Capítulo 28

685 98 43
                                    

O cheiro da forte serragem da madeira que se espalhou pelo enorme galpão fez Maggie espirrar alto, levando uma mão no rosto no momento seguinte.

-- Sinto muito. -- Pediu baixinho ao ver que Meredith lhe olhava seriamente.

-- Como assim dez dias? -- Meredith perguntou ao homem negro, sarado, que havia assoprado um pouco do pó antes de voltar a serrar. Ele tinha enormes braços e a barriga com cada gominho em seu exato lugar. Maggie só havia entrado com Meredith pois vira o quão "gostoso" o homem era.

-- A peça do seu caminhão que pifou tem que ser encomendada. Sinto muito. -- Ele disse ainda serrando. As veias de seu corpo estavam saltadas e Maggie não conteve um suspiro ao ver a força que o homem aplicava no serrote. Ele estava ligeiramente abaixado, serrando uma madeira para algo que Maggie não se importava em perguntar.

-- Eu não posso esperar dez dias, meu senhor. -- Meredith disse exasperada. Sua semana estava sendo péssima, começando da parte onde teve que se despedir da garota que realmente não conseguia tirar da cabeça. Depois perdeu uma grande quantidade de dinheiro, consequência de ter se atrasado com a entrega. Aumentando os problemas, o lugar onde haviam se hospedado por dois dias cobrou uma fortuna dela, tudo porque Amélia confundiu-se com o valor que a recepcionista havia passado sobre a diária. Quando decidiu que não tinha mais como nada piorar, seu caminhão parou de funcionar do nada, a deixando na mão assim que estavam prestes a regressar para a Flórida.

-- Você deveria agradecer de seu caminhão só ter parado agora. Aquela peça estava por um fio e pela aparência estava assim há muito tempo. -- O homem disse, esticando a coluna e dando destaque ao enorme volume que tinha entre suas pernas. Maggie resfolegou.

-- Fiz revisão antes de viajar. -- Meredith informou.

-- Então não recomendo que volte a fazer revisão neste lugar, senhorita. -- O homem disse, fazendo Meredith bufar. -- Olha, se quiser eu posso passar o endereço de alguns hotéis e pousadas boas para ficarem.

-- Não, obrigada. -- Meredith disse, olhando em volta. O homem trabalhava com serralheria e seu irmão que na verdade era o dono da oficina mecânica, mas o mesmo estava ocupado, por isso deixou seu irmão no comando. O rapaz apertou de leve seu pênis por cima da calça e mandou uma piscadela para Maggie assim que percebeu que ela o comia com os olhos. -- Obrigada, senhor Winston, em dez dias volto, então. -- Meredith disse resignada.

-- Meredith, vai indo na frente que tenho umas perguntas a fazer para ele.

-- Perguntas sobre o quê?

-- Não interessa. Me espere lá com as meninas. -- Meredith franziu o cenho e negou com a cabeça quando viu que o homem estava ficando excitado.

-- Certo. -- Ela disse saindo de lá no momento seguinte.

A garota caminhou frustrada pela propriedade, encarando o galpão ao lado. Quase passou direto, no entanto algo chamou sua atenção, fazendo ela parar. Seus olhos percorreram a grande quantidade de árvores ao lado de fora, tentando ignorar seus pensamentos, mas não conseguiu.

Adentrou o galpão, dando uma olhada em volta. A figura de uma garota encostada, distraidamente mexendo em seu celular fez Meredith caminhar até ela.

-- Com licença. -- Meredith disse educadamente, vendo duas orbes avelãs lhe fitarem. -- Desculpe invadir o seu espaço, moça.

-- O que deseja? -- A garota perguntou, percorrendo seus olhos por todo o corpo de Meredith. A mesma se sentiu intimidada, pois a moça lhe olhava descaradamente. A mulher não era feia, pelo contrário, tinha lindas pernas destacadas pelo short preto e seios abundantes, marcados pela blusinha branca colada. Seu rosto era delicado e sua pele era da mesma tonalidade que a de Amélia.

