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Atena não conseguia dormir, a chuva lá fora a manteve inquieta em sua cama o tempo todo se mexendo em busca de uma posição confortável que nunca veio. Rendendo-se a sua insônia costumeira ela se levantou da cama se sentindo miserável e caminhou até o balcão de sua cozinha.

A pequena cabana de Atena costumava ser aconchegante apesar de pequena mais em dias como aquele ela se sentia sufocada pelas frágeis paredes de madeira. Só havia dois cômodos em sua casa, um banheiro minúsculo onde o seu velho chuveiro ficava desconfortavelmente perto de mais da privada, e um quarto que também era sua sala e cozinha.

A pequena cama de Atena ficava encostada na parede em um canto da casa, se ela desse dez passos para longe de sua cama logo ela estaria esbarrando no balcão de sua elaborada cozinha. Era aconchegante apenas porque Atena se esforçava para fazer daquele pequeno lugar seu refúgio, mas as vezes era extremamente sufocante.

Atena preparou uma xícara de chá para si mesma, algumas folhas de menta e camomila sempre despertaram um lado mais leve nela, e era tudo que ela precisava naquele momento.

Uma sensação de paz se instalou lentamente sobre ela enquanto o céu parecia se acalmar sobre sua cabeça, a chuva estava cessando talvez ela pudesse voltar a dormir quando aquelas gotas barulhentas parassem de fazer seu telhado zumbir. 

Fechando os olhos ela tentou sentir novamente aquela doce paz que vinha com o sono, Atena inspirou profundamente lembrando-se de que relaxar era o primeiro passo para atingir uma boa noite de sono.

Ela inspirou e expirou até algo atingir seus sentidos. Picante, como canela ou talvez um pouco mais doce como noz-moscada, não talvez fosse algo mais frutado...

O cheiro era tão fugaz, tão...atraente.
Concentrando-se o máximo que podia, ela sentiu algo a mais, maçãs talvez?  O cheiro se fortaleceu em sua mente aguçando-a a adivinhar. Era algo que ela já havia sentido antes, algo que ela até mesmo sentia que se lembrava vagamente.

Chá da vovó! Ela quase gritou para si mesma animadamente, aquele cheiro de noz-moscada, maçã e canela era o mesmo odor que ela sentia quando sua avó costumava cozinhar em uma grande panela em seu velho fogão de lenha e prometia a Atena que se ela se aproximasse o suficiente de seu enferrujado caldeirão ela poderia sentir no odor de sua mistura algo de seu futuro. Atena nunca entendeu como alguém poderia "cheirar seu futuro" mas ela sentiu aquilo.

E ela continuou sentindo maçã, canela e noz-moscada todas as vezes em que sentava com sua avó e aprendia quais ervas eram ou não comestíveis, ela sentia...até sua avó não poder mais cozinhar para ela.

Uma luz intensa chamou a atenção de Atena do lado de fora de sua cabana, ela estava acostumada em ver aquela pequena luz azul brilhar sempre que algo se apertava profundamente em seu peito. Mas ela não estava se sentindo amarga apesar da triste lembrança, porém a pequena luz azul também não parecia estar ali para confortá-la e sim instigá-la a segui-la.

E foi o que Atena fez, ela deixou sua caneca ainda cheia em cima do balcão e pegou sua surrada capa de chuva antes de abrir a porta e se jogar nas últimas gotas grossas que despencavam do céu.

A luz azul guiou Atena pela floresta ao seu redor, e ela a seguiu por entre as árvores. Cada vez que ela pensava no cheiro que sentiu em sua cabana mais ele ficava forte ao seu redor. Um tremor atingiu seu corpo quando uma brisa fria adentrou em sua capa de chuva, um pouco de receio encheu seu peito mas ela se convenceu a continuar uma vez que aquela luz brilhante nunca a colocaria em perigo.

Mas algo chamou sua atenção minando qualquer confiança que ela poderia ter, algo na floresta fazia um som terrível de dor quando de um de seus vários arbustos surgiu um lobo absolutamente enorme e incrivelmente ensanguentado.

Atena sentiu todo o seu sangue gelar quando a fera arrastou-se para o céu aberto. A luz da lua brilhou no céu apenas o suficiente para ela ver os selvagens olhos da fera procurando por algo.

Ela tentou correr mas seu corpo tenso não respondeu como ela esperava e Atena desabou de bunda na lama em baixo de seus pés.

Então os selvagens olhos do mostro se agarraram a ela, e toda a sua alma gritou de pavor dentro dela.
Mas algo...algo brilhou nos olhos da fera permitindo que ela pudesse voltar a respirar. Não havia nenhum cinza gélido brilhando em sua superfície, mas sim um quente caramelo. E Atena não viu insanidade brilhando através deles, mas sim...dor, medo, anseio e derrota.

O ar escapou dos pulmões da fera no que soou para ela como um grande suspiro, ou o último suspiro, e então ele desmaiou desabando sobre a lama como ela própria havia feito a alguns instantes.

O corpo de Atena tremeu violentamente com a cena a sua frente, todos os seus instintos imploravam para que ela fugisse mais suas pernas não obedeciam seu comando.
Uma brisa leve tocou seu ombro e Atena ergueu seu olhar apenas para encontrar uma mão em seu ombro e olhos quase tão azuis quanto os seus brilhando para ela com um pedido silencioso.

Salve-o.

Perigo Irresistível - Série Lobos De Lakeville- Livro 3Onde histórias criam vida. Descubra agora