Prólogo

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—12 anos antes…

Uma mulher pelas areias douradas do deserto de Moradje caminhava.

Seus cabelos sedosos e escarlate balançavam com o vento forte que levantava a areia, obrigando a mulher a usar o seu braço de escudo sobre os olhos roxos atrás de um óculos de proteção circulares.

Seu corpo magro, coberto por trapos acastanhados pela poeira do deserto,  parecia que ia ser levado cedo ou tarde pelos ventos do deserto, e ela usava imensa força para ir contra o vento, firmando fortemente os pés que afundavam na areia dourada.

Retirou da cintura uma bolsa de pele cheia de água, sacando a rolha do topo dela, a virando toda sobre a boca aberta, derramando a água do interior dela dentro da boca.

— Estamos perto. — afirmou passando o antebraço sobre a parte inferior do rosto, limpando a água que escorria em seu queixo e lábios. — Eu sinto isso. — curvou a cabeça olhando para a sua grande barriga, passando a mão esquerda sobre ela, fazendo carícias circulares já imaginando o rostinho do seu neném que estava por vir.

Arrumou novamente a bolsa de água na cintura, continuando então a caminhar pelo deserto.

Quase não dava para visualizar nada a sua frente, apenas breves vislumbres de rochedos dourados espalhados pelo mar de areia.

Continuou seus passos firmes pelo deserto, até que fez uma pausa repentina ao visualizar um leve brilho verde ofuscado pela poeira logo adiante.

— Chegamos.

Avançou novamente, se maravilhando ao ver a poeira e o vento sendo dispersos assim que em fim alcançou a fonte de luz.

Ergueu a cabeça para alcançar com o olhar o brilho que flutuava no ar tomando um formato losangular. Olhou para os arredores fascinada ao visualizar aquela area que mais parecia um santuário, não sendo afetado pelo deserto e seu clima.

O chão era coberto por um verde e brilhante gramado, cercado por uma redoma esférica que mantinha longe o deserto e seus ventos.

— Eis-me aqui, senhor. — caiu de joelhos acima do gramado, elevando as mãos e a cabeça, encarando o brilho verde. — Por favor, diga-me… Diga-me que ouves esta mera mortal.

~ Já faz tempo que tento ler a sua alma para descobrir as suas motivações e objetivos, mas foi sem sucesso. Então diga-me, por que me procuras?

— Eu só tenho um único pedido, senhor, não por mim, mas pelo meu filho que a muito pede para vir a este mundo, mesmo eu tendo negado a ele este direito pelos últimos dois anos.

~ Isso é o que me espanta, um feto permanece por apenas três meses no ventre de sua progenitora e tem sido assim desde os primórdios. Então me diga, como você fez para mantê-lo vinte meses dentro de ti?

— Eu apenas sou uma mãe… Uma mãe com medo de trazer um filho para este mundo governado por demônios.

~ Huhu…

— Eu disse algo errado? — indagou chocada ao escutar a alegre risada vinda da voz que partia do brilho até alcançá-la.

~ Não, você não disse nada errado, é que por um momento me lembrei dos "Vendel".

— Eu queria ter conhecido eles… — baixou a cabeça cabisbaixa, triste pelo que os demônios tinham se transformado. — Os demônios de hoje não são nem um milésimo do que eles eram.

~ Pois é… Mas me diga, o que te trás aqui?

— Você com certeza já deve saber, mas eu fui estuprada por um demônio. — explicou tendo em seguida a confirmação da voz. — O meu filho é fruto deste estupro então certamente terá características demoníacas.

~ Ele será um híbrido de humano e demônio, então é inevitável que ele herde as características demoníacas.

— Exactamente. É por isso que eu vim até você, "Narrador". 

~ Você… — agora ela me surpreendeu, não era para ninguém deste mundo saber da minha existência.

— É, eu sei sobre você, e também sei que certamente você deve estar narrando a minha história em algum lugar. — ela estava certa, eu realmente estou narrando a história dela para você.

~ Esse é o meu trabalho… Mas não entendo onde você quer chegar.

— Eu quero que você pare de narrar a minha história. — hã? Como assim ela quer que eu pare? Ainda tem muito sobre ela que precisa ser sabido por todos.

~ O que você está dizendo?

— Quero que de agora em diante você narre a história do meu filho que está por vir, "Jack Kackson" é o seu nome.

~ Mas você…

— Eu só quero que você elimine qualquer característica física demoníaca que ele deveria herdar. — colocou ela num tom de negociação, para em seguida barganhar. — Em troca, você pode tomar a minha vida.

~ O que te faz pensar que a tua vida carrega tanto valor?

— Isso aqui. — me espantei quando ela ergueu o braço direito, onde segurava um caderno com a capa enferrujada, mesmo sendo papel: Um livro do destino. — Graças a isso eu já sei o que o destino me reserva e sabe, era para o livro me dar um meio de contornar aquele destino, mas sabe o que ele me disse?

~ Inevitável… — sussurei.

— Exatamente, um destino inevitável é tão importante para a realidade que o incumprimento dele certamente destruirá o mundo. — ela estava certa, ela é importantíssima para esse mundo, não, ela não é tão importante mas o seu destino é. — A vantagem de ser a portadora de um destino inevitável é que eu posso escolher até onde quero prosseguir e o mais importante, eu posso escolher passar ele para outro.

~ Não me diga que você…?

— É, eu quero passar o meu destino para o meu filho. — existem dois requisitos para passar o destino para outro: Encontrar o narrador e ter uma moeda de troca equivalente ao risco da destruição do mundo. — Como eu já disse, eu serei a moeda de troca, eu estudei tudo sobre os mundos e foi assim que aprendi a me esconder de você. Tenho conhecimento que você certamente irá querer.

~ Realmente existem restrições para o quanto eu posso saber…

— Então… Temos acordo?

~ É, temos sim… Que comece a história de Jack Kackson, o solitário caçador de demônios. — vamos ver o que esse garoto tem de tão especial para ela se sacrificar.

JACK KACKSON: O solitário caçador de demônios - [Saga Do Destino]Onde histórias criam vida. Descubra agora