O Inesperado

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Depois do episódio do jantar, Bright se sentia tão íntimo de Win que podia jurar que conhecia aquele cara há décadas. Passou a madrugada escrevendo, disposto a terminar o livro, dar um final para a sua história. Mas não tinha chegado lá. Ainda. Se distraiu a maior parte do tempo, pensando no seu novo chefe e em como ele ficava mais bonito com os olhos fechando enquanto sorria. Agora Bright estava na editora, acomodado em uma sala reservada para os autores. Ela parecia com uma biblioteca, mas muito mais confortável e aconchegante. Era um espaço para os autores se sentirem bem e inspirados a escrever. Mas a inspiração de Bright estava vindo muito mais por conta da pessoa que estava ali, junto com ele.

— Está ficando muito bom. — Disse Win, ao lado do escritor.

O notebook velho estava em sua frente, enquanto lia o que Bright havia escrito na madrugada.

— Seja sincero.

— Eu estou sendo sincero. Adoro o modo como você escreve. Dá vida aos personagens. É como se eles fossem reais. Eu consigo me sentir dentro da vida deles.

— Ufa. — Soltou o ar, menos apreensivo. Às vezes, não acreditava no próprio potencial, mas, se Win estava o enchendo de elogios, quem era ele para não acreditar? — Só preciso de mais umas oito mil palavras e... fim.

— Vou ficar esperando por isso ansiosamente. — Enquanto Win revisava o texto com calma, Bright olhou através do vidro da sala. Pôde ver Nani, parado no corredor, abraçado com uma prancheta, encarando as costas do homem ao seu lado. Ele parecia decepcionado e o escritor tratou de cutucar os bíceps malhados de Win, pronto para enchê-lo de perguntas. — Qual é o problema?

— O Nani. — Olhou novamente o vidro, mas Nani já havia sumido. — Ele é sempre tão sério?

— Tenho quase certeza de que ele ficou magoado porque decidi trabalhar com você diretamente. Geralmente esse é o papel dele.

— E ele ficou triste, magoado, que seja, só por isso?

— Esse trabalho é importante pra ele. Ele sempre cuida de tudo da melhor forma. Posso dizer que ele é o meu braço direito aqui. Confio plenamente nele.

— Ah. — Foi o que disse, decidindo não adentrar o assunto. Não parecia tão importante. Não percebeu quando começou a encarar os fios pretos e brilhantes de Win, enquanto ele lia concentrado o texto na tela do notebook. Dava para perceber que o cabelo era pintado. — Qual é a cor natural do seu cabelo? — Perguntou, sem pensar.

Win respirou fundo, com pouca paciência. Estava muito concentrado em revisar o parágrafo. Bright não ligou nem um pouco em incomodá-lo. Era atrevido.

— O que levou você a pensar que eu pinto o meu cabelo?

— Porque tem um cabelo branco bem aqui.

— Como é que é? — Agarrou os fios, desesperado, pronto para procurar algum espelho. Quando ouviu a risada alheia, se sentou e se acalmou. — Haha. Que engraçado, Bright.

— Relaxa, não tem nenhum fio branco no seu cabelo, mas a sua raiz é clara.

— Parabéns, você acabou de descobrir o meu maior segredo.

— Não seja irônico. Vai, me fala. Não gosta da cor natural?

— Não é isso. Faltam poucos anos pra eu chegar nos quarenta e já encontrei alguns fios brancos. Não quero o cabelo grisalho. Vou ficar feio e velho.

— Você é definitivamente um egocêntrico.

— Vai começar a me ofender? Sério? Quando eu estou aqui desabafando sobre o meu maior medo?

A ExceçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora