Prólogo

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"O QUE VOCÊ QUER DE MIM?" O homem gritava escorado sobre o tronco de um alto pinheiro. O vento de extremo frio e a escuridão profunda eram a única coisa que o acompanhavam. "EU JÁ NÃO TE DEI O QUE VOCÊ QUERIA? EU MATEI POR VOCÊ!! VOCÊ ME PROMETEU LIBERDADE E O QUE VOCÊ FEZ? ONDE VOCÊ ESTÁ?" Mesmo que não enchegarsse quase nada ainda movia sua cabeça por todos os lados tentando se manter atencioso a qualquer movimento ao seu redor.

A floresta era um labirinto a luz do dia e a noite parecia ainda pior. Ele não sabia onde estava não sabia mais por onde entrou e muito menos como sair. O medo gritava em seu coração e pulsava em suas veias. Cada minuto sem resposta era uma eternidade. Fechou os olhos tentando controlar a respiração alterada e pela primeira vez rezou para que Deus o ouvisse e que pudesse sobreviver aquilo.

Mas não havia nada a seu favor e soube disso quando a sombra escura de um homem alto surgiu que rosnou ao ser notado.

"Com medo, carneirinho?!" Da sombra soou uma risada fria e pertubadora. "Eu poderia deixar você vivo, mas você me traiu. Então eu vou te matar, te comer e enviar o que restar pro seu filho para que ele tome como exemplo de como sofrem os traidores." E avançou rápido mordendo o ombro do homem com força quase o arrancando por inteiro do lugar enquanto o homem gritava de dor. "Ah, desculpe? Eu não te contei? Eu quero te comer vivo." Ele pegou o outro do pinheiro e o levantou o jogando pra longe batendo em mais algumas árvores antes cair no chão frio sem saber que não muito longe dali a mulher sentia a mesma dor.

Ela ofegava alto sentindo a dor de ser rasgada em pedaços. Sua cabeça girava e seu sangue pareceu pesado ao passar pelas veias quentes pulsando nos ouvidos. E o último grito que ecoou pela floresta não deixou sobrar cada vidro ou cristal presente na casa. E sem conseguir conter as lágrimas de sangue que corria por seu rosto fino, ela ofegou. Era tarde demais.

[...]

O som rasgado de guitarra preenchiam todo o espaço de um Dodge 1970 preto com rodas para neve. Era aquele som Indie Rock que a aquecia do inverno brutal fora daquela lataria, não se lembrava a ultima vez que dirigiu por um estrada vazia, mas era divertido. Há tempos não se sentia tão relaxada. Seu corpo balançava ao som da música enquanto fazia mimica com os lábios como se o som da voz do cantor saísse de si. Das janelas do carro podia ver a neve caindo e as folhas que se movimentavam conforme o vento batia, o tempo parecia parado ali, sem a menor vontade de passar. No fundo de seu pensamento sabia que era estranho sentir-se em casa sem nem mesmo ter nascido ali, porém não se importou. 

Não, ali, viajando em pensamentos que balançava conforme o rádio, ela não era a jornalista americana premiada que estava fadada a seguir os passos do Presidente, ou a também denominada como "Lois Lane" da vida real por ser persistente, persuasiva e enxerida. Não. Ali, era Dianna Campbell. A mulher que não via seu pai a mais de 4 anos, pai esse, que recusava-se a por os pés em solo americano desde a morte de sua mãe em um atentado terrorista. A jovem mulher de 28 anos com fisionomia de uma garota de 20, no máximo. O anuncio que estava próxima da cidade de seu pai veio com algumas casas com decorações de Natal, e ainda era fim de novembro! O engraçado era pensar que a maioria daquelas casas lembravam as dos filmes americanos de Natal, as pessoas levavam as coisas a sério por ali. 

Quando o som do rádio mudou levou sua mente junto com ele. A guitarra clássica invadiu diretamente sua cabeça com lembranças de sua mãe. Eagles em Hotel Califórnia. A música que embalou seus ingredientes para vir ao mundo, sua mãe dizia. "Não vi chover mais na mesma quantidade que choveu naquela madrugada..." Ela divagava. "E eu achava que estava pagando todos os meus pecados tendo que aturar o chato do seu pai com o carro atolado em uma tempestade." Ela ria maravilhada.

