Heitor voltou para casa de Layla cabisbaixo e se sentindo péssimo. Nem o frio da noite se comparava ao frio que sentia dentro de si. Ele tentou de tudo, mas no final acabou falhando.
— Não tem jeito, acho que vou ter que aceitar mesmo. — Ele bateu na porta da casa, suspirou e esperou.
Quem atendeu foi a mãe de Layla, ela sorriu e apontou para a porta da garagem.
— Finalmente, garoto! Eles estão te esperando para o ensaio à quase três horas. Minha filha está uma fera, foi bom te conhecer. Tenha uma boa morte!
Sem dizer mais nada ela apenas deu as costas e o deixou para trás.
— Ensaio? Hoje??? Achei que ela estava brincando... — Ele resmungou ao abrir a porta e entrar.
Todos olharam para ele com cara feia assim que passou pela porta.
— Ah, olha só quem deu o ar da graça! — James cumprimentou, sarcástico. — Começa a namorar a líder e já acha que pode atrasar para os ensaios.
Bob secou uma lágrima e bateu na barriga que roncava tão alto que todos escutaram o som de seu estômago.
— Poxa, Heitor! Eu tô com fome, a Layla nem me deixou ir pegar um lanchinho enquanto você não chegasse.
— Pisou na bola, brô. Isso não se faz, carinha. — Lud concordou.
Layla o encarava com uma veia saltando na testa em uma clara demonstração de força de vontade. Ela parecia um vulcão prestes a explodir.
Heitor deu cinco passos para trás quando ela deu um passo na direção dele. Chamas dançavam em seus lindos olhos e seu sorriso, que ele normalmente amava, era algo digno de se ver no rosto de um assino em série.
— Heitor, será que você pode me explicar... POR QUE DIABOS ATRASOU TANTO? ESTÁ ACHANDO QUE SÓ PORQUE NAMORAMOS ISSO TE DÁ AO DIREITO DE IGNORAR OS HORÁRIOS DA BANDA? QUER QUE EU PERCA MEU NAMORADO PORQUE MATEI ELE NA BASE DA PORRADA? VAI! SE EXPLICA!
Ele se agachou e protegeu os ouvidos, esperando o pior passar.
— Calma, Layla... Eu achei que você estava brincando quando disse que ia ter ensaio na noite de natal. Quem passa essa noite trabalhando?
— Noite do que? — Ela perguntou, respirando fundo.
Foi aí que ele notou a cara de confusão dos outros e sua ficha caiu.
— Calma aí galera, vocês não tem natal aqui no Underground?
— Não, o que seria isso? — James perguntou.
E então Heitor explicou.Contou sobre o natal, sobre como comerciantes exploraram a data para incentivar a troca de presentes, falou também sobre o lance religiosos para o qual ninguém realmente se importa e falou sobre o papai Noel e tudo o mais. Ele até distribuiu os presentes que tinha conseguido comprar.
— Brô, mó viagem isso aí. Doideira, como é que um cara gordo desses desce pela chaminé? — Lud riu tanto que até deitou no sofá.
— Espera aí, quer dizer que você se atrasou tanto porque estava o dia inteiro procurando presentes para nos dar? Gostei disso, podemos fazer disso uma tradição da banda.
— James comentou, olhando para o presente que Heitor lhe deu. Era um set novo de cordas para guitarra.Bob já tinha comido seu panetone e Lud abraçava seu LP da reverberação.
— E qual é o meu presente? — Layla perguntou animada.
O rosto de Heitor ficou vermelho e ele abaixou a cabeça.
— Aí é que tá... Não terminei à tempo. Eu estava compondo uma música nova pra você, mas aí a avó do Lud fez uma faxina geral na casa e jogou fora minhas anotações!
Lud sorriu sem jeito.
— Ela faz dessas o tempo todo comigo.
— Daí fui atrás de outra coisa. — Heitor continuou. — A Britney me contou que vocês gostavam de uma tal pedra da amizade quando eram pequenas. Essas pedras que colocam em um anel ou colar e que muda de. Cor, sabe? Mas o cara que ela me indicou é um sujeito mega famoso entre os artífices de rua e tem uma fila de espera de um ano para que ele possa te atender! Dá pra acreditar? Eu fiquei sem tempo de procurar algo diferente... Daí vim para cá de mãos vazias.
Sentindo o clima de "coisa de casal" o resto da banda saiu fora de fininho e os deixou a sós.
Layla se aproximou e segurou as mãos de Heitor.
— Você me escreveu uma música? Digo, algo só para mim?
Ele foi até os instrumentos, pegou a guitarra e tirou algumas notas.
— Sei boa parte de cabeça, mas vou ter que refazer os trechos finais.
Layla sentou no sofá para escutar e, como sempre acontecia quando ouvia Heitor cantar, ficou deslumbrada. A letra falava do tempo em que ficaram separados quando ele voltou para terra. Falava sobre a alma dele ter encontrado um lar em outro mundo e uma metade para seu coração que ficava vazio sem ela. Quando ele terminou de tocar ela levantou e pulou em cima dele.
Eles caíram no chão se beijando.
Heitor ficou surpreso, mas não demorou para largar a guitarra e abraçá-la. Entre beijos e carícias ele nem se deu conta de quando foram deitar de novo no sofá.— Se ganhei isso com uma música incompleta o que vou ganhar com a versão final? — Ele sussurrou em seu ouvido.
— Não abusa da sorte, meu pai ainda passa de vez em quando na porta sempre que estamos sós aqui. Uma vez ele escutou a gente rindo da história do suco e ainda pega no pé pra entender do que a gente ria tanto.
Heitor deu ombros.
— Hoje é natal, ele não vai me matar no natal.
Layla riu e o beijou.— Vai achando, aposto que ele ia matar você e esse tal de papai noel.
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Coisas que aconteceram no Underground (Enquanto ninguém olhava)
FanfictionUma coletânea de mini contos inspirados na animação "Os Under Undergrounds"! Curte o desenho e está com saudades da melhor banda de rock do Underground? Então cola aí! Aviso: Os Under Undergrounds são uma animação da Tortuga Studios e todos os direi...