𝐂𝐀𝐏𝐈́𝐓𝐔𝐋𝐎 𝐔𝐌

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Janis Reed

Pandora está atrasada.

Não a filha de Zeus, embora ela também já deva ter estado atrasada em algum momento. Mas acho pouco provável que tenha sido porque estava se agarrando com algum músico em um pós show.

Clico novamente no telefone, ligando para ela pela quinta vez. Desligo assim que ouço o bip da caixa postal. Ando em direção a porta de aço que leva ao interior da boate, ou o que quer que seja esse lugar. O beco tem um cheiro sujo e as paredes estão molhadas com algo que eu não pretendo nem começar a descrever. Guardo o telefone no bolso de traz da minha calça jeans e ajeito minha blusa para que o decote não fique fundo demais.

Puxo a barra de metal para baixo e empurro a porta com meu ombro. Pisco algumas vezes tentando me acostumar com a falta de iluminação. Tateio com o pé até achar os degraus da escada. Começo a subir e não demora muito para eu sentir saudade do silencio do beco. A música alta, os gemidos e o som de corpos se encontrando começa a ser mais e mais ensurdecedor a cada passo.

Acho que odeio Pandora nesse momento.

Assim que termino de subir minha visão fica um pouco melhor. Há uma mísera lâmpada amarelada no teto e um segurança com um terno dois números maior que ele parado ao lado da porta com os braços cruzados. Ele me lembra Peter, um dos guitarristas da banda do meu pai, com os cabelos castanhos espetados e a barba por fazer. Dou um passo para frente ficando bem no centro da luz para ele ver o meu rosto, sei que me reconhece de imediato, porque nem pestaneja em abrir a porta para mim.

Entro na sala de onde os barulhos estão vindo e...

Sim, eu com certeza a odeio.

Olho de um lado para o outro tentando me orientar. Não é um lugar muito grande. Dois sofás circulares, um de cada lado, e um bar no fundo. A iluminação é fraca, mas ainda assim consigo ver um pequeno corredor logo atras do bar. Começo a andar tentando não pisar em ninguém no processo.

Vejo o que imagino serem quase 70 pessoas, algumas bêbadas, outras transando, umas quatro deitadas no chão e um grupo em um dos cantos fumando. Não achei que o lugar estaria tão cheio, a maior parte dessas festas são extremamente difíceis de entrar e os convidados são bem restritos. Estariam todos fudidos caso um repórter aparecesse aqui.

Todos, inclusive eu.

Sinto vários pares de olhos percorrendo meu corpo enquanto ando, mas me limito a ignorá-los, isso é o que eu menos preciso agora. A irritação flui através do meu corpo a cada passo que dou. Acho que não estou surpresa. Pandora não é de fazer coisas do gênero e não vou culpá-la só por uma deslizada, mas isso não minimiza a vontade extrema que eu tenho de estar em casa.

Me inclino um pouco para o lado, evitando encostar no casal se pegando perto da entrada do corredor e entro. A iluminação aqui consegue ser um pouco melhor, mas isso não faz muita diferença para mim.

Só agora começo a pensar no que eu vou fazer quando a vir. Não posso simplesmente cutucá-la e chamar ela para ir embora. E também não posso dar um dinheiro para ela ir de uber e cair fora. Prometi que a levaria para casa hoje. Bem, acho que terei que ficar com a primeira opção.

Vou contra todas as minhas vontades e espio pelas portas entreabertas tentando achá-la. Nada. Nenhuma das pessoas nos quartos parece notar o que faço, mas eu também não fico tempo o suficiente para que eles me notem.

Olho o sétimo quarto já sentindo minha esperança e paciência se esvaindo. Não consigo imaginar nenhum outro lugar onde ela possa estar, talvez...

-Perdida? – uma mão forte aperta o meu ombro e eu me viro, minha expressão mais irritada estampada no meu rosto.

𝐑𝐎𝐂𝐊 𝐍' 𝐋𝐎𝐕𝐄  [𝐏𝐀𝐔𝐒𝐀𝐃𝐎] Onde histórias criam vida. Descubra agora