Sorriu. Ainda podia ouvir o som da risada de sua mãe enquanto aquela música tocava, ela sempre ria contando que seu pai começou a cantar só pra implicar com ela. E o resto aconteceu como se o tempo tivesse parado e as horas ficassem piscando no visor do rádio para esperá-los. Essa era a parte que seu pai completava galanteadoramente que o tempo sempre parava quando estava com ela. Se lembrou de sorrir sempre que os olhava desejando, um dia, encontrar a felicidade que via seus pais, mas o futuro não tratou de ser tão generoso até ali. Não havia coisas boas para se lembrar depois dali e eram essas as lembranças que mais rondavam a sua memória.

O surgimento de um grande e aconchegante chalé fez seus olhos saltarem e seu sorriso retornar com toda a força. Os pisca-piscas coloridos de Natal dava um ar mais fofo ainda ao local. Saltou do carro com dificuldade e levou apenas a mochila no banco do passageiro. Deixaria para pegar o resto das malas depois, por enquanto era o suficiente. O tempo glacial deixava seu nariz vermelho.

Bateu na porta de madeira grossa e mesmo tremendo de frio suspirou animada. A movimentação na casa tornou-se constante e desordenada, estranhou e bateu na porta novamente. A porta foi aberta com força e a visão a surpreendeu.

"Meu amor! Que bom que você chegou!! Estava morrendo de saudades!!" O mais velho usava uma calça jeans desabotoada e com o erro de estar sem camisa. O frio brutal o arrepiou o suficiente para puxar a moça para dentro da casa rapidamente e fechar a velha porta.

"Papai, estava ocupado? Desculpe, eu esqueci a chave em Nova York." Se explicou notando o estranho fato da sala estar desarrumada. Seu pai tinha uma mania de organização que chegava a ser irritante não deixaria sua casa naquele estado e principalmente sua sala.

"Não! Está tudo bem, tudo bem mesmo. O importante é que está aqui!" O mais velho sorriu e avançou abraçando a filha apertado e carinhoso. O homem arregalou os olhos para a mulher há alguns passos atrás que recolhia as roupas rapidamente fugindo para o armário embaixo da escada. "Senti tanto sua falta, minha princesa Diana! Me conta, o que tem feito?!" A soltou segurando seu rosto com carinho e sorrindo.

"Só se me explicar desde quando bagunçar a casa se tornou divertido pro senhor." Dianna o olhou risonha e desafiadora cruzando os braços. O homem não pode deixar de notar o quanto aquele pequeno ato lembrava sua mãe.

"O quê?! Aquilo?" O mais velho se afastou adentrando a casa. "Ah, seu pai mora sozinho e está velho demais pra ficar me preocupando com essas coisas, não." Dianna não pode deixar de rir quando o homem puxou o lençol do sofá dando palminhas como se quisesse espantar a poeira dali sorrindo sem graça. Agradecia por não ter puxado o péssimo mal mentiroso que seu pai era ou teria problemas como jornalista.

"Certo, Bruce." Ela descruzou os braços caminhando para a escada. "Vou tomar um banho, estou exausta." Ela deu as costa subindo as escadas com um sorriso fraco em seu rosto.

"Claro! Ótima ideia, querida. Eu vou preparar algo pra comermos enquanto isso." Ele se animou e caminhou pra cozinha fechando o jeans velhos.

"E papai..." A jovem gritou da escada chamando atenção dele que mudou a rota para olhar mais uma vez para o rosto angelical da filha. "Diga a ela que eu não mordo." Ela piscou para Bruce que a olhou e acabou sorrindo. Quem ele queria enganar?

Quando chegou a cozinha encontrou um bilhete com um beijo de batom vermelho marcado no Post it. Sorriu.

"Adorei a tarde. Quero conhecer sua filha. Me liga." 👄

Protegida do SigmaOnde histórias criam vida. Descubra agora