A mulher tatuada - Parte 1

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Na manhã daquele dia um certo casarão tinha as portas fechadas no Bairro Velho. Normalmente se veriam alunos enfileirados repetindo movimentos de chutes, socos e joelhadas acompanhados de gritos que pareciam empurrar os movimentos. Naquele dia era diferente. Os portões de ferro na parte debaixo estavam fechados, não havia treinamento das turmas de Laura. Desde que fundou sua própria academia, a lutadora tem se tornado uma referência em artes marciais na região, sendo bastante procurada. Apenas naquele dia não havia aula nem gritos e nem alunos repetindo movimentos a exaustão. Quem passasse pela estreita calçada de concreto em frente ao portão fechado poderia ouvir alguns sons de algo sendo batido. Em alguns momentos a batida era violenta, acompanhada de grunhidos furiosos. Era um som que não competia com os carros passando pela rua e os demais barulhos da cidade, nem com o som de uma moto se aproximando e estacionando em frente ao velho casarão.

Daniela era arquiteta que trabalhava por conta própria. Quando veio o convite para trabalhar junta a suas amigas Lorena e Débora, ela viu a oportunidade de ter uma frequência de trabalho maior, sem sofrer com os períodos com ou sem trabalho a que estava acostumada. Naquele dia, visitou uma cliente, para quem ela fora indicada por uma aluna. Era a primeira vez sendo chamada para reformar uma academia de luta e esperava-se ser seu último trabalho antes de ingressar no novo escritório. Chegou de moto pela manhã, no dia e horário combinado com a cliente por não ter aulas por ali. Era o horário de treinamento da própria.

Daniela estacionou a moto e desceu carregando seu capacete. Tinha os cabelos pretos, liso e não muito longos. Vestia uma camiseta regata preta sob a jaqueta de couro e uma calça jeans que destacava as formas do seu quadril, que atraíram olhares dos homens em volta apesar de ela fazer questão de ignora-los.

Ao se aproximar do portão os sons das pancadas foram ficando mais fortes e intrigantes. Um dos portões de ferro fechados possuía uma porta menor, entreaberta pela qual Daniela passou com cuidado, sem fazer nenhum barulho. A visão de Daniela era de uma loira com os cabelos trançados acertando um saco de pancada violentamente. A blusa preta, justa ao corpo, estava ensopada de suor. O short deixava as grossas pernas expostas. As luvas, também pretas envolviam as mãos enquanto eram amassadas em socos contra o saco. Laura, desviou o foco por um brevíssimo momento, apenas para dizer a arquiteta que já terminaria e que não se deveria pisar de botas no tatame.

Daniela tirou as botas e as deixou em um canto junto ao capacete. Ao tirar a jaqueta, revelou uma longa tatuagem tribal que cobrar todo o braço direito. Ela permaneceu de pé, descalça sobre o tatame observando a lutadora desferir golpes pesados contra o saco. Tinha uma atenção especial as suas pernas, grossas, que com o giro do quadril geravam um impacto explosivo ao acertar o saco de pancadas. Daniela não imaginava que o corpo humano produzia tanta força ... e que corpo...

Depois de uma sequência impressionante de chutes pesados, Laura terminou o seu treinamento e cumprimentou a arquiteta que contratara. Ela explicou o que queria: uma renovação total do interior buscando atrair novos alunos. Daniela perguntou tudo sobre a rotina de treinos e os equipamentos usados buscando ter a melhor impressão possível de como funciona uma academia de luta.

Laura queria mais sacos pendurados nas paredes para ter mais alunos treinando, mas Daniela advertiu que, pela natureza das artes marciais e os diversos movimentos que fazem, não era seguro aproximar os sacos. Se fosse o caso de aumentarem a quantidade de alunos ali, seria necessário desmontar o octógono montado no fundo do salão. Laura não gostou da ideia.

Daniela buscava explicar a sua cliente as coisas que seriam inviáveis de fazer. Ela se mantinha irredutível em alguns pontos e negociava outros e gradualmente as duas construíam o layout ideal da academia. Chegaram a conclusão de manter o octógono no fundo, e distribuir mais sacos nos pilares no interior do salão. A arquiteta mantinha o profissionalismo discutindo o projeto enquanto evitava olhar o corpo suado da lutadora. Laura suava e falava ainda um pouco ofegante. Já não calçava as luvas, mas as faixas ainda envolviam as suas mãos. A blusa colava em seu corpo a ponto dos músculos do abdômen ficarem evidentes, assim como o busto mediano. Daniela tentava não olhar esses detalhes, assim como os músculos dos braços ou as coxas grossas. Tentava focar sua atenção aos olhos da loira enquanto conversavam e lentamente a expressão séria foi ganhando tímidos sorrisos.

Contos do Bairro Velho - 02Onde histórias criam vida. Descubra agora