Ana abre a porta da mansão Servín. Atrás de si vem a sua família.- Isto é mesmo verdade? Diz-me que isto é algum tipo de brincadeira. – grita Juan Carlos, em frente a ela, no meio da sala principal da casa.
- Primeiro, eu não te autorizo a falares comigo nesse tom na minha casa. – Ana aponta-lhe o dedo, julgando-o – Segundo eu não te devo explicações nenhumas da minha vida. Já não somos nada.
- Eu ainda sou o pai dos teus filhos.
- E só! Isso não te dá o direito de te meteres nos meus assuntos pessoais.
- A Mariana? Parece que o meu envolvimento com a Tere trouxe os seus benefícios...
- Papá! – fala Ceci, que até agora – junto com Rodrigo – estava a um canto da sala assistindo à discussão dos pais.
- Vai-te embora, Juan Carlos. Espero que agora entendas que acabou tudo entre nós. Alta! – Ana chama pela empregada – leve o Juan Carlos para fora.
Ana começa a subir as escadas.
- Isto não vai ficar assim, Ana! – Juan Carlos grita já do lado de fora da porta – Eu sei que isto não és tu!
Ana não responde, continuando o seu caminho mas é interpelada pelos seus filhos.
- Mamã, por favor, precisamos conversar. – pede Ceci.
- Isto quer dizer que a Mariana e a Regina vão voltar para casa? – pergunta Rodrigo.
- Isto quer dizer que eu preciso descansar. Desculpem-me, mis amores. Hoje foi um longo dia. Amanhã conversamos.
Ana dá um beijo na testa de cada um dos seus filhos e segue até ao seu quatro, fechando a porta e deixando Ceci e Rodrigo – sem saber o que fazer ou o que pensar – no corredor.
Ana desce dos seus saltos e descalça caminha até à sua cama, onde se senta.
De olhos fechados, a loira inspira fundo.
Elas decidiram. Agora não tinha como voltar atrás.
Mariana está no seu antigo quarto, na casa da sua mãe, quando ouve batidas na parte.
- Mamã, por favor, eu disse que quero estar sozinha. – pede a morena.
A porta é aberta, mas em vez de Tere é Lúcia que entra no quarto.
- Mi amor... - diz Lúcia caminhando até à sua neta.
- Por favor abuela, eu disse à minha mãe que queria ficar sozinha.
Lúcia nada diz e senta-se na cama, ao lado de Mariana.
- Eu só vim aqui para te dizer que independentemente de qualquer coisa, tens todo o meu apoio.
- Então não vais que isto é uma loucura e que eu estou confusa, como a Elena e a minha mãe o dizem?
Lúcia dá um pequeno sorriso.
- No, mi amor. Eu acho que era a coisa mais natural de acontecer.
Mariana olha confusa para a sua avó enquanto mais velha deposita um beijo na sua testa e sai do quarto, deixando-a sozinha.
Mariana respira fundo e deixa-se cair na cama, pensando na vida e em como tudo pode mudar de um minuto para o outro.
Ana faz um carinho a cada uma das bebés e permite-se a ficar um pouco mais, apreciando as duas a dormir.
Como ela gostaria de ser como elas neste momento.
Pequena e sem o peso do mundo às costas.
Onde pudesse ter um lugar seguro e sossegado para deitar a cabeça e dormir sem ter com que se preocupar com o dia seguinte.
Onde não precisasse de pensar nas suas ações.
Pois elas sempre chegam com consequências.
E talvez a sua consequência tivesse acabado de chegar, pois Ana ouve passos no corredor. E esses passos parecem cada vez mais perto.
Já toda a gente dormia naquela casa, excetuando por ela e agora...
Mariana.
A sua "namorada".
Ela sabia que não havia outra solução. Ou era isso ou perderia as suas filhas. Mas agora, agora que tinha passado o primeiro momento, ela conseguia entender que aquilo era uma loucura.
Uma loucura que iria acabar com o que restava da sua sanidade.
- Ana! – diz Mariana, surpreendida assim que entra no quarto das bebés – eu pensava que já estavas a dormir.
- Não estou com sono. – Ana volta a olhar para as bebés – E elas sempre me conseguiram acalmar.
- Vai correr tudo bem. – Mariana diz, chegando perto de Ana e tocando-lhe no braço.
Ana treme com o contato e Mariana sente, retirando a mão de imediato.
- Ana, nós somos amigas. Eu prometo que vou sempre respeitar-te. Isto é pelas nossas filhas.
Ana dá um sorriso fraco.
- Pelas nossas filhas. Sim. – Ana repete as mesmas palavras da mais nova, como se de um mantra se tratasse.
As duas ficam em silêncio a olhar uma para a outra por breves segundos – mas que para elas pareceu longos minutos – até que Ana corta a ligação e caminha em direção à porta.
- Onde vais? – pergunta Mariana
- Para o quarto. Parece que o sono está a chegar. – Ana mente.
- Oh. Claro, tudo bem.
- E tu? – pergunta Ana.
Ela ainda não sabia como seria daqui para a frente.
Certo, aquele era um relacionamento de fachada, mas para todos os outros era real. Elas teriam de agir como um verdadeiro casal. Fazer todas as coisas que um verdadeiro casal faz.
- Não te preocupes. Eu vou dormir no meu quarto. E acordo antes da Ceci e do Ro descerem para o café da manhã. Assim eles não vão dar conta.
Ana tenta não mostrar o seu semblante triste com as palavras da mais nova. Rapidamente acena com a cabeça e sem dizer mais nada, segue para o seu quarto.
Já no quarto, depois de ter tomado um banho e já estar deitada, a loira dá voltas na cama sem conseguir adormecer.
Lembranças do beijo, da doce textura dos lábios da Mariana, do seu coração a bater forte, da mecha de cabelo que colocou atrás da orelha da mais nova...
Alguma coisa tinha mudado dentro de si.
Algo que ela tinha começado a descobrir, mas que ainda precisava de entender.
E algo lhe dizia que a situação em que se encontrava não iria ajudar a consertar o estrago em que se encontrava o seu coração.
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El Hilo Rojo del Destino
Fiksi PenggemarEstava feito. Para o mundo lá fora Ana e Mariana eram um casal. Mas para as duas - e mais especificamente, dentro de cada uma delas - a situação era bem diferente. Como é que estas duas mulheres iriam conseguir levar isto para a frente, pelo bem das...