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Morte e vida.

Opostos naturais no ciclo de qualquer ser.

Diferentes em todos os aspectos, mas que podem nos impactar da mesma forma, ambos com a mesma intensidade e profundidade.

A morte é tão imprevisível, tão avassaladora. É estranho o fato de que as vezes nos preparamos a vida toda para o momento em que alguém amado nos deixará, mas quando esse momento chega, percebemos que todo aquele preparo foi em vão, desabamos da mesma maneira, não conseguimos controlar nossas emoções. Mas isso acontece porque nós já nascemos com a percepção de eternidade em nossos corações, mesmo que saibamos que um dia teremos nosso último suspiro, é incontrolável isso, algo subconsciente. Não somos capazes de enxergar o que há depois do fim, ou tudo o que temos simplesmente deixando de existir. Temos a ideia de que é infinito, e, por isso, quando o momento da perda chega, reagimos dessa forma e nos mostramos muito mais frágeis do que somos.

Com uma brilhante luz, acabo acordando. Sinto meus olho inchados e ainda ardentes. Tenho que me forçar a abri-los, porque, sinceramente, se dependesse de mim, ficaria aqui deitada em meio a esses lençóis durante todo o dia. Não tenho animo para nada, nem para sequer me levantar e me trocar.

Como raios em meio a um céu limpo, as memórias de ontem vão surgindo, relembrando-me de tudo o que vi e passei, acabando com o meu pequeno momento de paz, acinzentando todo o meu céu azul.

Passo a mão pelo rosto e então pelo meu cabelo. Suspiro fundo e decido que descerei.

Não ficaria aqui, nem se quisesse, durante todo o dia, e eu preciso de informações. Tanta coisa pode ter acontecido de ontem para hoje. Só espero que haja noticiais boas.

Levantando-me, sigo em direção ao banheiro da suíte minha e do meu pai. Honestamente, não me lembro de ter subido até aqui ontem a noite, nem de ter me trocado. Acho que eu estava fora de mim o suficiente para apagar e agir no automático.

Vejo meu celular ligado ao carregador na pia do banheiro e decido dar uma olhada. O relógio marcava dez e quarenta e três. Até que eu não havia dormido tanto quanto imaginei, mas certamente perdi a aula que começou a quase três horas atrás.

Se antes dos últimos episódios eu já recebia muitas notificações, agora, esse número triplicou.

Havia diversas mensagens de Audrey, ela parecia preocupada. Vou ligar para ela mais tarde e explica tudo o que aconteceu.

No meu Instagram, eu havia sido marcada em mais de mil publicações de sites de fofoca. O meu direct não parava de receber mais solicitações e meu número de seguidores aumentou consideravelmente.

Bufo nervosa e desligo meu celular totalmente, pegando-o e guardando em uma bolsa que havia ali comigo.

Hoje eu, definitivamente, não olharia o celular. Não tenho cabeça para lidar com tudo isso.

Escondo meu rosto avermelhado e inchado com um pouco de maquiagem, apenas para não parecer um total dessas ter quando sair do quarto. Me troco e calço um sapato confortável. Em menos de quarenta minutos já estava no elevador prestes a descer.

Ao chegar no saguão, a primeira coisa que eu noto é a evidente calmaria em relação a noite passada. Os funcionários trabalhavam normalmente e tudo andava como sempre, aparentemente.

Confesso que estou receosa de saber quão danificados fomos por causa da notícia do assassinato. Afinal, quem gostaria de se hospedar em um hotel onde houve um assassinato? Eu não gostaria.

Caminho até a cafeteria, vendo alguns rostos conhecidos pelo caminho. Já adentro do ambiente, em uma mesa de canto, reconheço um homem de cabelo grisalho e olhos azuis gélidos.

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