Retornos

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Teresa sentiu um forte arrepio percorrer todo o seu corpo, como se um fio energético passasse por suas veias, se liberando em forma de um suspiro do ar que ela sequer havia percebido estar prendendo. Mas logo em seguida, Teresa quebra o contato visual com Augusto de Valmont, virando o rosto para o lado, unindo as mãos em frente ao corpo, apoiando-as na saia de seu vestido.

O cômodo estava em total silêncio, mas o clima estava denso. O olhar furioso de Pedro que alternava sobre Teresa e Augusto era extremamente indiscreto. Assim como o de Augusto sobre Teresa, um olhar doce, de quem admirava e matava a saudade da mulher em sua frente. 


Scusa... Io... — ela encontra dificuldade em arrumar uma desculpa para deixar os aposentos, talvez porque na verdade, Teresa não quisesse sair. Mas assim, iria contra a vontade explícita de seu marido. — Vou ver mias bambinas. — ela não retorna o olhar para nenhum dos dois. Apenas sai e fecha a porta.


Para Pedro e Augusto, Teresa havia ido embora, mas a realidade era que ela se encontrava escorada do lado externo da porta do escritório de seu marido. Augusto havia voltado.


— Majestade? A senhora está bem? — Celestina pergunta ao passar pelo corredor carregando um cesto de roupas, vendo Teresa naquele estado. — Parece abatida...

Non... Abatida non... Non se preocupe, Celestina. Non é nada. Grazie. — Teresa libera a sua dama de companhia, deixa a porta e vai atrás de suas filhas.


Dentro dos aposentos, a conversa só desandava.


— Eu não vou para lugar nenhum, Pedro.

Dom Pedro. — o Imperador corrige, trazendo uma risada sarcástica do irmão.

— Aham. Te chamo pelo título quando você me der o meu. — barganha. — Além do mais, nossa tia e o meu informante já se alocaram em algum quarto vazio daqui.


O Monarca levanta as sobrancelhas.


— "Nossa tia"? Você trouxe a nossa tia com você?! — Dom Pedro se mostra preocupado. — Se os guardas encontram eles, os arrastam para fora!

— Não se o Imperador tiver antes avisado que eles são bem vindos... — Augusto tinha uma calma absurda na voz. Tanta essa que acabou por intrigar o Monarca. Dom Pedro não havia autorizado a vinda de ninguém... Respondendo aos questionamentos do irmão Imperador, Augusto leva a mão ao próprio peito. — Como você não contou para ninguém da minha existência... Todos acharam que eu era você. — o prazer com que Augusto contava isso chegava a ser irritante. Ele estava se divertindo com toda essa situação.

— O que mais você fez?! — Pedro pergunta impaciente.

— Nada! — se pronuncia depressa. — Ainda... — acrescenta.


Augusto tinha um sorriso malandro nos lábios e Pedro parecia querer matá-lo com as próprias mãos. Mas, desde sempre, Pedro é o irmão mais controlado.


— Você deve ir embora. — Pedro notou Augusto abrir a boca para retrucar, então o interrompe, completando sua fala de forma séria. — Isso não é um conselho e nem um pedido.

(Im) PerfeiçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora