemente sua vida.

Minha rotina era trabalhar intensamente e fazer os bicos na boate de noite. Samantha passou a compreender meu trabalho na boate quando cresceu um pouco e não concordava. Vivíamos em constante guerra por conta disso.

— Pretendo largar a vida na noite, Sammy, mas não vai ser de uma hora para outra! Estou diminuindo o ritmo com os trabalhos de acompanhante, mas terei de atender algumas clientes — Relembrei — Vovó está doente e precisamos de dinheiro. Não posso deixa-la sem fraldas, remédios e os tratamentos! Você também precisa da mensalidade do curso, de livros e...

— Posso me virar sozinha, tio. Posso arrumar um trabalho!

— Não... Você ainda é muito nova — Ela desvia o olhar do meu e suspira de maneira derrotada — Não quero que seja como eu e sua mãe fomos. Quero que tenha uma profissão e bons estudos, Sammy.

— Às vezes parece que vovó e eu somos um peso para você!

— Você sabe que não — Me aproximo e toco seu rosto delicado. Ela ainda não me olha — Cuido das duas com todo meu amor, querida. Faço o que estiver ao meu alcance para que sua vó tenha um final de vida tranquilo e você tenha tudo que sua mãe e eu não conseguimos.

Beijei sua testa carinhosamente e me afastei, voltando-me para a porta.

— Tio... — Disse antes que eu saísse. Segurei na maçaneta e me voltei para ela, que tinha um olhar preocupado — Se cuida, tudo bem? Tenho muito medo que algo ruim aconteça com você e eu e vovó fiquemos sozinhas.

Eu sabia que Samantha temia por minha saúde, principalmente por doenças sexualmente transmissíveis e clientes alucinadas. Já tive mulheres que se viciaram em mim e me perseguiram por meses, rendendo histórias cabulosas em casa. Samantha se lembrava de alguns casos. Em relação à saúde, jamais dei bobeira! Mesmo agora com poucas e seletas clientes eu tratava de usar camisinha sempre e manter a higiene e os exames em dia.

Victorya Secret: As lições do Prazer (DEGUSTAÇÃO)Onde histórias criam vida. Descubra agora