Distância

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Augusto desce as escadarias da Quinta, acende uma vela presa ao pires metálico e usa da pequenina chama para iluminar seu caminho rumo a cozinha, sabia que Pedro o observava do topo das escadas com um olhar fuzilante e que em momento algum foi correspondido pelo irmão exilado que fez questão de sair do campo de visão do Imperador o quanto antes.

Ao adentrar a cozinha, pega um copo e vai ao balcão onde tinha um jarro de água. Deixa a vela ao lado do copo. Se serve mas não bebe. Olha para trás verificando se estava sozinho. Pedro não havia descido e todos os outros residentes do Paço Imperial deveriam estar dormindo uma hora dessas. 

O homem põe a mão no bolso direito e retira um papel, naquele mesmo balcão encontra o lápis que a Baronesa de Uru havia esquecido mais cedo, logo após o jantar enquanto fazia alguma lista e Augusto, como um ótimo observador, havia percebido esse detalhe e guardado tal informação desde então. Usa da estrutura em sua frente e da iluminação da vela para escrever uma carta.

Ao final, assinando: 

Seu,                       

          Augusto."


— Senhor Augusto? — Celestina pergunta da porta da cozinha com a voz de quem havia acabado de acordar. — O que faz de pé uma hora dessas? Está com insônia?


Augusto olha a Baronesa por cima do ombro, ela também carregava uma vela em um prato para iluminar por onde andava.


— Eu não sei o que é isso... — Augusto tinha uma voz calma e aveludada. Se referia à insônia.


O senhor de Valmont se vira de frente para Celestina, a mulher vestia uma espécie de camisola e um roupão que a cobria melhor. Augusto se apoia no balcão, tampando a carta com seu corpo.


— Vim beber água. — de forma discreta, pegava o papel escrito atrás de si e o guarda no bolso. — Quer um pouco?

— ... Ah sim... Por favor. — aceita se aproximando do irmão do Imperador, afinal era isso que a Dama de Companhia havia vindo buscar. Água. Deixa a sua vela ao lado da que o rapaz havia trago e aguarda enquanto Augusto pegava um novo copo e o enchia para lhe servir. 


Augusto conseguia ser charmoso até mesmo com roupas de dormir, a camiseta branca de mangas compridas com alguns botões desfeitos, lhe abrindo o início do peito, deixava a roupa mais frouxa e solta ao corpo e com a informalidade por estar vestida por fora da calça. Os botões do pulso também desabotoados lhe dava um tom despojado, uma calça mais confortável, descalço e com os cabelos bagunçados... Mesmo com roupas simples, Augusto mantinha uma postura impecável, o que o deixava ainda mais atraente. 

Além do grande estilo, era um homem educado. 


— Aqui. — estende o copo para Celestina que demorou cerca de dois segundos para tirar os olhos dele e pegar a água, trazendo um sorriso charmoso aos lábios envoltos pela barba rala do homem.


A Baronesa se lembra do que Nicolau disse, Augusto não era boa pessoa e aos poucos Celestina entendia o porquê de tantas mulheres caírem em seus jogos. Negando ser uma dessas, desviou imediatamente o olhar do rapaz e pegou a sua vela de volta. Tinha que sair dali.

(Im) PerfeiçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora