3 - Rastro de Sangue

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"Onde arranjou essas marcas?!" Q mulher negra indagou preocupada enquanto limpava o homem sentado na cadeira com o cenho levemente franzido.

"Estava brincando de cão e gato, Angela." Ironizou. A mulher revirou os olhos castanhos enquanto torcia o pano em água fresca em um balde sob a mesa de centro na sala de estar.

"Se não começar a dizer a verdade não vou poder te ajudar, Jason." Ela esquentou uma pinça fina metálica sob uma vela branca cuja a chama era mais vermelha que o normal. "Precisa entende isso." Reclamou. Ele a olhou e sorriu levemente.

Ela verificou a temperatura da pinça e avançou sobre ele enfiando o objeto metálico no buraco da bala de prata que havia em seu peito largo. Ele prendeu a respiração e lidou com a dor cerrando os punhos enquanto ela tentava retirar a bala sem fazer maior estrago. Pensou em alcançar alguma coisa, mas se mexer poderia ser perigoso. Nem mesmo o comprimido que havia tomado o livrou dessa. E quase nunca tomava medicamentos de qualquer espécie.

"Estou quase terminando." Angela avisou enquanto retirava a bala devagar ainda sentada em seu colo.

A bala saiu deixando um rastro de sangue pelo ferimento e Angela tratou de por objeto metálico em um pote ao lado da pinça e limpou o entorno do ferimento nele. Até todo o fragmento de prata sair do corpo o ferimento de bala demoraria a fechar ainda.

"Pronto. Vai precisar se alimentar e descansar. Tente relaxar, vou fazer alguma coisa pra você comer." Ela se levantou do colo dele que negou.

"Obrigado, Angela, mas não se preocupe eu vou ficar bem. Vá pra casa antes que fique tarde." Ele disse e vestiu a camisa olhando o horário no relógio de parede que tinha acima da lareira marcando mais de 3 horas da tarde.

"Sério? Me pede ajuda pra cuidar de você e agora vai me dispensar?" Cruzou os braços arqueando a sobrancelha.

"Eu agradeço pela ajuda, Dra. Clark." Jason respondeu amistoso e sorriu de leve para ela que ainda o olhava.

"Tem certeza? Posso te ajudar com isso." Ela arrumou as coisas ainda o observando.

"Vá pra casa, Angela." Ele deitou no sofá macio e fechou os olhos tentando relaxar apesar da dor. Angela respirou fundo negando, ele era tão teimoso quanto era bonito.

"Me avise se sentir qualquer coisa." Ela sussurrou e deu um selinho rápido nos lábios dele e saiu levando suas ferramentas de trabalho.

Jason apreciou o silêncio do local depois que o carro saiu. E com a lareira produzindo calor sob seus pés e a maciez do sofá adormeceu tão rápido que nem reparou no telefone que piscava em uma chamada insistente.

(...)

O Delegado Devon O'Connor respirou fundo desligando o celular. Seu corpo constantemente soltava um ar denso como se tivesse fumado. Os rastros de sangue no gelo encontrados envolta dos corpos dilacerados era uma cena um tanto quanto perturbadora, porém não surpreendente. Algo havia acontecido de sombrio, mas os 8 corpos só haviam sido encontrados por um turista pela manhã. A notícia se espalhou rápido pela cidade e antes das 5 da matina estava de pé resolvendo tudo.

"Tem vestígios de animais para todo lado. Tem mais ou menos três à quatro horas que os corpos estão aqui." A mulher asiática se aproximou enquanto seus assistentes fechavam os corpos sacos pretos. "Conseguiu falar com ele?"

"Ele não atende, vou falar com Ângela. Ela deve saber." Respondeu e caminhou com ela de volta para a estrada onde estavam os carros.

"Acha que foi ele?" Ela sussurrou um tanto quanto tensa.

"Pode ser ele, pode ser um urso, pode ser qualquer um. De qualquer jeito vamos verificar o perímetro." Entrou no carro e dirigiu para fora dali com as sirenes ligadas.

A legista observou-o sair com o carro e voltou aos rastros de sangue no gelo. Ela se abaixou e tirou uma amostra do gelo ensanguentado, mas quando se levantou com o vento soprando em sua nuca sentiu um arrepio ao imaginar o que poderia ter acontecido ali. Guardou a amostra no bolso dentro de um plástico e se aproximou dos pinheiros altos esbranquiçados de tanto gelo. Um deles tinha uma marca de uma guarra tão grande quanto a de um leão ou um urso. Mas não era a estação mais propícias para eles. Ela passou a mão ainda fechada a luva cirúrgica pela marca grande e sentiu uma energia de eletricidade passar por todo seu corpo e irradiando em seus olhos que se arregalaram e sua visão nublou rapidamente.

Seis dos oito homens se enquadraram em uma roda de proteção olhando atentos para todos os lados. A neblina escura deixavam as luzes das lanternas em suas cabeças turvas e com rastros de fumaça. As espingardas engatilhadas alcançavam no som da floresta qualquer movimento de um animal ou algo do gênero. Então os gritos vieram juntos dos passos afundando no gelo profundo e algo pesado rompia o barulho de repente. Rosnados pareceram estremecer até as árvores. As batidas dos corações dos caçadores aceleraram. Cada minuto era ainda mais sombrio.

Até que veio. Como se tivesse esperando muito tempo. Atacando por todos os lados fazendo os homens dispararem as armas no escuro e acabando por atingir uns aos outros e a figura sombria como a noite cobriu-se em silêncio profundo.

A mulher se afastou tão rápido daquela visão que acabou caindo com os joelhos no gelo. E resmungou algo incompreensível antes de se levantar e retornar ao carro. Jogou-se no banco do motorista fechando a porta rapidamente apreciando o carro parecer tão quente e macio. O celular vibrou na bolsa chamando sua atenção para bolsa no banco do passageiro. Suspirou.

"Judge." Atendeu batendo nas próprias calças para espantar o frio. "Sim, avise que eu estou a caminho." E mais um carro partiu pela estrada vazia abrindo caminho entre os rastros de gelo.

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