❦︎ capítulo 1 ❦︎

881 58 86
                                    

Está vendo aquele traste fedido e barbudo jogado no sofá?

O cara vestindo uma camiseta cinza imunda e uma calça de moletom rasgada?

Aquele sou eu, Cole Sprouse.

Não costumo ser desse jeito. Estou falando sério, aquele não sou eu de verdade.

Na vida real, sou elegante, sempre faço a barba, e penteio (ou tento pentear) meu cabelo preto para trás de um jeito que dizem me deixar com um ar ameaçador, mas profissional. Meus ternos são feitos à mão. Uso sapatos que custam mais do que o seu aluguel.

Meu apartamento? Sim, o lugar em que estou agora. As cortinas estão fechadas e os móveis refletem o tom azulado da TV. As mesas e o chão estão cheios de garrafas de cerveja, caixas de pizza e potes de sorvete vazios.

Este não é o meu apartamento de verdade. O lugar onde vivo é impecável, uma moça o arruma duas vezes por semana. Tem todo tipo de conforto moderno, todo brinquedo de gente grande que você possa imaginar: som surround, e uma grande TV de plasma, que faria qualquer homem ficar de joelhos e implorar por mais. A decoração é moderna – com muito preto e aço inoxidável –, e qualquer pessoa que entra no apartamento sabe que um homem vive ali.

Então, como disse, o que você está vendo agora não é o meu verdadeiro eu. Estou gripado.

Influenza.

Já reparou que algumas das piores doenças da história produzem um som lírico? Palavras como malária, diarreia, cólera. Você acha que isso é proposital? Que é um modo bonito de dizer que você se sente como algo que saiu da bunda do seu cachorro?

Influenza. Soa interessante, depois que você se acostuma.

Pelo menos é o que acho que tenho. É por isso que estou confinado em meu apartamento nos últimos sete dias. É por isso que desliguei meu telefone, que me levantei do sofá apenas para usar o banheiro ou para receber a comida que pedi.

Por quanto tempo a gripe dura? Dez dias? Um mês? A minha começou há uma semana. Meu alarme tocou às cinco horas da manhã, como de costume. Mas, em vez de me levantar da cama para ir ao escritório, onde sou uma estrela, joguei o relógio para o outro lado do quarto, destruindo-o totalmente.

Era muito irritante mesmo. Relógio imbecil. Alarme imbecil.

Eu me virei e voltei a dormir. Quando finalmente resolvi tirar minha bunda da cama, me senti fraco e nauseado. Meu peito e minha cabeça doíam. Viu, é gripe, não é? Não conseguia mais dormir,então me instalei no meu fiel sofá. Estava tão confortável que decidi ficar aqui mesmo. Durante a semana inteira. Assistindo às melhores obras de Will Ferrell na minha TV de plasma.

O âncora: a lenda de Ron Burgundy está passando neste exato momento. Já assisti três vezes hoje, mas ainda não dei uma risada. Nenhuma mesmo. Talvez na quarta vez a graça apareça, não é?Agora alguém está batendo na minha porta.

Maldito porteiro. O que está fazendo aqui? Ele vai se arrepender disso quando receber minha gorjeta de Natal este ano, pode apostar.

Eu ignoro as batidas, apesar de soarem de novo.

E de novo.

– Cole! Cole, eu sei que você está aí! Abra a maldita porta!

Ah não.

É a Vaca, também conhecida como minha irmã, Alexandra.

Eu uso a palavra vaca do jeito mais carinhoso possível, eu juro. Mas é o que ela é: chata,teimosa, insistente. Vou matar meu porteiro.

ꨄ︎ 𝐀𝐓𝐑𝐀𝐈𝐃𝐎 ᵃᵈᵃᵖᵗ ˢᵖʳᵒᵘˢᵉʰᵃʳᵗ Onde histórias criam vida. Descubra agora