Projeto Augustine

Abraço

Itaewon, South Korean, 2018.

Pelos próximos cinco dias, Jennie pediu um afastamento da empresa.

Dizer que estava mentalmente esgotada após finalizar o projeto que levou longos anos de sua total dedicação para Jaeyoon foi uma boa justificativa. De fato, ela estava cansada. Com constantes noites sendo prolongadas com cafeína ou até mesmo deixando elas virarem manhãs, esgotaram e exigiram muito da cientista. No entanto, nada era maior do que sua vontade de passar alguns momentos com sua Lalisa.

Com a permissão de Jaeyoon, Jennie trouxe a sua andróide para finalizar os testes em sua própria casa com a intenção de ver como ela se portava em meio a um pequeno convívio natural. A cientista quer poder ver quais reações que Lalisa fará em um lugar "familiar" para as memórias que foram introduzidas em seu cérebro artificial.

Apesar desta ser a intenção principal, Jennie não podia negar para si mesma que estava mais interessada em passar momentos somente entre as duas.

Logo no primeiro dia, Jennie fez questão de mostrar tudo que pudesse para a andróide, começando pela a casa onde morava - que pertencia a Lisa, a princípio. A loira observou tudo com curiosidade, tocou tudo que podia, sentiu o cheiro das coisas que encontrava e contava para Jennie todas as sensações que sentia ao descobrir algo novo, igual uma criança vendo o mundo pela a primeira vez.

Ela reconheceu grande parte de tudo. Jennie preferiu manter quase toda a mobília e design da casa durante os anos, apenas mudando pequenos itens e movendo outras coisas do lugar. Porém, foi com Léo que Lalisa se emocionou mais. A Kim estava apreensiva de que o bichano, após anos, já não reconhecesse mais a imagem de Lisa. Ele era apenas um filhote quando o acidente ocorreu, então não foi uma total surpresa quando o gatinho fugiu para a sua casinha e se escondeu ao ver a andróide se aproximar devagar. Lalisa se recolheu com um biquinho nos lábios, mas entendia que teria que ganhar a confiança do animal com o tempo.

Ela também não perdia a oportunidade de abraçar Jennie toda vez que tinha a chance. Lisa sempre foi alguém que gostava de estar tocando as pessoas e a cientista aprendeu a amar esse detalhe, então foi difícil não colocar essa característica na andróide também. Era quem Lisa era de verdade e Jennie não poderia deixar faltar nenhuma parte importante que se lembrasse dela.

No fim dia, ela apenas se sentou com a loira no sofá da sala com um cobertor grosso sobre o colo de ambas e pipoca. Apesar de querer explorar um pouco mais sobre a inteligência da andróide, Jennie resolveu encerrar as suas anotações e aproveitar o restinho da noite com Lalisa como faria antigamente - vendo um bom filme clichê.

- Você se lembra de como costumávamos ficar assim todo fim de semana? - perguntou Jennie para a loira, a princípio curiosa para saber o estado da memória da andróide.

Lalisa balançou a cabeça, sorrindo lentamente. Ela deixa de lado sua atenção no programa de TV e direciona seus olhos para a Kim.

- Sim... a diferença era que você estaria com a testa franzida e um computador no colo agora. Eu também estaria cochilando em alguma parte do filme.

Jennie também sorri, orgulhosa da boa descrição de cena que a andróide lhe faz. Ela deita sua cabeça no ombro de Lalisa e abraça um de seus braços.

- Durante essa semana, você não terá que se preocupar em me ver com alguma tarefa relacionada ao trabalho além das anotações diárias. - responde firme a Kim - Você terá a minha total atenção, Lis.

- Eu vou adorar isso. Você disse que me devia.

- Vou compensá-la, por todos aqueles dias que eu ficava até tarde na empresa e... todo o resto depois.