Reunião de trabalho - Parte 01

5.5K 49 5
                                    

Por Paulo:

Detesto reuniões presenciais. Na verdade, eu odeio reuniões, só odeio mais as presenciais. É tão mais fácil escrever um e-mail com uma apresentação do meu trabalho. Quando comecei a trabalhar em home office pensei que teria paz em casa, trabalharia sozinho, sem o risco de ser atrapalhado pela maldita timidez. Infelizmente as coisas não são assim, já que esses clientes fazem tanta questão de me ver e falar comigo e me vejo às vezes saindo de casa para encontrar as pessoas e arriscar gaguejar e travar na apresentação para ninguém querer meu trabalho de novo. Eu quase entro em pânico em situações assim. Um dia eu tive que ir à casa de uma cliente apresentar a proposta de marca para a empresa nova que ela vai criar com as amigas. Parece que elas não tinham escritório ainda e a reunião seria na casa dela. Até que o prédio era bonito. Arquitetas deviam morar bem, pelo visto. Talvez eu devesse ter seguido o conselho da minha mãe e feito arquitetura ao invés de design.

Bom, eu falei com o porteiro procurando por Débora. O senhor da portaria me liberou e segui até o apartamento dela. Após apertar a campainha me atendeu uma morena com um rosto tão jovem que é difícil acreditar que já era uma arquiteta formada. Eu a chamo pelo nome e ela ri de um jeito debochado, o que me deixou ainda mais desconfortável. Então ela me diz ser a Luana, estagiária da Débora e que sua chefe estava em uma obra no mesmo prédio e logo estaria aqui. Me conduziu a um sofá na sala onde eu esperaria. A sala era grande, com um longo sofá em "L" à frente de dois vãos de janelas compridos, escondidos por cortinhas. Luana vestia uma saia jeans exibindo as grossas pernas e a blusa tinha um decote que eu me esforçava para não olhar. Depois do riso debochado na entrada ela até estava simpática se mostrando animada com o escritório que a chefe dela criaria com as amigas. Ela estava decidida a se matricular numa faculdade de arquitetura que tem aqui no bairro.

Eu percebia que ela me olhava maliciosamente às vezes, e em alguns momentos ela olhava minha aliança. Gostosa desse jeito ela provavelmente era sempre os centro das atenções a ponto de escolher a dedo os homens com quem ela fica. Devia estar se perguntando como um homem sem graça como eu consegui casar-se com alguém, sem imaginar que milagres acontecem. De qualquer forma o jeito como ela me olhava e sorria me incomodava e quanto mais tempo eu esperava para minha cliente chegar e apresentar meu trabalho, mais desconfortável eu ficava. Eu não tinha assunto para conversar com aquela menina e a maior parte do tempo de espera foi em silêncio. Ahh, como eu queria a Berenice comigo. Ela conseguiria conduzir as conversas enquanto eu ficava quieto no meu canto falando só o estritamente necessário.

Após longos e torturantes minutos a minha cliente finalmente chegou. Era loira, tinha os cabelos lisos e vestia um terno bege, bem elegante. Tinha uma expressão preocupada e assim que entrou na sala foi logo falando qualquer coisa com a Luana, que a fez sair com pressa. Só então ela falou comigo, abrindo um sorriso que me fez ficar perdido nele em alguns instantes. Foi minha primeira hesitação. Logo no primeiro instante, que droga!

Ela devia estar acostumada a homens bobos perto dele e fingiu que não reparou e me conduziu até a um escritório bem espaçoso com uma mesa de trabalho, uma prancheta e uma pequena mesa de reuniões. O apartamento dela realmente era grande, para se dar ao luxo de ter um espaço desses. O meu home office é na sala, com direito a ter a Berenice andando pelada pela casa me distraindo. Não que achei isso ruim.

Comecei apresentando a marca que criei para elas. Foi um trabalho difícil, pois elas ainda nem tinham um nome para a empresa. Como às três se chamavam Débora, Daniela e Lorena, sugeri o nome De.Da.Lo. fazendo referência ao mito grego que construiu o labirinto do Minotauro. Era arriscado me meter na escolha delas, mas eu precisava de um nome para trabalhar, se elas não deram, eu criei um. Para minha sorte ela adorou o nome e seu sorriso ficou ainda mais cativante. Me perdi naquele sorriso mais uma vez e vi que só conseguiria continuar apresentado se olhasse para baixo. Segui explicando a escolha das cores e a logomarca que criei, mas sempre olhando para os papéis impressos e eventualmente gaguejando. Depois que eu me desconcentro assim eu não consigo mais me expressar direito. Odeio isso!

Contos do Bairro Velho - 02Onde histórias criam vida. Descubra agora