Jack Kackson
—Nanazu, 01 de Gemia de 205
Exatamente 591 dias antes do fim.
Quase ninguém andava pelas ruas imundas de Nanazu, o céu estava inacessível naquele dia, escondido por detrás de densas nuvens negras que ameaçavam a vinda de uma forte tempestade.
O vento levemente forte soprava com teimosia arrastando consigo os pedaços de papel, plástico e folhas que estavam espalhados por todo o chão, já que fazia anos que os caixotes de lixo estavam cheios e ninguém fazia o mínimo esforço para tirá-los de onde foram inicialmente colocadas.
Animais abandonados de aparência desprezível perambulavam por entre os caixotes, cheirando todos os cantos em busca de algum alimento para conseguirem sobreviver àquele dia, e para o azar deles, eles ainda tinha que dividir o seu ponto com os sem-teto violentos que comiam tudo que era mascavel naqueles caixotes, até mesmo os animais vagabundos.
Com a cabeça abaixada, o único garoto que teve a coragem de desafiar as ruas mesmo com o céu ameaçando trazer uma tempestade caminhava timidamente, olhando unicamente para os seus pés que deslizavam pela estrada de pedra cheia de rachaduras e buracos cobertos por lixo e água, só para não mencionar os outros líquidos.
Chutou um papel amassado que surgiu diante do seu pé direito, tendo o azar de no mesmo momento o vento soprar ainda mais fortes, desembrulhando o papel que ele chutara.
O papel foi lançado contra o rosto do garoto, fazendo o mesmo perder a visibilidade de onde pisava, vindo assim a escorregar e cair.
O papel continuava colado ao seu rosto mesmo após ele tombar de bunda contra o chão. Se apoiando com ambas as mãos contra o chão para que suas costas não tocassem o chão, o garoto sequer tentou retirar o papel do rosto.
— Me desculpe… — sua voz aguda rasgou sua garganta no mesmo instante em que uma lágrima solitária escorreu pelo seu rosto direito. — Por favor!
O papel simplesmente voltou a se amassar sem o garoto ter feito nada, e caiu de volta ao chão.
O garoto se levantou, puxou da cabeça o gorro escuro que vestia, o usando para calmamente limpar a sua calça jeans escura.
— Preciso me apressar… — murmurou consigo mesmo, voltando a cobrir seus longos cabelos negros presos num coque no topo da cabeça. Caminhou dois passos, colocando seus polegares sobre a alça da mochila em suas costas, também escura, assim como a sua jaqueta também jeans e sua camiseta escolar.
_ por que eu me importo? _ questionou a si mesmo em pensamentos, tendo breves vislumbres do inferno que teria que suportar a partir daquele dia até os próximos sete meses, assim como nos cinco anos anteriores: A escola. _ Ninguém se importa… Vai ser novamente o mesmo de sempre.
Mordeu o lábio inferior com força suficiente para apenas causar dor e cerrou os punhos com força, cravando suas grandes unhas na sua pele fraca, se lembrando que já tinha um ano que não cortava quelas unhas, obrigado a mantê-las daquele jeito pelo seu carrasco escolar.
Virou seu rosto para a direita, fazendo seus olhos chocolate, assim como sua pele, mirarem o parapeito da janela de um quarto no quarto andar do prédio escuro num estágio avançado de degradação que ali estava.
_ Será que ali seria alto o suficiente para eu não sentir dor?
Baixou o seu olhar, notando diversos caixotes por baixo da janela.
_ Os caixotes provavelmente não ajudariam…
'Por que não tenta?
Arregalou os olhos ao escutar o sussurou em seus ouvidos, se virou de imediato para trás para apenas se deparar com o muro esburacado que cercava um edifício, voltando a novamente se virar para o prédio não mais vendo os caixotes de lixo, vendo apenas um ser humanoide chifrudo asqueroso parado no parapeito que ele observara anteriormente.
