Capítulo 1 A chegada

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A tarde estava chuvosa e quieta, o céu cinza da chuva ocultava o cinza da poluição, mas o local era agradável, não muito distante de inúmeras mansões, casas luxuosas e lindas, no horizonte era possível ver os prédios muito altos e tecnológicos do centro, mesmo relativamente perto, estavam extremamente distantes.

Descendo do ônibus junto a inúmeras crianças de várias idades, Rolli sentiu o clima do novo lar, era extremamente requintado por fora, o prédio vintage de estrutura em estilo antigo estava em estado impecável, paredes brancas ornamentadas e altas janelas com grades que se retorciam e formavam desenhos elegantes.

Ele não sabia o que deveria sentir, estava apenas existindo e aceitando a mudança assim como as outras crianças. O orfanato anterior tinha sido desativado, pois o nível de contaminação de radiação da área tinha chegado a um nível que até mesmo os ricos não iriam ignorar, era o que estava acontecendo com a maioria dos orfanatos que as pressas depois da guerra tinha sido construídos em qualquer lugar para abrigar todas as crianças que sobreviveram aquela terrível época.

As crianças seguiram em fila indiana em direção as portas do prédio, eram lideradas por um robô humanoide alto e cinza, não havia nenhuma tentativa nele de se mostrar amistoso ou parecido com um ser humano, afinal, todos os robôs que eram de orfanatos eram antigos robôs de guerra, feitos para ser uma máquina implacável de matar, mas que após a quinta guerra mundial tinha perdido seu propósito e ganhado outro totalmente diferente.

Rolli era o quinto da fila e mesmo sem olhar para trás, sabia que havia outro robô seguindo atrás de todos. A caminhada até o interior do prédio foi lenta e constante, cada criança tinha de parar na recepção onde um robô colocava uma pulseira em um de seus pulsos.

O pequeno garoto de doze anos estendeu seu braço magro e frágil, os dedos gelidos do humanoide o tocaram, não machucava, mas não havia sentimento nenhum naquilo, os olhos da máquina era duas lentes negras, não havia boca, apenas uma fina saída de som reta. A pulseira foi fechado e ajustou-se automaticamente no pulso de Rolli, mas sem apertar. 

Ele então seguiu adiante na fila, subiu uma escada a direita e pode passar por uma janela onde gotas de chuva atingiam o vidro, produziam um som relaxante, ele realmente quis sentir algo.No corredor do primeiro andar com paredes cor creme foram guiados até uma pequena sala que havia várias cadeiras, cada criança que chegava sentava na próxima cadeira livre, sendo que haviam começado pela cadeira mais próxima a porta.

Rolli se sentiu desconfortável se sentando tão na frente, mas não tinha muita escolha, naquele momento sabia que não admitiriam nenhuma bagunça e ele não estava disposto a ficar de castigo no primeiro dia.

Quando todos estavam sentados e já com suas pulseiras já monitorando seus sinais vitais, uma mulher entrou na sala. Havia muito tempo que Rolli não via um adulto de verdade, que realmente respirasse. A mulher devia ter em torno de seus cem anos, mas obviamente tinha usufruído de toda tecnologia disponível, sua pele era extremamente alva e saudável, lisa e praticamente sem rugas, ela andava com a disposição de uma adolescente.A estranha parou diante de todos e forçou um sorriso que mostrou que tinha todos os dentes e era tão brancos que podiam cegar.

- Quero lhes dar boas vindas ao Orfanato Central, imagino que estejam cansados da viagem, mas aqui seguimos rigorosamente o protocolo, terão de passar por uma revisão médica, o que levará o resto da tarde, em seguida poderão comer e enfim dormir. 

Ela fez uma pausa como se algum deles pudesse comentar ou perguntar, mas todos sabiam que não podiam.Rolli hora ou outra encarava os dois robôs parados atrás da mulher, como se a qualquer momento fosse tomar uma atitude repentina, como gritar, sair correndo ou puxar o implante de cabelo caríssimo dela.

Coração de ferroOnde histórias criam vida. Descubra agora