005 ━━━━━ Li aquelas páginas

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Já passara algumas semanas desde o sumiço do meu diário e ainda não tinha nenhum de onde ele poderia estar.

Sem exagerar, eu o procurei em toda parte ─ praticamente revirei a cidade inteira ─ e nada ainda. Perdi as esperanças de encontrá-lo novamente. Apenas espero que ninguém nunca o encontre e, se encontrarem, que seja muitos anos no futuro ─ quando eu já estiver entrando em decomposição à sete palmos da terra, algo que eu tenho quase certeza que não demorará muito.

── Sydney? ── A voz rouca da orientadora, que cheirava a maconha, me fez despertar dos meus pensamentos, levei um leve susto. ── Me responda.

── Perdão... É, eu não ouvi ── Falei simples.

── Ainda não achou seu diário, certo?── Tive vontade de socá-la, não era óbvio?

── Certo.

── Bem, então, como já faz muito tempo que vem procurando, acho que está na hora de você aceitar a derrota e pegar outro ── Ela pegou um caderno roxo com estampa de um cachorro bizarro usando óculos em formato de coração. É sério, onde ela compra esses cadernos?

Me entregou, sorrindo sem mostrar os dentes. Não me dei o trabalho nem de fingir sorrir.

── Obrigada... Eu acho ── Disse, examinando o caderno que agora estava em minhas mãos. ── Não vai ser a mesma coisa com esse aqui.

── É claro que vai! O processo é o mesmo. É só pegar uma caneta e começar a escrever, deixar fluir, sabe? Descarrega tudinho ── Ela gesticulava enquanto falava, muito. ── Isso ajuda você. Precisa se esforçar, mesmo que não queria. Faça isso pelas pessoas que você ama.

── Bom, as pessoas que eu amo não estão mais falando comigo ── Disse sem pensar. ── Nem meus melhores amigos, nem minha... mãe. Bem, meu pai também não fala já que, você sabe, ele está morto.

Ela ficou assustada com o meu comentário repentino, arregalando os olhos e pensando no que poderia dizer para que eu magicamente parasse de pensar em tais fatos dessa maneira.

Molhando os lábios, começou o que eu sabia que iria se tornar um monólogo motivational e sem sentido:

── Bem, Sydney, realmente, seu pai está morto ── A olhei com mais atenção, impressionada com o comentário frio e direto vindo da mais velha, sentindo o peso das palavras no meu coração. ── E não há nada que você ou qualquer um possa fazer quanto a isso. É uma pena, é muito triste, mas é a realidade.

Suspirou, dando uma pausa. Desviei meu olhar por um segundo, digerindo o que ela dizia e era quase inevitável me lembrar do meu pai ─ vivo e, então, morto no porão com uma corda no pescoço.

── Mas podemos nos conectar, desconectar e reconectar com as pessoas. Com as pessoas vivas, que estão aqui agora e que, num determinado momento, não estarão mais ── Falou. ── Ainda há pessoas vivas que valem a pena, Sydney. E seus amigos são um bom exemplo disso. Precisa tentar conversar com eles, mostrar o quanto eles significam para você. Precisa tentar concertar essa situação.

── Eu só queria que as coisas voltassem a ser como antes ── Supliquei, as lágrimas começaram a brotar deixando a minha visão turva. ── Quando eu não tinha esses pensamentos corrosivos, quando a minha mente não era um fardo... Quando nada era pesado, tudo era tão leve. Eu só queria voltar no tempo.

── Ah, mas, Sydney, infelizmente, você não pode fazer isso. E, mesmo que fizesse, em um determinado ponto, o tempo iria passar e as coisas iriam mudar. A mudança é normal, querida. E você não pode passar toda a sua vida fugindo dela, precisa enfrentá-la. Às vezes mudanças difíceis são as que escondem os melhores presentes.

𝐃𝐈𝐀𝐑𝐘 | sydina [✓]Onde histórias criam vida. Descubra agora