Capitulo 1

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        Acordei com o barulho das sirenes, um sistema implantado em cada rua da cidade, programado para tocar em três horários ao longo do dia, às 6 horas da manhã, ao meio-dia e a meia-noite. Ainda deitada na cama, pego o meu celular que está acima da minha cabeceira, há três mensagens de Megan, minha melhor amiga, ela passou o último mês inteiro falando sobre a colheita, o que justifica o "Bom dia, Emma!", "Está na hora, precisamos nos preparar para o grande dia" e "EMMA?? Se você faltar a aula, eu juro que levo a polícia na porta da sua casa"; sim, ela é muito ansiosa, mas é uma das poucas pessoas que me dou bem na faculdade de medicina, e hoje não será um dia acadêmico.

Levanto da cama e vou direto para o banheiro, escovo os dentes, tomo um banho rápido, separo uma calça jeans e uma regata, passo o olho pelo meu jaleco que está perfeitamente dobrado e lembro o quando mamãe ama mais este curso que eu. Vislumbro meu reflexo no espelho, tenho cabelos castanhos escuros, e um pouco ondulado, algumas mechas estão caídas em meu rosto, revelando o contraste com meus olhos verdes, e minha boca rosada, herdei os traços do meu pai, logo que, minha irmã, puxou os cabelos loiros e olhos castanhos da minha mãe. Meu celular toca novamente e sei que é uma mensagem de Megan, então me apresso em descer as escadas, tomar um café rápido, pegar a minha bolsa e sair de casa.

— Cinco minutos, Emma... — disse Megan me puxando pelo braço e me arrastando para o ginásio onde estava ocorrendo o treinamento — se o diretor Emmett não nos advertir, as autoridades com certeza vão!

— São apenas alguns minutos, provavelmente a maioria dos alunos ainda nem saiu de casa — falo — relaxa...

Mas é claro que eu estava enganada, o ginásio estava lotado de universitários e um bando de militares e soldados distribuídos pelo local. Em um grande palanque, um homem, de cabelos pretos, pouco grisalhos, vestindo uma farda estava se pronunciando.

— Serão três etapas... — disse ele — primeiro, todos iram preencher os dados de presença, depois, completar o teste e por último, entregar o resultado na recepção...

Megan me deu um cutucão nas costelas e murmurou no meu ouvido.

— O que você estava falando mesmo?

Revirei os olhos e botei a língua para Megan. Senti um leve brilho nos olhos dela ao ver aquele gesto, e um arrepio subiu pela minha barriga, sabia que aquele olhar era mais que amizade, tinha desejo ali, era o mesmo jeito que eu olhava para as mulheres e os homens que eu ficava, algo momentâneo, mas vi aquele brilho nos olhos de Megan pelo menos no último semestre inteiro. Lógico que ela nunca fez mais que isso, me olhar de canto, sorrir para mim enquanto pensava que eu não estava olhando ou segurar minha cintura forte demais às vezes. Megan é linda, seus cabelos curtos batem no ombro, e o loiro deixa suas bochechas mais rosadas, o sol deixa sua pele mais bronzeada e o seu sorriso fica mais bonito quando estamos uma na casa da outra. Mas ela é minha amiga, e não quero partir o seu coração.

— Emma? — chamou Megan tocando o meu ombro — pare de fazer essa cara e preste atenção no general Rohn.

— Ah, sim — falo ainda um pouco atônita em meus pensamentos.

— A colheita será feita da forma mais confortável possível — o general Rohn pegou uma caixa cheia de ampolas com um líquido azul vibrante — se reagirem aos estímulos deste líquido, tanto no Setor Ar, quanto em qualquer outro, serão identificados e revogados pelo continente e o governador mais disposto irá recebê-lo.

"Não há o que temer, e não há nada que conseguirão esconder, amanhã suas verdadeiras identidades serão reveladas e qualquer um, sem exceção, que não comparecer ou de alguma forma interferir no teste, será punido, e imediatamente sentenciado ao castigo mais adequado para seu crime, desde prisão a sentença de morte, então se preparem, e desejo-lhes uma boa colheita."

Aquelas palavras reverberaram pela minha espinha, é evidente o desejo de que jovens com dons sejam revelados e ainda mais, um elementar, descoberto, por mais que esta espécie não passe de boatos ou especulações, visto que até hoje nenhum foi descoberto. Não tive tempo para dirigir nenhuma palavra a Megan e os soldados já estavam dispensando os alunos, olhei meu celular e já apontavam quase 10 horas da manhã.

— Acho que vou para casa, nenhum professor vai dar aula um dia antes da colheita — digo para Megan — querem que os jovens se preparem o máximo possível, mamãe e papai estarão fora a tarde inteira e Julie está na casa de uma das amigas dela...

— Então encontro você hoje à tarde... — disse Megan antes que eu pudesse dizer mais alguma coisa — na sua casa.

— Ok, combinado — assenti e recebi um sorrisinho em troca.

Megan e eu já estávamos fora da universidade tão rápido quanto o abraço de despedida e o beijo que Megan me deu no rosto, com um breve murmúrio de que nos veríamos mais tarde.

Devasta-meOnde histórias criam vida. Descubra agora