– Você é a Liana? – uma voz masculina pergunta atrás de mim e eu me assusto pois normalmente quem vem aqui são apenas as meninas que trabalham no andar.
– Sou, sim senhor – respondo e eu reparo um pouco nele e nossa senhora que homem incrivelmente lindo é esse? Rapidamente passo o olho por seu cabelo loiro e olho azuis realmente impressionante.
– Eu derrubei o café na minha camisa e ainda não trouxe uma muda de roupa para o escritório. A minha secretária disse que você poderia me ajudar. – então esse é o senhor Arlindo o dono da coisa toda.
Olhando bem ele se parece com o filho com o mesmo cabelo volumoso, mesmo que o dele seja loiro e já apresente alguns fios brancos e os olhos azuis vívidos também são parecidos com os do filho. Abro a porta do armário abaixo da pia e mostro a ele que lá tem uma máquina de lavar e secar eu estava preste a falar que poderia lavar a camisa dele, mas as palavras ficam presas em minha garganta quando percebo que ele está abrindo os botões da camisa, quando percebo que estou encarando demais me viro e passo a procurar o sabão quando o achou volto a me virar para o homem que agora já está com o peito desnudo e estende a camiseta em minha direção, mantenho o olhar abaixado enquanto pego a peça e coloco na máquina, mas o que me desconcerta e que o homem não foi embora ele tirou o celular do bolso puxou uma das cadeiras junto a mesa e sentou. Acho que encarei demais pois ele fala:
– Vou guardar aqui, não posso ficar perambulando pela empresa sem camisa, minha secretária queria ir buscar uma roupa, mas a casa da minha filha fica quase fora da cidade demoraria muito e eu não gosto de usar roupa do shopping sem lavar antes então comprar não ia ser uma boa solução.
– Ah, mas o senhor pode ficar onde quiser afinal de conta a empresa é sua.
– Me diga Liana quantos anos você tem? – ele perguntou de repente, pode ser só impressão minha, mas meu nome fica bastante sexy saindo dos lábios dele, percebo que ele está olhando fixamente para o meu rosto o que me deixa nervosa.
– trinta e oito senhor.
– Eu tenho quarenta e seis, não está muito longe da sua idade – ele fala e eu não sei onde ele quer chegar com essa conversa – quando você me chama de senhor eu me sinto com mais de setenta, nem os meus estagiários me chamam de senhor, pode me chamar de Vitório.
– Claro como o senhor, quer dizer, como você quiser – ficamos por um momento em uma espécie de silêncio constrangedor então resolvo tentar amenizar o clima – Que um pouco de café já que o senh... você derrubou o seu?
– Aceito sim.
Aproveito a deixa para me virar de costas para ele mais uma vez, confesso que esse homem está me deixando extremamente nervosa, principalmente por estar sem camisa no mesmo ambiente que eu, sirvo o café dele e sinceramente não sei o que fazer nesse horário é quando eu faço a minha pausa para o café da manhã e posso ficar alguns minutos por aqui descansando, a verdade é que meu corpo não é mais o mesmo e fico cansada com mais facilidade além do que eu preciso me alimentar pois faxinar é um trabalho pesado.
Então pego a minha própria xícara encho de café abro a bolsa e pego meu potinho com fatias de bolo de cenoura com cobertura de chocolate, sem cerimônia me sento na cadeira vazia à frente do chefe e começou a tomar o meu café da manhã, noto que ele está me olhando e então empurro o pote em direção a ele que hesita a princípio mas mete a mão mesmo e pega um pedaço assim como eu fiz, ficamos comendo em silêncio por algum tempo até todo o bolo acabar,o único barulho no ambiente e o ruído baixo da máquina de lavar roupas.
– me fala alguma coisa sobre você – ele começa e me surpreende pelo que diz quase cuspindo meu café e fazendo papel d boba, o que esse homem pode querer saber da minha vida? Ele parece adivinhar o que estou pensando pois diz – eu gosto de conhecer pessoas novas, todos pensam que por estar na minha posição eu sou esnobe, mas no fundo sou um homem bem simples.
– Um homem simples com uma frota de aviões e uma conta multimilionária – falou atrás da minha xícara e ele sorri
– O que vale é o que tem por dentro.
– Certo, e o que você Ceo da Lunnar viações quer saber sobre mim a faxineira?
– O que aconteceu com as suas sobrancelhas?
– O que aconteceu com a sua cara? – as palavras saem da minha boca antes que eu possa impedir, meus olhos se arregalam e levo as mãos tapando a boca, ele fecha a cara por um momento e eu penso que esse é o meu fim porque meu filtro foi falhar logo agora? Mas então ele abre um sorriso.
– Boa jogada, muito justo eu fui invasivo e peço desculpas por isso.
– Não, eu fui indelicada e falei totalmente sem pensar, é que chama bastante atenção – falo sobre a cicatriz que ele tem do lado esquerdo da face ela pega toda a bochecha desde perto da orelha até próximo a boca
– Vamos fazer uma aposta, contamos as nossas histórias, nossas tragédias, é quem tiver a mais triste ganha.
– Que tipo de jogo é esse? – falo depois de passar um guardanapo sobre a boca para limpar as migalhas de bolo.
– Eu sou rico e sou excêntrico, se acostume. E aí topa a aposta?
– E o que vamos apostar? Porque olha eu sou pobre viu além disso se eu tiver que te dar algum dinheiro vou estar devolvendo para você.
– Se eu ganhar você vai fazer esse bolo delicioso para mim quantas vezes eu quiser até eu ir embora.
– Se eu ganhar quero um jantar um bem chique – falo estendendo a mão para ele que a apertar – você começa dê o seu melhor.
– Eu peguei minha mulher na cama com dois homens, um deles era o meu sócio e então nós dois brigamos, trocamos socos e uma mesa de vidro foi quebrada, ele agarrou um pedaço de vidro, partiu para cima e conseguiu acertar o meu rosto. Esse – ele aponta para a cicatriz –foi o resultado.
– Uma história intensa com direito a traição e troca de socos. Eu achava que só rolava esse tipo de barraco lá no meu bairro, mas vocês ricos não ficam para trás.
– A sua vez – ele aponta para mim e se levanta pegando mais café na garrafa, eu fico admirada com suas costas largas e com a tatuagem enorme que ocupa todo o lado esquerdo dela quando percebo que ele acabou de colocar o líquido morno na xícara abaixo os olhos para não dar bandeira.
– Eu tive câncer no colo do útero, fiz uma histerectomia total, eles tiraram tudo, mas mesmo assim e eu tive que fazer quimioterapia o que me explica a falta de sobrancelhas, a cereja do bolo é que o meu marido me deixou no começo do tratamento pois não queria estar ligado a uma moribunda eu fique doente, sozinha e sem dinheiro algum.
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NOSSO RECOMEÇO
Short StoryLiana viveu uma vida de privação e abuso, depois de passar e vencer uma doença séria ela está pronta para recomeçar sua vida e encontrar seu lugar no mundo. Arlindo sempre viveu uma vida de privilégio, mas isso não impediu que a dor e a tragédia s...