Capítulo 4

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— Como assim você não sabe de nada? — Evalin exclamou, praguejando palavras que Nyx nem sabia que existia.

— Shiu! Fale baixo, ou quer que Prythian inteira saiba o que estamos fazendo.

— Bem, tecnicamente não estamos fazendo nada, já que vossa magnanimidade morcego não sabe nada.

— Eu sei sim, mas não podemos entrar despercebidos naquele chalé. — uma pausa e então — E aquele seu macho feérico? Não te dá nenhuma informação?

— Estou realmente achando que você tem um interesse por Fenrys, já que não o tira da cabeça. Ou deve ser inveja porque você não tem amigos.

Nyx se levantou, abanando as mãos como se em defesa.

— Eu tenho amigos sim, tá bom.

— Aham. Tá. E eu sou feia.

Nyx revirou os olhos, dizendo:

— Talvez vossa alteza real tenha alguma informação útil.

— Eu já lhe contei tudo o que sei — disse Elyn suspirando — Nossos pais estavam se correspondendo por cartas. Mas antes disso, o número de reuniões da corte em que eu não poderia participar havia aumentado, e ao contrário de você, que daqui algum tempo terá irmãos para competir o lugar de seus pais, lá em Terrasen eu posso ter 30 irmãos, e ainda assim continuarei sendo a Princesa Herdeira até meu último suspiro. Logo, algo bem sério acontece ao ponto dos meus pais esconderem da princesa mais poderosa que já pisou nestas terras. Oito meses depois, me vi aqui presa no mesmo espaço que você.

— Você gosta de se ouvir falando o quanto é linda e poderosa não é?

Elyn bufou, de tudo o que dissera, fora aquilo que o macho prestou atenção.

— Eu gosto de verdades. Gostaria que nossos pais também gostassem.

Um minuto de silêncio, e então...

— Eu também conheço outro alguém que gosta de falar verdades.

• • •

— Tem certeza de que isso funcionará? — Elyn perguntou, de onde estava abaixada.

— Foi assim que meus pais descobriram a parceria, então sim, tenho certeza.

— Está bem, então vamos começar.

     De onde estava agachada, em meio à uma floresta, Elyn observou o macho à sua frente ir até uma clareira e montar uma armadilha. Primeiro colocou cordas, montando um mecanismo típico de caça onde o alvo ficaria preso na rede, e logo em cima ele dispôs uma túnica. Enquanto preparava tudo, Elyn tinha que confessar que o macho era muito bonito, ele era claramente um guerreiro, se os músculos que se moviam sob a camisa preta eram algum indício do quanto treinara. A princesa conhecia um pouco da história dos illyrianos, e sabia que aquele macho havia sido treinado pelos três maiores illyrianos.

— Vai ficar aí babando ou quer fazer o favor de prestar atenção? — reclamou Nyx, de onde estava do outro lado da clareira, sussurrando já que os ouvidos feéricos de Elyn lhe davam o dom de uma audição aguda.

     Antes que a princesa pudesse responder, eles ouviram o farfalhar das folhas, já que naquela floresta até mesmo o ar parecia se conter, o silêncio era um enorme vácuo. Elyn duvidava que uma criatura mais antiga que a própria terra se atrairia por uma túnica qualquer. Mas ali estava ele, um tipo de feérico que não pertencia à corte alguma, cujo rosto parecia um osso desgastado, sem nada que pudesse ser chamado de pele, uma boca sem lábios e dentes grandes demais, presos em gengivas escuras, fendas finas no lugar de narinas e olhos que não passavam de um branco leitoso — não o branco como o cabelo de Elyn, não, aquele branco era como... como a morte, como os cadáveres já decompostos.
     Elyn engoliu em seco e prosseguiu rapidamente em direção à criatura, apontando sua espada em direção à ela, onde supostamente deveria haver um coração.

Corte de Chamas e EstrelasOnde histórias criam vida. Descubra agora