𝐂𝐀𝐏𝐈́𝐓𝐔𝐋𝐎 𝐃𝐎𝐈𝐒

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2 meses depois

Janis Reed

Me afundo um pouco na cadeira da faculdade, o cansaço começando a fechar os meus olhos. Não deveria ter dormido tão tarde ontem à noite tentando concluir aquele quadro, agora eu tenho umas boas 5 horas de sono a menos e uma gata machada de rosa...

Viro a tela do meu telefone para cima na mesa.

11:45.

Só mais 15 minutos e poderei voltar para casa. É, poderia ser pior. Só faltam 5 dias para o meu curso acabar e eu estar realmente formada.  Por mais que eu fale que não aguento mais estudar, isso é uma grande mentira. Essas aulas foram o meu porto seguro por quatro longos anos, sinto que estarei perdida quando segurar meu diploma.

A garota ao meu lado está escrevendo freneticamente, o cabelo cor de mel formando uma cascata ao seu redor. Se não me engano seu nome é Agnes, mas não tenho como ter certeza, ela nunca se deu o trabalho de se aproximar e eu muito menos. Uma pontada de arrependimento surge dentro de mim.

A sala está nitidamente vazia, nossas últimas provas foram semana passada e mais da metade dos estudantes não veio desde então. Talvez alguns estejam viajando, ou começando a procurar emprego, ou talvez até mesmo criando uma ong de apoio aos animais. Como eu vou saber?

Olho novamente para a tela do meu celular. 11:59. Me levanto com o casaco xadrez preto sobre o meu ombro esquerdo. Passo por Agnes e sorrio para ela assim que olha para mim, ela não o retribui e eu continuo o meu caminho até a saída.

Me sinto novamente na escola assim que todos os estudantes saem das salas. Sinto falta dessa sensação, das conversas rápidas e das fofocas. Elas ainda devem existir, mas normalmente não são dirigidas a mim porque tem meu nome envolvido. Pelo menos os boatos não mudaram.

Levanto a gola da minha blusa cinza assim que passo pelas grandes portas da universidade, sentindo o frio penetrar a minha pele exposta. Passo pelo gramado que leva até os dormitórios mesmo que eu não esteja indo para lá, simplesmente gosto da visão.

Observo as arvores e os bancos como fiz ontem, e no dia anterior a esse. Inspiro fundo e começo a mexer a mão direita com os movimentos que eu faria caso estivesse com um pincel na mão, pintando um quadro. Essa foi uma das dicas que o meu professor do primeiro semestre de Artes Visuais ensinou.

-Veja as coisas através delas, observe-as e as pinte no ar.

Ele tinha um leve sotaque italiano e seu cabelo já havia a muito começado a cair. Era um homem carrancudo que estava sempre com um cigarro na mão. Me surpreenderia se ainda estivesse vivo. Mas eu gostava dele, gostava do modo como o mundo era simples e pratico em sua visão.

-Um quadro é um quadro e um pintor é um pintor. Não os confunda...

Ele sempre dizia algo do gênero e dava mais uma tragada no cigarro. Sr. Roggers o nome dele, consigo me lembrar.

Volto novamente para a paisagem na minha frente. Assim que dou a última pincelada no ar começo a andar em direção a saída. Tenho que pegar um quadro na casa do meu pai e levá-lo para casa. Isso se ele ainda estiver inteiro. Não me surpreenderia caso Brad tivesse descoberto um novo fetiche em transar em cima de pinturas.

Caminho para fora do campus e instantaneamente sinto falta das arvores e do cheiro da grama recém aparada. Sigo o fluxo de pessoas pelas calçadas sem parar nem por um segundo de mexer as mãos. Pinto rostos, carros, prédios...

Paro no meio fio e aceno, não demora muito para um taxi parar bem na minha frente. Sorrio para o motorista e digo o endereço do meu pai por sobre o seu ombro. Seus olhos se semicerram, consigo imaginar o que se passa na cabeça dele. Sou uma das jovens que frequentam o apartamento dos astros do rock, uma das garotas que se vendem para eles. Bem, o que ele pensa sobre mim não me afeta em nada.

𝐑𝐎𝐂𝐊 𝐍' 𝐋𝐎𝐕𝐄  [𝐏𝐀𝐔𝐒𝐀𝐃𝐎] Onde histórias criam vida. Descubra agora