Capítulo 02

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Capítulo 02

       Michael fez um chá com as cascas secas de laranja que deixava pendurada em um prego na parede da cozinha. Tomou enquanto esquentava os pés frente a lareira na sala. Ele cochilou lendo as notícias no jornal, a xícara rolou de sua mão caindo, antes de virar cacos, Michael assustou, mas não conseguiria apará-la a tempo. Para sua surpresa não ouviu o som da xícara se despedaçando, ao voltar os olhos para o chão, viu a xícara suspensa no ar repousada sobre as mãos pequenas de uma menina. Michael sentiu medo de levantar os olhos.
        ─ Estou sonhando. ─ Murmurou ele imóvel.
        ─ Olhe para mim papai. ─ Pediu aquela voz que por dez anos não se lembrava mais.
        Michael hesitou, cedendo por fim. Levantou os olhos vendo o vazio. E a xícara caiu no chão se despedaçando, acordando-o de seu sono. No susto Michael olhou em volta vendo a sala vazia.
        ─ Nunca sonhei com você, por que sonharia agora? ─ Murmura levantando-se.
        ─ E o senhor nunca foi me visitar. ─ Respondeu a menina parada na porta da cozinha.    
        Michael deu um grito ao vê-la dando alguns passos para trás.
         ─ Não tenha medo, sou eu papai. ─ Rogou vendo seu espanto.
         Michael levou a mão direita até o braço esquerdo se beliscando, mas a dor que sentira não o fez despertar daquele possível sono. Ela realmente estava ali? E por que?
          ─ É impossível! ─ Disse ele.
           Jennifer se aproximou.
           ─ Senti saudades. ─ Disse inocente.
           ─ Não há um dia sequer que eu não sinta saudades. ─ Disse Michael caindo de joelhos em prantos. Ele tentou abraçá-la, mas seus braços atravessaram a menina como um fantasma. Michael arqueou as sobrancelhas.
           ─ O que você é? Um fantasma? ─ Perguntou levantando-se.
           ─ Vi que nossa casa não está enfeitada para o Natal, o senhor sempre enfeitava. Por que parou? ─ Comentou a menina.
           Michael soltou o fôlego sério sentando-se na cadeira.
           ─ Parei por sua causa. ─ Respondeu ele.
           ─ Esses anos todos? Eu nunca quis que o senhor parasse de comemorar. ─ Contestou a menina.
           ─ E eu nunca quis que você morresse! ─ Respondeu com a voz ríspida.
           ─ Também não queria, mas foi preciso. ─ Disse conformada.
           ─ E quem precisava que você morresse? Você era a alegria dessa casa, era a minha vida, e depois que você se foi tudo acabou. ─ Respondeu com fúria nos olhos.
           ─ A vida continuou papai, só o senhor que não percebeu. Se afundou na dor e esqueceu de viver. Mas isso mudará, eu prometo. ─ Garantiu Jennifer. Ela andou até Michael aproximando o rosto ao do dele. Michael se arrepiou, não sabendo se chorava ou se temia aquela aparição. ─ Essa noite o senhor receberá três visitas, seja gentil. ─ Disse dando-lhe um beijo na testa. Michael fechou os olhos adormecendo.

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