-- Quanto quer por ele? -- Meredith perguntou, apontando para o que estava em cima da mesa, jogado. A mulher em sua frente abriu um sorriso ousado ao ouvir aquilo.

-- O que te faz pensar que está a venda? -- A mulher perguntou curiosa.

-- Bem...nada, mas eu gostaria de comprá-lo. -- Meredith disse com veemência.

-- Ele não está a venda. Sinto muito!

-- Te dou duzentos dólares por ele. -- Os olhos da mulher se arregalaram ao ouvir aquilo.

-- Por duzentos dólares te dou ele e tudo o que quiser. -- A garota disse sorrindo maliciosamente. -- Sou Melissa, muito prazer. -- Se apresentou, esticando a mão.

-- Sou Meredith. -- Ela respondeu apertando a mão da mulher. -- E vou querer só ele mesmo, obrigada.

-- Você que manda. -- Ela disse, vendo Meredith retirar o dinheiro de seu bolso. -- Um prazer fazer negócio com você. Se estiver pelas redondezas e se sentir carente, sabe onde me procurar. -- A garota disse, piscando e entregando à Meredith o que ela havia comprado.

-- Não, obrigada. Com licença.

[...]

Amélia e Carina estavam aos amassos do lado de fora do lugar. Apesar de San Diego ser uma cidade muito populosa, o lugar onde Meredith tinha que fazer a entrega era bastante sossegado, sem tantos prédios ou aglomerações. Na verdade, as árvores e a natureza eram o cenário do lugar.

-- Vou até a cidade efetuar o pagamento da peça do caminhão. -- Informou ela, vendo as garotas encerrarem o beijo para fitá-la. -- Teremos que esperar dez dias mesmo, infelizmente. -- Amélia começou a rir descontroladamente ao ver sua irmã.

-- Qual é a graça? -- Perguntou irritada.

-- Por que você está usando um chapéu de vaqueiro? -- Carina, que ainda conseguia falar, apesar de também estar rindo, perguntou.

-- Eu comprei. -- Ela disse orgulhosa, mas enrusbesceu ao ver que Amélia mal conseguia respirar de tanto rir.

-- Por que? -- Carina perguntou confusa.

"Addison disse que gosta." Pensou, sorrindo tristemente ao se lembrar da doce garota. Dois dias sem vê-la e já se sentia destroçada.

-- Porque eu quis. -- Meredith disse séria, fazendo Amélia ver que era algo importante para sua irmã, cessando o riso na hora. -- Maggie está transando com o serralheiro, se quiserem voltar ao hotel fiquem à vontade.

-- Sente falta dela, não sente? -- Amélia perguntou ao reparar que Meredith estava irritada, triste e séria demais nos últimos dois dias.

-- Por que acha isso? -- Meredith perguntou solenemente.

-- Você se apaixonou, não foi? -- Carina perguntou e Meredith riu com escárnio.

-- Que tipo de idiota se apaixonaria em doze dias? Nem adolescentes se apaixonam em tão pouco tempo. -- Disse sentindo seu peito inflar. Ela não poderia admitir que estava apaixonada.

-- Meredith, você não a via uma vez ou duas por dia. Você passou, literalmente, doze dias ao lado dela, so se separavam para ir ao banheiro. Não há vergonha em assumir que se apaixonou. -- Meredith negou com a cabeça ao ouvir aquilo.

-- Tem coisas que se você disser em voz alta faz parecer mais real. -- Meredith disse, umedecendo os lábios. -- Não estou preparada para assumir que a perdi sem nem tê-la conquistado. -- Amélia ia dizer algo, porém Meredith a cortou. -- Vou à cidade. Nos vemos. -- E saiu sem dar chance de falarem mais nada.

Destino Incerto - MeddisonOnde histórias criam vida. Descubra agora