❝ Apesar do emprego pouco
convencional, o salário era
bom o suficiente para fazê-la
suportar a moradia um tanto
angustiante.
Mas quando vê algo que nã...
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Banhando-se no sol ameno que fazia esta tarde, encontrou dificuldade em pensar no que fazer. O clima agradável estava sendo desperdiçado por seu humor cansado – mesmo que cansada de não fazer nada –, e as horas que parou sentada na cadeira perto da janela só asseguraram o desgaste de seu corpo; tal como o do homem que a observa por todo esse tempo.
"Estou entediada, Brahms." Reclamou para o boneco após um longo momento de silêncio, incomodada.
Já tinha feito café da manhã, escutado música, almoçado, feito a leitura, e até andou um pouco com o boneco ao redor da casa. Mas com tanto tempo de sobra entre as regras básicas, só lhe restava limpar a casa e as ratoeiras lá de fora, mas com a louça limpa, seu quarto arrumado, e os ratos coletados, se viu olhando para o nada com tédio.
Não tinha sinal na casa, e nem uma televisão para se entreter – estando sozinha, tal tédio vira angústia. Afinal, enquanto olha para Brahms, refletindo sobre o que fazer que não seja sair para a cidade, já que corre o perigo de Malcolm ver e contar aos Heelshire, escutou um ganido fino vindo de uma das paredes atrás de si, como madeira sendo pisada ou talvez uma porta velha e barulhenta abrindo.
Sua respiração engatou, e o coração disparou na hora. Parou quieta, ainda encarando Brahms intensamente, quieta e com medo de se mover e alguma coisa acontecer. Sabe que provavelmente é apenas paranoia, afinal, obviamente uma casa velha faz barulhos estranhos apenas com o bater do vento, principalmente com animais invadindo; ao menos, é assim que tanta se acalmar, já que existem armadilhas para todo tipo de animais e pragas ainda fora da casa.
Mas foi quando outro som como esse foi ouvido a distância, tão baixinho que mal chegava a seus ouvidos mortalmente atentos, que saiu do torpor amedrontado e fechou os olhos, suspirando trêmula. Basta desviar a mente disso, você sabe que são sons normais. É só não pensar nisso, é só arrumar uma forma de pensar em outra coisa-
"Talvez eu possa lavar a roupa antes de virar a semana." Disse de repente para o boneco, quase desesperada para se ocupar e não sentir a sensação de terror lentamente se arrastando em seu coração. Já faz praticamente um mês. Se esses barulhos significassem algo, teria ocorrido algo mais cedo – assim espera. "Talvez pudéssemos ouvir um pouco mais de música enquanto isso? Bem alta, do jeito que você gosta." Continuou a conversa, apesar de ainda observar o boneco como se estivesse à espera de algo.
Talvez com medo de se levantar e ver que o barulho que jurava ter ouvido não era de animais. De ter algo atrás de si, esperando você se virar.
Sua hesitação perdurou até que inspirasse profundamente, e com a voz mais baixa e derrotada, repetisse a frase anterior como se estivesse desistindo da ideia. "Talvez devêssemos. Ou não… Está bom aqui. Falar com você também é legal, sabia? Mesmo que você não me responda nunca." Sorriu nervosamente, apoiando o rosto no meio dos braços acima da mesa com um bufo audível e nada feliz, sem saber que outro alguém que havia se animado com a ideia de ouvir mais música não gostou nada de sua repentina mudança de ideia – e sem saber o que exatamente fazer para mostrar isso sem se mostrar, visto que você sempre leva a regra de não sair de perto do boneco a sério demais, Brahms grunhiu baixinho atrás daquela fresta antes de levantar a cabeça, deixando-a apontada para cima.
