O domingo amanheceu triste, chuvoso e frio. Yuri estava com o olhar perdido no café da manhã e eu não quis incomodá-lo. Na hora do almoço, não o vi.
Com as fadas derrotadas, todos estavam animados para o sabá que aconteceria ao anoitecer, mas eu não estava. Estava pensando na dor que ele sentiu ao ver o pai daquele jeito. Tentei encontrá-lo durante a tarde, mas sem sucesso, então me recolhi para os preparativos para o evento.
A noite chegou e com ela o frio aumentou. Vesti meu vestido negro de mangas compridas e botas. Coloquei meu chapéu e saí para encontrar com minha mãe. Pouco havia sido explicado, mas eu entendi que o pai dele tinha se perdido na magia negra, coisa extremamente proibida para nós. Minha avó morreu bravamente, não amenizava a dor de perdê-la, mas com o tempo eu sabia que a dor se transformaria em saudades.
Durante o ritual, ele se manteve distante, não falou com ninguém, mesmo as pessoas falando palavras de consolo e o abraçando, eu notava a distância em seu olhar. Apenas em um instante, vi que ele me olhou e depois voltou a encarar o chão ou a paisagem.
Naquele momento, minha mãe e eu não conversamos sobre a falta que minha avó fazia, mas não era preciso, nós nos pegávamos olhando ou cheirando algo que havia sido dela, lágrimas escorriam durante o banho e abraços eram dados nesses momentos. Apesar do silêncio, o amor e a dor eram compartilhados entre nós.
O jantar, após o ritual, foi feito na hospedaria mesmo. Eu agradeci a deusa, pois estava muito frio para caminhar pela rua. Fora, é claro, o medo que ainda pairava em meu peito.
— Yuri não consegue comer direito desde o ... o que aconteceu... — A mãe dele nos acompanhava à mesa. Ela engasgou ao recordar-se da batalha e, provavelmente, daquele que havia sido seu marido. — Sinto muito pela sua avó! — Ela se virou para mim e sorriu, pegando em minha mão.
Apenas sorri de volta.
— Aliás, Yuri pediu para que eu lhe falasse para ir ao nosso quarto após o jantar. — Ela se virou para minha mãe, mas não encontrou alguém a quem pudesse pedir permissão. Minha mãe encarava, estática, o prato. — Vá conversar com ele, eu faço companhia a sua mãe. — Virou-se para mim novamente, dando um leve aperto em minha mão.
— Vou sim — respondi.
Eu queria muito saber como ele estava. É claro que estava mal, isso é visível, mas queria lhe dar um abraço e queria receber um. Nós dois perdemos alguém importante naquela noite.
— Posso entrar? — perguntei ao notar a porta entreaberta.
— Sim, entre, Ane! — Ouvi a voz de Yuri de dentro do quarto.
Ele estava deitado em sua cama com um pijama do Star Wars.
— Que a força esteja com você — eu disse ao olhá-lo. Ele sorriu e levantou-se.
— Ah, temos mais uma coisa em comum, então, pequena jedi. — Fez sinal para que eu me sentasse ao seu lado.
Primeiramente, fiquei receosa. Afinal, estávamos sozinhos em um quarto, mas eu tinha certeza de que não seria por muito tempo; a mãe dele logo apareceria.
Caminhei até sua cama e sentei-me próxima a ele.
— Queria ter dito antes, mas eu não estava bem... — Yuri segurou em minha mão. — Sinto muito pela sua avó. — Seu semblante era de pura tristeza.
— E eu sinto muito pelo seu pai.
Não voltamos a falar sobre aquela noite. Passamos a noite conversando sobre filmes e séries que tínhamos assistido. A mãe dele apareceu logo, como previsto, mas ao nos ver falando sobre heróis, sabres de luz e elfos, entendeu que não havia risco em nos deixar sozinhos, mas ela estava "errada". Em meio a risos e discussões sobre a real utilidade de uma toalha, recebi bem mais do que o abraço que desejava; ganhei meu primeiro beijo.
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Fadas da Lua
FantasyConto* Sinopse: Para Ane, fadas eram os seres mais mágicos e puros dos contos de infância. Elas eram perfeitas e bruxas eram feias e corcundas. Mas ao entrar na adolescência, Ane descobre que é uma bruxa, assim como a mãe e a avó. Próximo ao S...