XVII

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ENQUANTO EU GUARDAVA OS VINHOS que não foram abertos na adega eu olhei para a janela e pude ver Camila lavando a louça na cozinha. Me encostei e fiquei observando ela alguns instantes. Estava tão calma que nem parecia a mulher que estava nervosa no começo do dia.

A nossa história era conturbada e isso eu sabia admitir, mas havia uma beleza em meio a tanto caos. Meu coração acelerava sempre que pensava nela, como se eu ainda fosse uma adolescente boba e apaixonada. Camila tinha esse poder sobre mim. Um poder que ela nem sabia que poderia existir.

Eu faria de tudo para fazê-la feliz.

E agora a gente conseguiu uma segunda chance e eu sabia que ambas iriam se dedicar a isso.

Eu suspirei e sai da adega indo em direção a cozinha.

Eu cheguei e abracei ela por trás, enquanto ela secava uma xícara.

- E aí? - ela falou.

- Você sabe quando foi o momento em que eu me apaixonei por você?

Ela deu uma risadinha.

- Não. - E lavou um copo.

- No primeiro dia em que eu entrei na empresa, eu vi uma linda mulher na copa. Era você. Lavando a louça. E naquela época, eu pensei... se apenas essa garota lavasse minhas louças para o resto da minha vida, isso seria muito romântico.

Ela riu.

- Na verdade não!

- Sim, é muito romântico - eu argumentei rindo.

- E então você sabe... Quando eu me apaixonei por você? - ela me perguntou.

- Sim... Na cama.

- Ninfomaníaca! - Ela me jogou água, rindo e me dando um beijo na bochecha. - Um dia, depois do trabalho... Eu esqueci minha bolsa no escritório, então eu voltei. - Eu tirei uma mecha do seu cabelo do rosto e dei um cheiro. - Quando eu cheguei lá, as luzes estavam apagadas, no escuro, eu ouvi alguém cantando "Unchained Melody" e era você.

Ela se virou para mim.

- Não - eu disse.

- Tinha que ser você - ela disse. - Eu vi você.

- Definitivamente não fui eu, eu não canto.

Ela parou e me encarou.

- Eu vi você.

- Não, não era eu. Não era eu.

- Sério? - ela perguntou triste e eu dei um urro assustando a.

- OH, MY LOVE... MY DARLING... - ela deu uma gaitada alta, enquanto eu a abracei. - Eu não posso cantar mais alto.

- Você me assustou!

- Tudo bem, eu lavo a louça - eu disse.

- Okay, você faz isso.

Eu a puxei e dei um beijo.

Ela logo me correspondeu, envolvendo suas mãos na minha nuca. Era um beijo lento e demorado, mas logo se tornou mais urgente e rápido, enquanto íamos para trás, eu tinha a certeza que as louças ficariam para o dia seguinte.

The Stolen YearsOnde histórias criam vida. Descubra agora