Capítulo 12

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Nos dias seguintes, a frase inacabada de Draco ("a repentina falta de elogios pode ser...") permaneceu na mente de Harry.

Não era como se fosse uma surpresa que Draco gostasse de ser elogiado. Harry tinha memórias vívidas dele se envaidecendo sempre que Snape elogiava sua poção, ou sempre que um professor lhe dava alguns pontos da casa por responder uma pergunta corretamente. Também não era surpresa que tais elogios tivessem secado depois que o envolvimento dos Malfoys na guerra se tornou de conhecimento comum.

Só que Harry nunca tinha pensado sobre como seria isso. Aconteceu o oposto com ele: quando criança, ele não tinha ouvido nada de bom sobre si mesmo – e então ele se juntou ao mundo bruxo, e desde então teve um fluxo quase constante de pessoas o elogiando pela menor coisa (mesmo que fosse temperado por um número similar de pessoas o chamando de maluco).

Harry não podia dizer que gostava das palavras enjoativas daqueles que pensavam que ele era algum tipo de herói mítico. Mas ele se perguntou se não seria ainda pior, se ele tivesse que voltar para os Dursleys agora – agora ele sabia como era ser amado.

Ele nunca tinha realmente parado de observar Draco, mas naquela semana Harry o observou com essa nova consideração em mente. Era estranho o quão pouco os professores o elogiavam, dado que ele só ficava atrás de Hermione em todas as matérias. Ele dava uma resposta que renderia vinte pontos da casa para qualquer outro aluno, e tudo o que ele conseguia era um aceno conciso. Na mesa do café da manhã, alguém pedia a torrada, e quando Draco a passava para eles, seu único agradecimento era uma careta e um vago ruído de reconhecimento.

Nem Hermione pareceu perceber. Harry supôs que o padrão de brilhantismo de Hermione era maior do que o de todos os outros, dada sua própria inteligência e motivação, mas mesmo assim: ela realmente deveria estar lhe dando um pouco mais de atenção, como sua namorada. Draco precisava de alguém que fosse legal com ele. Todo mundo precisava.

Então, Harry assumiu a responsabilidade de agradecer em voz alta a Draco sempre que ele passava o xarope para Harry no café da manhã, ou segurava a porta da biblioteca aberta quando Harry o seguia. Ele mencionou novamente o quão bom professor Draco era sempre que pegava uma passagem incompreensível de um livro didático e a traduzia sem esforço em termos estupidamente simples. Quando eles estavam lá fora em um sábado chuvoso de abril, tentando conjurar borboletas do nada para Transfiguração, ele fez questão de elogiar Draco por sua impressionante asa de pássaro verde (mesmo que, como Hermione apontou, ela tivesse apenas quatro pernas em vez de seis).

Começou com um senso de dever. Do conhecimento de que, por mais distante e bem ajustado que Draco fosse, ninguém deveria ter que passar a vida sendo tão ignorado e insultado quanto Harry tinha sido nos Dursleys.

Mas aconteceu que elogiar Draco trouxe consigo diversas consequências inesperadas.

A primeira foi que isso deixou Draco nervoso, o que foi brilhante. Harry não estava acostumado a vê-lo sem palavras – ele mal falava, sim, mas era um silêncio intencional. Sempre que lhe faziam uma pergunta, sua resposta era curta, mas rápida, entregue em um tom monótono e tranquilo. Mas sempre que Harry o elogiava, ele ficava corado, com a boca abrindo e fechando sem som, fazendo-o parecer um peixe particularmente pontudo. Harry, emocionado, fazia de tudo para tentar provocar essa expressão sempre que podia.

A segunda consequência inesperada foi que isso tornou Draco mais malvado. Não com Harry ou Hermione – nem com ninguém, na verdade. Não era a mesma maldade que Harry lembrava, aquela crueldade de intimidação direcionada. Era apenas um sarcasmo irrefletido, uma agudeza em seu humor que Harry achava que tinha se desgastado.

Era Draco sendo ele mesmo novamente.

E Harry -

Puta merda, ele nunca poderia admitir isso para ninguém.

Two to Lie and One to Listen | DrarryOnde histórias criam vida. Descubra agora