A pele do ser parecia estar derretendo e escorrendo pelo seu próprio corpo coberto por ferimentos e hematomas diversos deixando vários ossos a vista, inclusive partes do crânio.
'Vem, tenta!
O lábio do ser derreteu deixando os dentes escurecidos pela imensa podridão de fora, o olho do mesmo caiu e deslizou pela sua bochecha, deixando um buraco escuro no seu local de origem.
'Está esperando o quê? Avançar só te trará mais sofrimento, vem e encontre o descanso!
Os trapos que o ser vestia pareciam estar com o mesmo a vários milénios de tão desgastados que estavam. Tinha um par de chifres na sua testa e com seu olho dourado encarava fixamente o garoto que tremia freneticamente, se escorando na parede atrás de si para não desabar.
Aquele olhar que parecia ler a sua alma ao mesmo tempo em que fatiava a mesma, aquele sorriso cínico que parecia esmagar e reconstruir o seu coração só para novamente o esmagar, e aquela podridão sem igual, ele pensava que nunca mais veria aquilo, afinal já fazia cinco meses que não via aqueles seres, mas parece que ele estava enganado.
— Me deixa em paz! — colocou as mãos sobre as orelhas, apertando com força para nada escutar e fechou os olhos tentando esquecer tudo aquilo.
Se passaram alguns minutos com ele cobrindo os ouvidos e olhos, e nada escutou nem viu então decidiu abrir os olhos.
Não tardou a se arrepender quando viu a rua enfestada por outros seres semelhantes ao ser na janela, um mais sinistro que o outro, e até parecia uma competição sobre quem conseguia ser mais podre.
'Você nos pertence… Se quer ser livre só existe um caminho…
— Me deixem em paz!! — ordenou quando sentiu as mãos gélidas dos milhares seres sobre ele, vendo mais e mais se aproximando quanto mais seu corpo caía contra o chão.
'Só existe um caminho… MORRA!!
Todos os seres gritavam em simultâneo enquanto uns o agaravam e outros se aproximavam, enchendo o peito do garoto de desespero enquanto agarava a sua cabeça.
Seu corpo não parava de tremer e sem querer acabou mijando em si mesmo, soltando gritos de desespero que não eram escutados por ninguém, nem por ele.
Chacoalhou seu corpo para tentar afastar os braços dos seres mas era em vão, sentiu garras rasgando suas costas e pernas enquanto sua cabeça parecia ser esmagada.
Sua respiração começou a falhar e seu coração ficava mais lento quanto mais seu desespero crescia.
Ele não entendia, já tinha visto os seres diversas vezes mas ele sempre fugia para algum lugar, os seres sempre aparentaram apenas observá-lo e nunca atacavam, ele era o único que via eles então acreditou que eram apenas frutos de sua mente conturbada afinal, "Demônios não existem", pelo menos é o que todos diziam.
Não mais sentia seu corpo, era como se tivesse sido jogando num posso de trevas, até que novamente sentiu as mãos gélidas deslizando pelo seu corpo.
— ME DEIXEM EM PAZ!!! — sua voz finalmente saiu, mas tinha algo estranho, ele parecia sentado em uma cadeira.
— JACK KACKSON!!! — abriu os olhos de supetão quando reconheceu a voz, se deparando com sua professora de matemática ao mesmo tempo em que a turma explodiu em gargalhadas. — PARA A SALA DO DIRETOR, AGORA!
— Hã? — soltou incrédulo e confuso. — O que aconteceu? Como eu cheguei aqui?
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JACK KACKSON: O solitário caçador de demônios - [Saga Do Destino]
ParanormalNesta terra governada por demônios, os quais todos desconhecem, ou simplesmente preferem fingir desconhecê-los, ele nasceu. Fruto de um estupro. Essa é a forma rápida de o descrever, afinal é exatamente o que ele é, um fruto de um estupro. Só que is...