Observo a pequena mulher negra a minha frente e não posso negar que o que ela me diz me abalou, é possível notar o esforço que ela faz para não dar as lágrimas que se empoçam embaixo dos seus olhos, ela é forte, durona. Gosto disso!
– A minha mulher tentou vender a minha neta – falo num impulso, até eu me surpreendo com as palavras que saem da minha boca , eu sou um homem bastante fechado, quase não tenho amigos e discutir minha vida pessoal não é algo que eu faça com frequência, mas eu queria ter algo que fizesse com que ela mudasse o rumo dos pensamentos, além disso estar aqui sentado apenas tomando café depois de comer um delicioso bolo caseiro com um mulher bonita desperta um lado adormecido meu.
– O meu pai me vendeu quando eu tinha dezesseis anos – ela fala e arregalo meus olhos com surpresa e olha que tem poucas coisas que me surpreendem a vida. – Que foi? O jogo não era rebater as coisas tristes da vida com coisas mais tristes?
– Sim, mas não é todo dia que se escuta algo como isso. – falo sorvendo o último gole de café.
– A gente era pobre, estávamos passando fome, o meu ex marido deu dinheiro e meu pai deu a filha bonita e virgem.
– Eu sinto muito – falo sincero.
– Você vai tentar rebater essa?
– Não, ser vendida pelo próprio pai entra em outro nível qualquer coisa que eu disser agora vou parecer o pobre menino rico, você é a campeã. Mas acho que não cabe os parabéns não é mesmo.
– Quem diria que eu ganharia uma aposta de um bilionário bonitão.
– Então me acha bonito?
– Eu já não sou uma menina boba e tímida e você não me parece um homem que não saiba o charme que tem – ela fala se levantando quando o um apito sonoro se faz presente, se abaixa perto da lavadora e retira minha camisa azul de dentro dela – aqui está sua camisa, vou dar a você privacidade para se vestir, isso foi divertido. Tenha uma boa vida senhor Arlindo.
– Sexta às oito.
– O que? – Ela questiona antes de sair do cômodo
– Pego você na sexta às oito para levá-la para jantar, você ganhou e eu sou um homem de palavra.
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– Minha princesinha linda – falo assim que entro na sala da casa da minha filha e genro, a Lucy vem na minha direção com passos rápido e eu me precipito para apará-la no meio do caminho, eu a abraço forte sentindo seu cheirinho gostoso. – cade o seu irmão ?
– teu teu
– isso meu amor cadê o matheus
– o seu neto está aqui, eu tive que dar outro banho nele porque rolou na terra junto com o Eros – camilly fala descendo as escadas o pequeno sapeca no colo.
Meu neto lindo faz festa quando me vê e quase pula do colo da mãe, me apresso para pegá-lo apenas com um braço pois ainda não coloquei a Lucy no chão.
– é sempre assim quando os avós chegam a mãe fica esquecida – camilly fala, mas percebo que é só drama quando ela se joga no confortável sofá e sorri para mim.
Eu me derreto com o sorriso dela, eu errei tanto com Camilly e por minha causa ela sofreu muito na vida. Eu podia ter brigado por ela, eu podia ter me dedicado mais, poderia ter feito tudo diferente se tivesse só um jeito de voltar atrás e mudar o passado e concertar os meus erros eu iria agarrar com unhas e dentes.
–Nós estamos bem papai – ela de repente fala me tirando dos pensamentos.
– Coloco os gêmeos no chão e eles correm em direção a brinquedoteca gritando divertidos, me sento ao lado da minha filha e pego suas mãos.
– Eu só queria ter sido um pai melhor para você. Aliás eu queria ter sido um PAI para você coisa que não fui, você é uma mãe tão boa e dedicada apesar de mim e apesar da sua mãe que me enche de orgulho, mas na mesma medida eu me sinto culpado filha, por não estar lá para você por ter permitido que sofresse tanto na vida – confesso emocionado e percebo lágrimas se formando nos olhos dela também. – Mas eu não sabia filha, eu achei que uma garota ficaria melhor com a mãe. À medida que o tempo passava eu queria vir te ver ou levar você para me visitar, mas a Melissa dizia que você não queria ter contato e eu fui um frouxo por não insistir.
– Eu já deixei o passado no lugar dele pai, ficar remoendo não vai nos levar a lugar nenhum. Sem contar que de uma maneira torta tudo que eu vivi me levou a estar aquele dia na mata, daí o Eros trouxe o Bento até mim e eu encontrei o amor da minha vida e o pai dos meus filhos. Pelo Matheus, a Lucy e a pequena Amara que tá lá em cima dormindo eu sofreria o dobro.
– M.as você não merecia ter que sofrer meu abandono.
– você está aqui agora e isso que importa, você pegou um avião e veio só pelo aniversário dos gêmeos.
– Mas eu deveria ter vindo pelos seus aniversários também minha princesa. – falo passando as mãos pelos cabelos loiros dela que chega mais para perto de mim me dando um abraço de lado.
– Você pode vir nos meus aniversários agora, me trazer presentes... presentes caros para compensar.
– O seu marido e rico – falo só para provocar e ela ri suavemente
– Mas eu gosto de ser mimada por todos os homem da minha vida. Até o meu cunhado Benício me deu um colar de Diamantes e vou passar esse ensinamento para o matheus.
Um chorinho plácido toma o ambiente e Camilly se inclina para pegar a baba eletrônica em cima da mesa de centro, ela suspira pegando o aparelho e pelo pequeno monitor observamos a minha outra princesinha que está esperneando no berço.
– Eu vou lá, em breve o jantar vai ser servido.
– Fica ai, relaxa, toma um vinho quem sabe. Os dois estão tranquilos lá na brinquedoteca e eu vou bancar o vovô babão com a minha Amara.
Camilly sorri pra de um jeito que faz tudo valer a pena, me levanto dando um beijo na sua cabeça e subo as escadas correndo e quando abro a porta do quarto da minha neta mais nova já está de pé no berço, com seus seis meses a Mara é uma mocinha que se acha independente e já se levanta em qualquer oportunidade.
- você quer dançar com o vovó my sweet? – a chamo de docinho e ela sorri para mim com seus dois dentes solitários. Me inclino pegando no berço e danço com ela pelo quarto.
Curtindo o que realmente importa nessa vida.
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NOSSO RECOMEÇO
Short StoryLiana viveu uma vida de privação e abuso, depois de passar e vencer uma doença séria ela está pronta para recomeçar sua vida e encontrar seu lugar no mundo. Arlindo sempre viveu uma vida de privilégio, mas isso não impediu que a dor e a tragédia s...