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PALAVRAS; 4,417

Houve aquele dia da semana que você acordou com uma música suave tocando, e sem Brahms nos braços

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Houve aquele dia da semana que você acordou com uma música suave tocando, e sem Brahms nos braços. Foi alguns dias após passar horas conversando com Malcolm e após ignorar as ações do homem na parede, que por motivos ainda misteriosos passou a mover o boneco pela casa e a deixar bilhetes junto dele como se o próprio Brahms os tivesse escrito. 

Ler as cartinhas te trouxeram novas teorias sobre quem seria esse homem, mas ao mesmo tempo não queria acreditar nelas, por mais difícil que isso. Porque uma carta dizendo que você estava sendo paga pelos pais dele para seguir as regras e amá-lo não aliviava sua mente da possibilidade daquele homem ser o próprio Brahms; mas quão loucos poderiam estar aqueles velhos para colocar o filho para viver dessa forma por tanto tempo?

Seu limite chegou esta manhã, quando para além de bilhetes exigindo não só que siga as regras, como também adicionando detalhes envolvendo carinho a elas, havia música tocando e ao lado do boneco sentado acima da mesa na cozinha, uma bandeja com um sanduíche mal feito e ovos quase queimados. Você não iria comer isso, não sabendo quem fez. 

"Eu sei que você está aí." Disse alto o bastante para sua voz sobrepujar a música baixa e possivelmente passear por dentro das paredes. 

Seu coração já estava disparado somente com a irracionalidade da decisão que tomou, mas não aguentaria ir mais longe com isso; ignorar a existência de um homem claramente doente da cabeça agora que não tem mais tanto medo só não parece mais ridículo do que confrontá-lo e possivelmente morrer. Mas nem a fortuna que está ganhando faz isso valer a pena, afinal, do que vale tanto dinheiro se está presa a esta casa por sabe-se lá quanto tempo, sem poder gastar?

Mas o silêncio que se seguiu não foi ao todo tão agradável. Você meio que esperava ele quebrar uma parede gritando que já sabia, que tinha te visto, e então te matasse, mas foi recebida por nada além da batidinha melódica do vinil. Nem mesmo o som de madeira escutou, mas sabe que ele está lá, a última semana inteira passou tão atenta aos passos dele, que seria impossível não saber que a intenção desse homem era lhe assistir comer essa manhã – quem sabe tenha veneno na comida?

"Eu já vi você. Entrei pela abertura do meu quarto, então se está fingindo alguma merda, já pode parar." Disse outra vez, girando lentamente para olhar ao redor do cômodo, encarando diretamente as paredes. "Eu te vi naquele projetinho de casa, e ouvi andando por aí há uns dias. Porque só não me diz o que quer, hein?!" Sua voz aumentou ligeiramente, junto a batida acelerada de seu coração. Seu corpo tremia. 

Passaram-se dez, trinta segundos, e nenhum outro som foi ouvido. Mas então a música do Vinil terminou, e sem ter sido posta em loop, o silêncio reinou no cômodo até que um rangido chamasse sua atenção, fazendo o barulho de seu coração soar mais baixo enquanto focava no som vindo de dentro das paredes. Virou a cabeça de uma vez para a direita, de onde os rangidos estavam soando, e aguardou com a boca seca. Os sons pararam, e mais uma vez passaram-se longos e agonizantes segundos silenciosos.

𝗦𝗘𝗝𝗔 𝗕𝗢𝗠  ≈  Brahms HeelshireOnde histórias criam vida. Descubra agora