Capítulo 1 ☃️

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“Ontem à noite eu caminhei pela neve
Casais de mãos dadas, lugares para visitar
Parece que todos estão apaixonados, menos eu
[...]
Papai Noel, esse é o meu único desejo este ano
Eu espero que a minha carta chegue a tempo
Traga-me um amor que eu possa chamar de meu.”

My Only Wish (This Year) – Britney Spears

My Only Wish (This Year) – Britney Spears

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23 de Dezembro

                                          MIDNIGHT

    O Natal costuma ser a época mais adorável do ano. Todo aquele clichê das famílias reunidas fingindo se amar incondicionalmente e trocando presentes que foram comprados de má vontade. Os casais que vão passear juntos, de mãos dadas, trocando juras de amor apenas com o olhar. As crianças ingênuas que escrevem cartas para o Papai Noel, mentindo sobre terem se comportado durante os meses que se passaram. Tudo isso, todos os anos.

É simplesmente ridículo.

— Midnight, você é a pessoa mais chata que eu conheço. – Nicolas, meu amigo mais próximo, diz com o olhar focado no computador à sua frente. — Por que não aceitou ir com a sua mãe?

— Ela vai passar o Natal e o Ano Novo com a namorada em outra cidade, uma olhando para a outra com aquele olhar meloso. Eu as adoro, mas detesto casais, principalmente casais felizes.

Nicolas pausa o jogo e resolve, finalmente, me olhar nos olhos, me encarando como se eu fosse a criatura mais burra do planeta. Nossa amizade costuma funcionar assim desde que nos conhecemos, há 7 anos atrás. Ele, sincero e mordaz, e, eu, emocionalmente inabalável. As palavras de Nicolas são como flechas, mas, na teoria, eu sou uma parede de concreto.

— Você só detesta pessoas apaixonadas porque nunca se apaixonou. No fundo, você queria estar como a sua mãe. – Nicolas argumenta com convicção e, em seguida, esboça um sorriso vitorioso. O desgraçado está certo e sabe disso.

  Coloco a mão no coração, como se eu tivesse recebido um tiro e uma risada irônica escapa dos meus lábios.

— Suas palavras são como facas, Nicolas. E elas sempre vêm carregadas de razão. – levanto do sofá e me aproximo da cadeira onde meu amigo está sentado. — Sério, por que não podemos passar o Natal juntos? Vai ser horrível ficar sozinha em casa enquanto o mundo inteiro se diverte com outras pessoas.

Ele suspira e põe a mão no meu ombro.

— Eu te amo, Mid, mas não posso. Prometi que iria passar o Natal construindo uma casa nova no Minecraft com a minha namorada.

— Sua namorada virtual. – enfatizei. — Vocês fazem sexo por onde? Pelo Google Meet?  – pergunto e Nicolas revira os olhos.

— É via Discord, mas pelo menos eu tenho alguém. E você? O que tem além de um humor amargo e um estranho vício em jujubas de uva?

— Elas me acalmam!  – explico como se fosse óbvio. — Vai mesmo me deixar sozinha?

   Nicolas me olha nos olhos. Uma de suas mãos acariciou meu rosto delicadamente. Geralmente, todo afeto dele vinha seguido de um doloroso sermão.

— Você tem 20 anos, Mid. Saia por aí, chute bonecos de neve, conheça pessoas, brigue com alguém em um estacionamento… qualquer coisa! – ele sugere em um tom de voz carinhoso, o que raramente acontece. — Não pode continuar tendo apenas a mim e a sua mãe como amigos.
 
Minha risada ecoa pelo quarto e eu toco a mão do Nicolas.

— Tudo bem. Não vou passar o Natal em casa, esse ano… – faço uma pausa dramática. — Irei expandir meus horizontes.

— Isso soou extremamente clichê.

— Não me importo. Enfim… estou indo. – beijo o topo da cabeça dele e caminho até a porta do seu quarto.

— Vai, minha jedi! Expanda seus horizontes. – ele balança as mãos como uma líder de torcida eufórica e eu reviro os olhos.

— Eu te odeio.

— Também amo você, Meia-Noite.

    A cidade estava devidamente decorada para a situação

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    A cidade estava devidamente decorada para a situação. Árvores com enfeites brilhantes, adesivos natalinos nas paredes, bonecos do Papai Noel em um tamanho um pouco assustador e uma iluminação conveniente para essa época do ano.

  Esse é um feriado que eu, definitivamente, não ligo. Sempre passo meus natais vendo filmes de qualidade duvidosa com a minha mãe, o que pode ser considerado um pouco deprimente.

  Mas, dessa vez, vai ser diferente. Mesmo que eu não tenha a menor ideia do que irei fazer.

Penso sobre isso enquanto destranco a porta de casa, mas um panfleto colado na minha parede me chama atenção.

   É um anúncio de um clube de karaokê que vai ficar aberto na noite de natal. O slogan dizia: "aberto apenas para pessoas solitárias!"

  Peguei o celular da bolsa e enviei uma foto daquele panfleto para o Nicolas, reprimindo uma risada. No mesmo instante, ele me respondeu.

[23/12 – 10:32] Nic: Você deveria ir.

[23/12 – 10:33] Mid: Mas isso é patético.

[23/12  – 10:33] Nic: Você também é.

    Antes que eu pudesse digitar uma resposta nada gentil, Nicolas me liga.

— Midnight, isso só pode ser obra do destino! – ele diz tão rápido que quase tropeça nas próprias palavras.

— Nic, eu acho que não acredito em destino…

— Mas, aparentemente, ele acredita em você. É sério, linda, vá! Ou é isso, ou você vai ter que marcar um encontro em algum app de relacionamento.

  Só a menção de "app de relacionamento" fez meu estômago revirar. Tenho péssimas lembranças disso.

— Você sabe o que aconteceu na última vez que tentei marcar um encontro por um aplicativo. O cara queria que eu colocasse uma coleira nele e começou a latir para mim! – esbravejo e as memórias daquele dia me atingem descaradamente.

— Então vá ao karaokê para pessoas solitárias porque, diga-se de passagem, você é uma delas.– Nicolas declara e encerra a chamada antes que eu possa respondê-lo.

  Coloco as mãos na cintura e encaro o panfleto na minha parede. Nele havia imagens de pessoas sorridentes segurando microfones. Aquilo com certeza não combinava nada comigo, mas, se eu quero sair da minha zona de conforto, eu tenho que fazer coisas que não estou acostumada.

E, num impulso arriscado, decidi que talvez essa ideia não seja tão ruim assim.

A Meia-Noite de Eros (CONCLUÍDO)Onde histórias criam vida. Descubra agora