A coletânea que ninguém esperava

tic-tac (09/06/2017)

Viver a partir daquele tic-tac constante do relógio, ver tudo a sua volta se modificando totalmente, menos você.

Você ainda está preso naquela caixa de vidro, vendo o mundo correr ao seu lado, mas você vive parado, apenas observando, e deixando a caixa se tornar cada vez mais escura e mais sufocante.

O tempo passa, o relógio continua em seu ritmo constante, o tic-tac calculando o quão próximo de seu fim você está, e você apenas se senta e espera com que ele pare.

A caixa vai se tornando cada vez menor, o vidro antes brilhante e totalmente incolor, agora era embaçado e escuro, tirando toda a sua visão do lado de fora.

E então você sente a solidão, o fato de estar sozinho com aquele relógio, você se encosta no canto da caixa e finalmente desaba, as lágrimas liberam toda a decepção que sente de si mesmo por não ter conseguido escapar da caixa. Ninguém pode ouvir seus soluços, e você continua lá, com a caixa diminuindo cada vez mais esperando que o relógio pare logo.

Mas você se cansa de se apertar naquele vidro escuro quando ele passou a comprimir seu corpo, você pega o relógio em suas mãos, cansado de tanto esperar, respira fundo e cria coragem de quebrá-lo, o forçando a parar.

A caixa se desfez, o relógio parou, e você chegou ao seu fim.