𝐃𝐈𝐀𝐑𝐘 | sydina [✓]

004 ━━━━━ O sumiço

"Querido Diário, hoje você sumiu".

Esse seria o jeito o qual iria começar a escrever na página de hoje, caso eu ainda estivesse com o meu diário de capa bizarra.

Estou entrando em pânico, não consigo respirar.

Ok, ok, Sydney, se acalme. Respira, inspira. Respira e... Droga, quebrei o lápis.

Aonde você poderia ter deixado? Onde?

Tinha olhado em todos os lugares que poderia estar. De manhã, revirei todo o meu quarto, depois a sala, a cozinha, o banheiro. Fui até no porão, enfrentando todos os meus demônios para isso. Mas nada. Ele tinha simplesmente evaporado.

Quer dizer, evaporado não, ele havia sumido. E provavelmente estaria na escola: o último local que eu queria ir no momento.

Hoje era sábado, mas a escola estava aberta apenas por conta do time de futebol. Olhei o relógio grande da cozinha, era de onze de manhã, hora do futebol feminino.

Mas eu não podia ficar sem ele. Não agora. Acho que desenvolvi alguma dependência bizarra com esse caderno tosco. Eu preciso dele. Estou prestes a explodir, preciso de um lugar para xingar tudo e todos.

Olhei determinada para nenhum ligar em específico decidindo ir até lá e revirar aquela escola toda até achá-lo. Talvez eu tinha esquecido com a orientadora! É, deve estar lá. Até porque eu não sei o que irie fazer se não estiver.

O caminho da minha casa até a escola não era longo, demorava entorno de uns dez minutos de caminhada. Porém o meu desespero era tanto que em apenas cinco minutos eu já estava entrando pelo portão da escola a todo vapor.

Falei com o zelador que tinha esquecido o meu livro de matemática ali e que eu precisava pegá-lo o mais rápido possível para terminar uma tarefa super importante, ele deu de ombros e falou que sabia que não era por essa razão que eu estava na escola num sábado e completou com um:

─ Mas eu não ligo. Toma ─ E arremessou um molho de chave para mim. ─ Pode procurar por todo o canto o que você realmente quer procurar, aproveite que as câmeras estão desligadas à essa hora.

E pelo corredor para continuar seu trabalho. Comecei a procurar o meu diário, ele tinha que estar aqui.

Quarenta minutos.

Esse foi o tempo que demorei para aceitar que não estava em lugar nenhum. Procurei em todos os cantos possíveis e impossíveis, a conclusão era a mais trágica de todas: eu havia perdido o meu tesouro mais precioso e vergonhoso.

Eu estava perdida.

Comecei a pensar na possibilidade de alguém tão cruel quanto Brad (ou o próprio) por as mãos no meu diário. Mas que droga... Eles leriam todos os meus segredos mais esquisitos e mais...

Merda. Eles leriam que eu estou apaixonada pela Dina. Eu viraria motivo de piada e, se Dina já não estivesse convencida o suficiente, depois de ontem, de que deveria parar de falar comigo, com certeza agora ela o faria.

─ Por que você tinha que ser uma porra de uma esquisitona, Syd? ─ Perguntei para mim mesma, sentando-me no chão, vencida, enquanto eu tentava não chorar ou quebra alguma coisa.

Eu estava tendo esse momento super alegre comigo mesmo quando Dina entrou no vestiário.

─ Ah, ─ Ela falou quando me viu, parando bem ali, meio desconfortável. ─ Syd... O que está fazendo no vestiário feminino num sábado?

Ah, é mesmo. Dina fazia parte do time de futebol feminino ─ parabéns, Sydney, você segue arrasando como sempre. Como pude esquecer disso justo quando a última coisa que eu precisava era esbarrar com ela?

Me levantei de maneira rápido ─ e quase cai no processo. Não sorri nem nada do tipo para aliviar o clima, tinha a impressão que se eu fizesse isso, o clima iria pesar ainda mais; por isso apenas falei:

─ Esqueci uma blusa aqui depois da aula de Ed. Física ─ Menti. ─ E a minha mãe está exigindo ela, então...

Estalei a língua, eu estava completamente sem graça, mas ela parecia pior ─ notei isso quando ela apenas balançou a cabeça e disse:

─ Ok.

Ela não quis saber que blusa era ou indagou o porque da minha mãe se importar justamente com essa blusa ao ponto de me obrigar a ir na escola apenas para procurá-lo.

Então, percebi, que todos os meus medos estavam se tornando realidade: eu estava ficando distante da Dina. E o motivo foi eu, foi por minha causa que isto estava acontecendo.

Foi aí que eu fiz algo que nunca pensei que iria fazer na minha vida: tomei uma atitude para consertar isso.

─ Escuta, Dina ─ Ela ia abrir o seu armário, mas parou no meio do processo ─ eu não estou seguindo você, 'tá bom? Mesmo que pareça, eu não sou tão bizarra assim.

─ 'Tá legal ─ Seu tom de voz frio parecia me cortar aos poucos.

Continuei, mesmo querendo parar de falar. E ela continuou a não me encarar, continuou a mexer em seu armário procurando por algo que eu não importava o que era.

─ O que eu 'tô querendo dizer é: me desculpa por ter te beijado naquela festa ─ Falei de uma vez.

Finalmente ganhei a atenção de Dina, a garota de cabelos cacheados me encarou, esperando.

─ Não sei porque eu fiz isso, eu juro. Não queria ter te beijado assim, sem mais nem menos, e ainda por cima pelo fato de você namorar e realmente gostar do cara ─ Eu estava falando rápido de mais, parecia que alguém tinha apertado um botão em mim. ─ Sei que isso foi traumatizante para você, tipo, eu também ficaria traumatizada se alguém como eu tentasse me beijar, mas se você puder simplesmente esquecer isso e continuarmos como era antes... Iria ser tudo para mim.

Recebi silêncio em resposta.

Longos minutos de silêncio.

Ela parecia pensar. Virou-se novamente para seu armário, pegando algo de dentro dele e o fechando ─ e demorando demais nesse processo ─ e, então, olhou para mim de novo.

─ Não sei se vamos conseguir continuar o que éramos antes ─ Falou.

Senti algo quebrando dentro de mim.

─ Ah, ok. Eu entendo ─ Disse, cabisbaixa.

─ Ei, olha, o que eu 'tô querendo dizer é que... ─ Sua voz parecia... Nervosa? ─ O beijo. Ele... Não foi tão ruim assim.

Congelei.

Mas que porra ela acabou de dizer?

─ Preciso de um tempo afastada para pensar um pouco, entende? ─ Ela disse, lançando um breve sorriso para mim.

Balancei a cabeça, talvez rápido demais.

─ Entendo, entendo. Sim. Ok ─ Falei.

Ela quase riu, mas segurou.

─ A gente se vê por aí ─ Ela disse.

─ Beleza ─ Falei enquanto ela saia ainda tentando entender o que rla havia dito.

O beijo não foi tão ruim assim.