Tarde demais

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— Afaste-se! — os guardas bloqueiam a entrada cruzando as lanças impedindo a passagem pela porta. — Você não é bem vindo aqui! — o guarda da direita fala com voz forte. — Saia!

— O que está havendo??? — Nicolau questiona de dentro da Quinta ao ver a confusão na porta. — É Augusto! Deixem-no passar! 

— Temos ordens que nos proíbem de fazer isso, sr. Nicolau! — os homens fardados mantinham a postura rígida e imóvel, mantendo as lanças como bloqueio da entrada.

— Que tipo de ordens são essas?! Quem mandou isso?? Deixem Augusto entrar! Ele é irmão do Imperador! — Nicolau insiste.

Eu ordenei. — a voz imponente de Pedro surge enquanto ele desce as escadas do interior do Paço Imperial. O Monarca se aproxima da confusão parando ao lado do mordomo. — E ele não é o meu irmão. Que isso fique claro. — o Imperador encara Augusto em uma troca de olhares pouco amigável. — Desta vez, Augusto de Valmont está proibido de entrar na Quinta da Boa Vista. Para sempre. Ele já foi banido e exilado, e hoje, eu reforço essas ordens. — gira os ombros para trás ajeitando a postura para proclamar a nova ordem: — Augusto de Valmont não faz parte da família imperial e não deve, nunca mais, entrar aqui. E jamais poderá voltar a falar, direta ou indiretamente, com os pertencentes da família Bragança! — acrescenta.


Augusto sabia a quem o Imperador se referia por trás de todo aquele discurso: Teresa


— Pedro? O que está succedendo aquí?? (Pedro? O que está acontecendo aqui??) — a Imperatriz fala ao sair da sala de música. Vai em direção à porta, vê Augusto do lado de fora. Um alívio a consome por vê-lo. Até o momento estava aflita imaginando o que poderia ter-lhe acontecido após o encontro desagradável com Pedro que o havia caçado na praia. Mas a Monarca capta o contexto da situação.


Os olhos castanhos de Teresa Cristina conversavam com os do senhor de Valmont que tinha a tonalidade semelhante. O singelo fio ocular da Imperatriz que se ligava ao de Augusto pedia desculpas por ter contado a Pedro o que havia se passado entre eles naquela noite em que Teresa jamais se esqueceria. Augusto de Valmont, em uma correspondência expressiva, tranquilizava a Imperatriz ao transmitir calma e compreensão. 

Nunca foi necessário de palavras entre eles. Seus olhos eram mais do que o suficiente para que se entendessem.

Augusto sabia que Teresa jamais guardaria segredos do marido, mesmo que ele o faça contra ela. Teresa não suportaria guardar segredos de Pedro. 

O homem exilado não sentia raiva da Napolitana. De forma alguma. Nenhum dos dois se arrependia pelo o que fizeram juntos pela noite... Mas ambos sabiam que aquilo não poderia mais acontecer. Por mais que desejassem.

A troca profunda de olhares entre Teresa e Augusto irritou imensamente ao Imperador que sentiu sua mão coçar e seus pés quererem avançar para alcançar aquele amancebado do senhor de Valmont.


— TIREM-NO DAQUI! — ordena o Monarca quebrando brutalmente a interação entre sua esposa e o outro homem.

— Pedro! — Teresa tenta fazer com que ele tome medidas menos extremas.


Imediatamente os guardas avançam sobre Augusto o empurrando para trás. Nicolau assistia àquilo bestializado. Ele não poderia ficar ali parado, mas também não poderia confrontar os guardas, muito menos o Imperador. Estava dividido.

(Im) PerfeiçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora